Conferência de Bonn termina com negociações de volta
ao passo de lesma.
Apesar de traçar caminho mais claro para
Paris, reunião preparatória na Alemanha não avançou em estabelecer compromissos
reais de mitigação e financiamento –
Cíntya Feitosa, do OC –
Nem sucesso, nem fracasso. É assim que as
organizações da sociedade civil em todo o mundo veem os resultados da reunião
preparatória para o acordo do clima de Paris encerrada nesta quinta-feira em
Bonn, Alemanha. O objetivo da conferência era transformar a lista de desejos
que saiu da reunião de Genebra, em fevereiro, em um texto mais enxuto e viável
para ser negociado até a COP21. A missão foi parcialmente cumprida, já que o
texto só perdeu cinco páginas. Tinha 90. Depois de um começo empolgado, as
conversas de 11 dias voltaram à vagareza de praxe no fórum da Convenção do
Clima da ONU.
A lentidão deixou uma lacuna entre o que é
necessário e o que está sendo prometido em relação ao financiamento e ao corte
de emissões. A delegação brasileira, por exemplo, defende que os instrumentos
econômicos sejam discutidos com profundidade apenas depois de definidos acordos
de mitigação.
Mark Lutes, do WWF, que acompanhou as
negociações, enxerga com cautela os resultados de Bonn. Para ele, houve avanços
quanto à proposta de revisão de ambição após a conferência de Paris, mas nada
concreto. “Não há nada de novo quanto ao conteúdo, nem sobre o formato legal.
Ficou fora da agenda o compromisso de países desenvolvidos. Os EUA, por
exemplo, afirmam que estão dispostos a contribuir, mas não expressam
compromisso real.” Lutes ressalta que não houve debates aprofundados sobre
financiamento de longo prazo.
A secretária-executiva da UNFCCC
(Convenção-quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas) Christiana
Figueres, afirmou que o maior avanço em Bonn não é o texto em si, mas a
evolução das negociações. “O mais importante é compreender o esforço em tornar
o texto mais claro para a próxima reunião.” Figueres também destacou a
sinalização do G7 de aumentar o alcance das ações de adaptação a mudanças
climáticas, além de avançar na disponibilização de recursos para o Fundo Verde
do Clima.
Foi delegada aos coordenadores do chamado ADP, o
grupo de negociadores que discute o novo acordo, a missão de resumir as
posições dos países num texto para ser negociado a partir de agosto, num novo
encontro em Bonn. A expectativa é que, neste evento, se inicie a discussão
prática para o acordo do clima.
“Com o pouco progresso feito, sem nenhuma
negociação substantiva em Bonn, o relógio começa a bater para o acordo do
clima. São apenas dez dias de negociação formal até Paris agora”, avalia o
secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. “A declaração do
G7 sobre clima foi uma boa notícia, mas vem tarde demais e oferece muito pouco
diante da urgência da crise climática.
Florestas no acordo de Paris
Uma novidade da reunião foi a decisão de que o
REDD+, o mecanismo de redução de emissões por desmatamento, fará parte do
acordo do clima de Paris, algo que não se propunha até aqui. A delegação
brasileira, que defendia esse mecanismo, comemorou a decisão. O Brasil foi
citado como bom exemplo nesse setor – embora as organizações da sociedade civil
brasileira se queixem de pouca transparência do governo nas decisões sobre o
tema e da falta de uma estratégia nacional de REDD+.
Alice Amorim, do GIP (Gestão de Interesse
Público), acompanhou as negociações e destacou que o Brasil foi citado em
vários momentos pelo pragmatismo. “O Brasil agiu como mediador, e sua grande
vitória foi influenciar para que o REDD+ fizesse parte do acordo.” Ana Toni,
também do GIP, destacou o protagonismo do Brasil no G77, o bloco de negociações
que reúne 130 países em desenvolvimento. “A delegação brasileira foi firme em
defender a necessidade de um rascunho mais definido para o acordo de Paris e
foi o único grande país em desenvolvimento a defender o ‘mandato’ para que
prossigam as negociações.”
No entanto, não houve discussões sobre a proposta
brasileira de “círculos concêntricos”, segundo a qual países em desenvolvimento
também devem assumir sua responsabilidade de mitigação, embora de maneira
diferenciada em relação aos países desenvolvidos.
“Quem sabe o Brasil traga alguma novidade nas
suas propostas que ajude a quebrar o ritmo modorrento das negociações”, afirmou
Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Fonte: Observatório
do Clima
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