Limites do Planeta.
São 80 milhões de nascimentos ao ano; 220 mil novas
almas habitando a Terra a cada novo amanhecer. Foto: charamelody.
Cerca de 70% do consumo mundial de água é destinado
à produção alimentar, causando o esgotamento dos lençóis freáticos e uso
ecologicamente predatório de água doce. O que precisa ser feito com brevidade
para reverter esse quadro?
Por Marcus Eduardo de Oliveira*
Segundo estimativas feitas pela demografia, em
2046, 9 bilhões de pessoas estarão habitando o Planeta Terra. Um único planeta
para que 9 bilhões de bocas sejam alimentadas. O resultado disso é claro:
aumentará a pressão por alimentos, água, madeira, fibras e combustível. É
evidente, no entanto, que a partir disso emerge um conflito: muita gente, pouco
alimento e uma corrida contra o tempo.
Se, cem anos atrás, o mundo demorava três décadas
para conhecer um bilhão a mais de pessoas, atualmente bastam 12 anos para que
isso aconteça. Portanto, foi reduzido em um terço o tempo gasto para isso.
Quatro décadas apenas, desde 1970, foram
suficientes para que se dobrasse a população mundial – de 3,7 bilhões para 7,1
bilhões. São 80 milhões de nascimentos ao ano; 220 mil novas almas habitando a
Terra a cada novo amanhecer.
Contudo, é verdade que nesses últimos anos em
alguns países a produtividade agrícola fez sucesso e aumentou a produção
alimentar.
Em outras áreas, entretanto, o efeito foi o
contrário. A produção de alimentos por habitante do planeta, em contraponto ao
aumento populacional, diminuiu sensivelmente em algumas grandes regiões,
especialmente em locais onde o excesso populacional é latente, como na África
subsaariana.
Quanto a isso, o caso indiano parece ser um dos
mais graves: o aumento populacional que triplicou entre os hindus (de 371
milhões de habitantes, em 1950, para 1,2 bilhão em 2010) absorveu todo o ganho
da produtividade de grãos.
Recai sobre o meio ambiente as consequências dessa
relação conflituosa entre a existência de mais gente e menos alimentos
disponíveis.
Em artigo reproduzido alguns anos atrás pela
Scientific American, Jeffrey Sachs, um dos mais renomados economistas
contemporâneos, contextualiza dizendo que “a produção alimentar é responsável
por um terço de toda a emissão de gases do efeito estufa; isso inclui os
poluentes gerados pelos combustíveis fósseis utilizados na preparação e transporte
dos alimentos, o dióxido de carbono liberado pela aragem da terra para a
agricultura e pastagem, o metano produzido pelos arrozais e rebanhos de
ruminantes, bem como o óxido nitroso proveniente do uso de fertilizantes”.
Continua Sachs afirmando que “por devastar as
matas, a produção de alimentos também responde por muito da perda de
biodiversidade. Os fertilizantes químicos formam grandes depósitos de
nitrogênio e fósforo, que agora destroem esteiros – trecho de rio ou mar que
adentra na terra – de centenas de sistemas fluviais ameaçando a química
oceânica.
Cerca de 70% do consumo mundial de água é destinado
à produção alimentar, causando o esgotamento dos lençóis freáticos e uso
ecologicamente predatório de água doce, desde a Califórnia até a planície
indo-gangética, passando pela Ásia central e norte da China”.
Frente a isso, torna-se pertinente a seguinte
indagação: o que precisa ser feito com brevidade para a reversão desse quadro?
Ao menos uma resposta conjugada parece ser de consenso entre os observadores
das condições ambientais: deve-se elevar a produção agrícola ao mesmo tempo em
que programas de planejamento familiar passem a ganhar proeminência junto às
populações mais carentes e distantes de informações específicas.
É fato concreto que dentro do cenário conflituoso
descrito anteriormente, todos perdemos.
Indiscutivelmente, a perda mais grave
está localizada na alteração da capacidade reguladora da Terra que se encontra
em desequilíbrio. O motivo? A ultrapassagem das fronteiras ecossistêmicas,
rompendo assim os limites do Planeta Terra. As graves consequências? Riscos de
vidas humanas e animais serem dirimidas.
Especificamente, cabe então apontar quais são as
fronteiras existentes e quantas já foram rompidas pela ação humana.
De acordo com o estudo “Planetary Boundaries”,
coordenado por Johan Rockstrom, diretor executivo do Stockholm Resilience
Centre, localizado na Suécia, são nove (ilustração abaixo) as fronteiras
ecológicas que estão no centro das atenções, tipificadas como “espaço operacional
seguro para a humanidade”, a saber: mudanças climáticas, camada de ozônio, uso
do solo, uso de água doce, diversidade biológica, acidificação dos oceanos,
ciclo do nitrogênio e do fósforo, materiais particulados (aerossóis) e poluição
química.
Três desses limites (fronteiras) – mudanças
climáticas, diversidade biológica e ciclo do nitrogênio – segundo as evidências
até aqui disponíveis, já apresentam sinais de terem sido ultrapassados,
agravando mais ainda o já aquecido planeta.
Evidentemente, quanto mais quente o planeta ficar,
pior será a qualidade de vida, confluindo assim para uma situação que, segundo
previsões das autoridades científicas que respondem em nome do (IPCC), o Painel
Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, geraria uma degradação
ambiental maior ainda que a atual, prejudicando, sobremaneira, a capacidade do
planeta em fornecer peixes e água doce, reciclar nutrientes do solo e controlar
o próprio clima.
Com isso, é certo que o número de espécies da flora
necessárias para assegurar o equilíbrio cairá, em prejuízo da qualidade do ar.
Parte substancial da fauna desaparecerá. Razão pela qual é de senso comum
afirmar que estamos diante do sexto maior evento de extinção de espécies da
história da Terra.
Não por acaso, de 10% a 30% das espécies de
mamíferos, aves e anfíbios começaram a desaparecer em ritmo acelerado.
* Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de
economia da FAC-FITO e do Unifieo, em São Paulo.
Fonte: EcoD
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