Contenha seu otimismo, o G7 vem aí.
Foto: Oliphant/Creative Commons.
Análise das metas de corte de emissões do clube dos
países ricos mostra que seu esforço não passa nem perto da meta de conter
aquecimento em 2o Celsius.
Por Claudio Angelo, do OC.
No que depender do G7, o clubinho das nações mais
ricas do mundo, a Terra está num caminho decidido de esquentar bem mais do que
2 graus Celsius. A primeira análise do impacto das metas de corte de emissões
propostas por esses países mostra que, em 2030, eles terão cumprido apenas 30%
do necessário para evitar que o aquecimento ultrapasse o limite considerado
seguro pela ciência.
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira,
antecedendo a reunião do G7 na Alemanha, que deve ter entre seus temas
principais o acordo do clima de Paris, a ser fechado no fim deste ano. Uma das
autoras da análise é Márcia Rocha, uma brasileira radicada na Suíça,
pesquisadora do think tank europeu Climate Analytics.
Segundo o estudo, a soma das INDCs (Contribuições
Nacionalmente Determinadas Pretendidas) já anunciadas pelo G7 e pela União
Europeia, mais a proposta do Japão, anunciada pela imprensa mas ainda não
formalmente submetida à ONU, deixará em 2025 um “buraco” de 7,6 bilhões de
toneladas de CO2 que precisariam ser cortadas por esses países para colocá-los
no caminho dos 2 graus Celsius. Em 2030, esse buraco será de 7,8 bilhões de
toneladas.
Apesar da clara insuficiência, Rocha e seus colegas
reconhecem que o novo esforço é, por assim dizer, melhor que nada. Representa
avanço em relação às metas voluntárias que os membros do G7 apresentaram em
2010, no malfadado Acordo de Copenhague, e que guiam o combate ao efeito estufa
até 2020. As políticas atuais, somadas, só fecham 5% do chamado “hiato de
ambição”. Para o Canadá, um dos países do G7, a meta para 2020 significa
aumentar suas emissões em 35% em relação a 1990. A INDC apresentada pelo país,
que nós já discutimos aqui, significa uma redução de 2% em relação a 1990.
Mesmo assim, as novas metas são tão pouco
ambiciosas que não são sequer o máximo que o clube dos ricos poderia fazer sem
botar a mão no bolso. Isso mesmo: segundo o Climate Action Tracker, as INDCs do
G7 estão no limite inferior das chamadas trajetórias de mitigação de baixo
custo.
Essas trajetórias refletem como seriam os cortes de
emissão consistentes com os 2 graus Celsius somente nos setores onde é mais
barato cortar. Se todos os países fossem economicamente parecidos, o custo de
reduzir emissões nesses setores seria igual para todo mundo. No entanto, como
os países mais ricos têm maior capacidade e responsabilidade, eles precisam de
metas que vão além das trajetórias de baixo custo, cortando em setores onde é
mais caro fazê-lo – para que a mitigação mais barata possa ser feita mais nos
países em desenvolvimento.
Isso está longe de acontecer. Como mostra esta
figura do Climate Action Tracker, as metas oferecidas estão no limite
conservador das trajetórias de baixo custo do G7.
O relatório conclui com três recomendações ao G7:
que aumente significativamente a ambição de suas INDCs daqui até a conferência
de Paris, em dezembro; que reforce as metas atuais, para que o esforço de corte
fique menor após 2020; e que defenda que os ciclos de revisão das metas do novo
acordo sejam de cinco anos, e não de dez, para evitar que metas pouco
ambiciosas fiquem sendo executadas durante muito tempo. Esta última proposta
foi feita pelo Brasil no texto de negociação e conta com simpatia da União
Europeia.
Fonte:Observatório do Clima
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