Como no Sudeste, cidades do Mato
Grosso correm risco de racionamento de água.
por Rafael Govari, do ISA
Estiagem incomum neste início de 2015 e aumento
do consumo, aliados a sistemas trabalhando no limite, colocam cidades do Mato
Grosso em risco de sofrer racionamento de água. Diminuir o consumo, fazer
investimentos e recuperar e manter a floresta são alternativas para evitar a
crise hídrica.
A maioria dos mato-grossenses assiste indiferente
a falta de água que assola os moradores do Sudeste. As preocupações são outras
como a falta de rodovias e outras infraestruturas. Grande parte deles nem
imagina que muitos municípios do Mato Grosso podem estar à beira de um colapso
no abastecimento de água.
Pesquisa feita pelo ISA (Instituto
Socioambiental) no site do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), que tem
uma estação do 9º Distrito de Meteorologia de Mato Grosso, localizada a 9 km da
cidade de Canarana, verificou que as chuvas estão abaixo da média no atual
período. Nas últimas 14 temporadas (que se estendem de junho a maio), a média
tem sido de 1.841 mm de chuva. Somando as chuvas que caíram de junho do ano
passado a janeiro deste ano, o total é de 1.123 mm em Canarana. seriam
necessários ainda 718 mm de fevereiro a maio para alcançar a média, lembrando
que na maioria dos anos a chuva cessa no início de abril.
As poucas chuvas deixaram o nível dos rios, em
pleno período chuvoso, parecido com os níveis do período da seca. Para Ildo
Gromann, responsável de rede da CAB (Companhia Ambiental de Canarana), empresa
privada de abastecimento de água, o Rio Tanguro que abastece a cidade e se
localiza a 7 km do centro, está menos de um metro acima do nível registrado no
período da seca. Ele afirma que se os níveis do rio baixarem muito e as bombas
não conseguirem captar água, uma solução seria barrar o Tanguro.
Além disso, apesar de a cidade ter cerca de 500
poços, rasos e artesianos, que não sobrecarregam a CAB, muitos estão secando em
plena época chuvosa. Gromann avalia que na seca muitos desses poços estarão sem
água e quase toda cidade utilizará o sistema, que terá de captar mais água do
Tanguro e não se sabe qual será o seu nível nos meses de seca. Ele lembra que a
adutora que traz a água para cidade já está operando com sua capacidade máxima.
E, além disso, a cada dia, em média, é feita uma nova ligação de água na
cidade,, que está em pleno desenvolvimento.
A colonização da região Araguaia Xingu começou na
década de 1970 por sulistas que tinham um perfil agrícola. Seu Natalício Djalmo
Kuhn chegou a região em 1976 para trabalhar na agricultura e está assustado
:“Em quase 40 anos de Mato Grosso, eu nunca vi uma estiagem como essa”, disse.
Somando-se a chuva abaixo da média, os poços
secando, o crescimento populacional e sistema operando no limite, o futuro pode
trazer problemas. “Racionamento acho difícil, mas não está descartado”, diz o
representante da CAB. Tudo depende de como irá se comportar o tempo e as chuvas
até o mês de maio, quando se encerra o período chuvoso. Os institutos de
meteorologia, entretanto, não preveem muita chuva até lá.
Abundância não livra o Mato Grosso de uma
possível crise hídrica
Conforme notícia publicada em novembro do ano
passado no jornal A Gazeta de Cuiabá, o maior de Mato Grosso, o estado pode
passar por uma crise de falta de água semelhante à que ocorre em São Paulo em
menos de 10 anos. Segundo o periódico, alguns municípios mato-grossenses
enfrentam racionamento desde 2013 (saiba mais).
Além da falta de água, há problemas com sua
qualidade por conta da contaminação por esgoto, fertilizantes e defensivos
agrícolas. “Hoje, Mato Grosso é exportador de água, mas a continuar nesse ritmo
de degradação, em menos de 10 anos sofreremos com graves problemas de falta de
água, em uma situação idêntica à de São Paulo.
Com o crescimento das cidades e a
impermeabilização dos solos, os lençóis freáticos não absorvem a quantidade
necessária da água da chuva. Somado às mudanças climáticas e à poluição dos
rios, o cenário é preocupante”, avaliou Décio Siebert, presidente do Comitê do
Rio Seputuba e especialista em recursos hídricos.
Para evitar racionamento, em primeiro lugar é
preciso de água e para ter água é preciso de chuva. Mas outras medidas podem
ser tomadas para ajudar. Uma delas é conscientizar a população a economizar. Em
Canarana, a média de consumo diário de água por pessoa, ultrapassa os 250
litros. A ONU considera que uma pessoa pode viver bem com menos da metade, com
110 litros de água por dia.
Edson Prado, secretário de Saneamento e Serviços
Urbanos de Querência, cidade vizinha de Canarana, concorda que a população da
região precisa urgentemente se conscientizar que a água é um bem finito. A
companhia de água da cidade, administrada pela prefeitura, tem estrutura para
atender até 35 mil habitantes, quase o triplo da população atual. A situação em
Querência, abastecida com a água de sete poços artesianos, é tranquila no
momento, mas Prado lembra que os moradores da região precisam começar a
economizar. Também precisam ser levados em consideração os investimentos.
Com o crescimento das cidades mato-grossenses, os
sistemas de algumas cidades, diferentemente de Querência, estão trabalhando no
limite de sua capacidade. Em Canarana, por exemplo, trata-se da construção pela
Companhia Ambiental de mais uma adutora para trazer água do Rio Tanguro e que
estará concluída este ano.
A proteção da floresta e a recuperação das matas
ciliares também são primordiais para a água. É com isso que há mais de 10 anos
a Campanha Y Ikatu Xingu (Salva a água boa do Xingu) vem trabalhando, na
proteção e recuperação das nascentes do Rio Xingu, na região de Canarana.
Estima-se que já foram desmatados quase seis milhões de hectares de vegetação
nativa nesta bacia (33% da cobertura vegetal original), causando assoreamento
dos rios afluentes do Xingu. Até o momento, já foram restaurados mais de dois
mil hectares de matas ciliares que se encontram em diferentes estágios de
crescimento.
Fonte: Instituto
Socioambiental