Mau uso da terra agrava mudança climática em São
Vicente.
Durante a tempestade de 2013 as inundações
depositaram grande quantidade de troncos que haviam sido cortados em zonas
residenciais e comerciais de São Vicente e Granadinas. Foto: Kenton X.
Chance/IPS.
Por Kenton X. Chance, da IPS –
Kingstown, Jamaica, 21/5/2015 – Há 32 anos o
técnico florestal Joel Poyer trabalha com as florestas de São Vicente e
Granadinas, e nos 18 meses que lhe restam para se aposentar tem a esperança de
que o governo e a população prestem mais atenção à como as atividades humanas
agravam as consequências da mudança climática.
“Neste momento, é como um câncer que nos consome”,
disse à IPS esse’ ativista e sindicalista de 54 anos com relação às ações de
seus compatriotas, muitos deles cultivadores ilegais de maconha, que desmatam
grandes extensões de terra para seus cultivos e depois as abandonam após alguns
anos para iniciar o ciclo novamente.
Nos últimos anos, vários fenômenos meteorológicos
extremos demonstraram como atividades realizadas na floresta, longe da vista da
população, podem ter um impacto devastador nas zonas residenciais da costa.
O furacão Tomas, em outubro de 2010, e as fortes
chuvas que causaram deslizamentos de terra e inundações em abril de 2011 e
dezembro de 2013, deixaram danos e prejuízos num total de US$ 222 milhões neste
país do Caribe oriental de pouco mais de 100 mil habitantes. Os habitantes
também foram surpreendidos pela quantidade de troncos que as inundações
depositaram em povoados e aldeias, e a forma com que, como se fossem projéteis,
danificaram ou destruíram moradias e infraestrutura pública. Poucas árvores
foram arrancadas pelo desastre natural. Em grande parte eram troncos cortados
anteriormente.
“Temos que prestar atenção no que ocorre na
floreta”, afirmou o primeiro-ministro, Ralph Gonsalves, aos meios de
comunicação depois das fortes chuvas de dezembro de 2013. “Se estamos vendo
estes troncos no extremo inferior do rio, pode-se imaginar o dano no extremo
superior”, acrescentou, ressaltando que as inundações haviam prejudicado cerca
de 10% das florestas do país.
Segundo Gonsalves, “se não removermos esses troncos
e não tratarmos corretamente as defesas fluviais nas zonas superiores do rio
teremos uma bomba de tempo, porque quando as chuvas torrenciais vierem
novamente simplesmente arrastarão o que encontrarem pela frente.
O aumento do nível do mar provocou o reassentamento
de moradias e a construção desta defesa marinha em Layou, um povoado a sudoeste
de São Vicente e Granadinas. Foto: Kenton X. Chance/IPS.
O impacto do desmatamento em São Vicente e
Granadinas é generalizado. Em alguns casos os agricultores desmataram até
quatro hectares de floresta para plantar maconha a mais de 900 metros acima do
nível do mar, afirmou Poyer.
Mas os agricultores que cultivam produtos legais,
como verduras e tubérculos, também empregam práticas que deixam o solo mais
suscetível à erosão, em uma época em que o país sofre períodos de seca mais
longos e de chuvas mais curtas e mais intensas. Muitos agricultores utilizam o
método de corte e queima, que priva a terra de muitos nutrientes e deixa o solo
fraco. Então os produtores recorrem aos fertilizantes, o que aumenta o custo de
produção.
“Quando se dão conta de que os insumos custam mais,
abandonam as terras. Ao deixá-las, elas ficam sem proteção e acontece a erosão.
Assim, podem ocorrer deslizamentos de terra”, explicou Poyer, acrescentando que
o acesso a estas terras pode ser tão complicado que o reflorestamento fica
muito caro. “Em certas ocasiões temos que colocar diques para tentar reduzir a
erosão e permitir que a vegetação cresça naturalmente, e esperar rezando para
que em dois anos ninguém faça o mesmo que foi feito dois anos antes”, afirmou.
Na medida em que a mudança climática continua
afetando a região, os países do Caribe oriental experimentam períodos de seca
mais longos, como é o caso atual, o que provoca escassez de água potável em
alguns lugares. Os funcionários encarregados das emergências em São Vicente e
Granadinas alertaram que a expectativa é de que a temporada de chuvas comece em
julho, ao menos quatro semanas mais tarde do que o habitual. Alertas
semelhantes foram emitidos em toda a região.
Isto faz com que as condições sejam propícias para
os incêndios florestais em um país onde todo o litoral corre risco de incêndio
devido ao tipo de vegetação. O chefe de bombeiros e superintendente da policia,
Isaiah Browne, disse à IPS que este ano os bombeiros atenderam 32 incêndios
florestais, em comparação com 91 em 2014.
Poyer acrescentou que além do tipo de vegetação
existente na costa, uma grande quantidade de árvores na região foi cortada para
permitir a construção de moradias, além de outras obras. “E isso também tem
impacto na vida aquática. Por essa razão às vezes já quase não vemos peixes ao
longo da costa, pois não há árvores para esfriar a água para que as algas
consigam alimento”, acrescentou.
Os comentários de Poyer coincidem com a advertência
de Susan Singh-Renton, subdiretora do Mecanismo de Pesca Regional do Caribe,
que afirma que na medida em que a temperatura do mar aumentar as espécies de
peixes autóctones, que são uma fonte importante de proteína, poderão se
trasladar mais para o norte.
Os efeitos dos incêndios florestais, junto com o
mau tempo devido à mudança climática, tiveram resultados catastróficos em São
Vicente e Granadinas.
Fonte: ENVOLVERDE
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