Censo mundial do papagaio-de-peito-roxo indica
situação de grave ameaça.
Foto: Jonas Killp/Fundação Grupo Boticário.
Levantamento internacional foi realizado no Brasil,
Argentina e Paraguai; 91% dos papagaios foram registrados no Brasil em ambiente
natural reduzido a 8% de seu tamanho original.
De todas as regiões naturais do planeta, o
papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) só pode ser encontrado em três locais:
na Mata Atlântica brasileira, no sudeste do Paraguai e na região de Missiones,
Argentina. Para verificar o real tamanho populacional dessa carismática espécie,
a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza financia o Projeto Charão,
que, em parceria com instituições dos três países, realizou o censo
internacional. Finalizado em maio deste ano, o censo apresentou informações
preocupantes: restam cerca de três mil papagaios-de-peito-roxo na natureza.
Desde 2012, a ave é classificada em nível mundial
como “em perigo” pela União Internacional para a Conservação da Natureza
(IUCN), principal autoridade para a classificação do risco de ameaça de
espécies no mundo. Porém, não havia ainda informações confiáveis sobre o real
tamanho da população atual, nem da sua distribuição exata – pontos agora
apresentados de modo inédito pelo censo.
População é 25% menor do que o esperado
“Realizamos contagens no mesmo período (de 02 a 12
de maio) em todos os estados onde a espécie ocorre – de Minas Gerais ao Rio
Grande do Sul, bem como nos países vizinhos”, afirma Nêmora Pauletti Prestes,
pesquisadora da Universidade de Passo Fundo e coordenadora das atividades do
censo. O diagnóstico mostrou que existem aproximadamente três mil indivíduos em
todo o mundo, sendo que o Brasil abriga 91% (2.857) desse total. Pesquisadores
registraram 143 papagaios para a Argentina e 133 para o Paraguai. Antes do
diagnóstico, a expectativa era que existissem quatro mil aves, cerca de mil a
mais do que o registrado.
Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo
Boticário, avalia o cenário como delicado. “A espécie enfrenta neste momento
sérios riscos, visto que seu tamanho populacional está drasticamente reduzido e
bem abaixo de níveis seguros”, explica. Diante dessa realidade, ela indica
ainda que “o status de conservação do papagaio-de-cara-roxa precisa ser revisto
de modo urgente, inserindo-o na categoria de ‘criticamente ameaçado’ e chamando
a atenção da sociedade e do poder público para esse cenário delicado”.
Maior parte da espécie vive em ambiente ameaçado
O censo também apontou quais regiões possuem maior
concentração populacional e, por isso, têm prioridade para conservação. Santa
Catarina abriga as populações mais significativas – em torno de 1500 indivíduos
-, vivendo em remanescentes de Floresta com Araucárias, ecossistema do qual
resta menos de 1% em estágio avançado de conservação e que é associado à Mata
Atlântica, reduzida a menos de 8%. “Com essas duas valiosas informações de
quantos são e de onde vivem os papagaios, temos mais subsídios para colocar em
prática as ações definidas no Plano de Ação Nacional (PAN) de Conservação dos
Papagaios da Mata Atlântica”, ressalta Nêmora Prestes .
Revertendo o cenário
A pesquisadora explica que, a partir de agora, será
dado andamento em várias frentes. Na área de educação ambiental será trabalhada
a sensibilização das pessoas para que não comprem esses papagaios, pois estão
fomentando o comércio clandestino de animais silvestres. Outra estratégia de
conservação da espécie é a instalação de ‘caixas-ninho’ na floresta para
ampliar as possibilidades de locais para reprodução. Nêmora conta que isso é
necessário porque essas aves utilizam ocos das árvores para a reprodução, os
quais estão ficando mais raros na natureza, porque estão normalmente associados
a florestas com melhor grau de conservação.
O projeto também irá propor ao governo de Santa
Catarina a criação de um corredor ecológico que permeie os municípios do
planalto serrano catarinense onde a espécie é mais presente. Desse modo,
pretende-se ampliar a proteção da Floresta com Araucárias e a proteção da ave.
Além da Fundação Grupo Boticário, outros parceiros
da iniciativa foram a Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Passo
Fundo (UPF), o Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), Sociedade de Pesquisa em
Vida Silvestre e Educação Ambiental (SPVS), Universidade de Chapecó
(Unochapecó), Copel, Klabin S/A, Guyra Paraguay (Paraguai), Associación
Ornitológica del Plata (Argentina) e Proyecto Pino Paraná (Argentina).
Fonte: ENVOLVERDE
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