Terramérica – Açúcar cubano ganha
protagonismo energético.
por
Patricia Grogg*
Vista da central açucareira 5 de Setembro, na
província de Cienfuegos, em Cuba. Da recuperação desse engenho participa uma
subsidiária da construtora brasileira Odebrecht e nele será instalada uma
unidade bioelétrica que usará bagaço de cana. Foto: Jorge Luis Baños/IPS.
Havana, Cuba, 22 de setembro de 2014
(Terramérica).- A indústria açucareira pretende se converter na principal fonte
de energia limpa em Cuba, como parte de um programa de desenvolvimento de
fontes renováveis, com o qual se pretende reduzir a dependência de combustíveis
fósseis importados e proteger o ambiente.
O projeto se insere nos planos de modernização dos
engenhos abertos ao investimento estrangeiro pela Azcuba, o grupo empresarial
estatal que, em 2011, substituiu o Ministério do Açúcar. Tradicionalmente, as
centrais açucareiras geram a eletricidade para seu consumo, a partir de dejetos
como o bagaço, resíduo que sobra após a trituração.
Liobel Pérez, porta-voz da Azcuba, defendeu a
produção de energia a partir da biomassa da cana como barata e amigável com o
ambiente. “O CO2 (dióxido de carbono) produzido na geração de eletricidade é o
mesmo que a cana absorve em seu processo de crescimento, portanto há um equilíbrio
ambiental”, pontuou ao Terramérica. No momento, não se contempla a produção de
etanol como derivado da cana, embora haja especialistas que considerem que esse
bicombustível poderia reduzir o consumo de gasolina no transporte e nas
máquinas agrícolas e limitar as emissões na atmosfera.
“Esse é um dos temas que a comissão governamental,
criada para analisar o desenvolvimento e as energias renováveis, discute”,
disse Manuel Díaz, diretor do Instituto Cubano de Pesquisas de Derivados de
Cana-de-Açúcar. O funcionário não descartou essa possibilidade no futuro.
“Embora não seja a solução definitiva de longo
prazo para o combustível automotivo, o etanol é um fator importante, contribui
para reduzir o consumo de combustíveis fósseis e, se não entra em contradição
com o uso da terra para alimentos, pode ser, a meu ver, uma alternativa que
cada país deve avaliar segundo suas particularidades”, destacou Díaz ao
Terramérica.
Atualmente a indústria açucareira fornece 3,5% da
geração de eletricidade do país. O plano para elevar a eficiência energética
contempla que, até 2030, cerca de 20 engenhos gerarão um excedente de 755
megawatts (MW) para alimentar a rede do Sistema Eletro-Energético Nacional,
isso elevaria para 14% a participação da biomassa de cana na matriz energética
prevista para 2030, que projeta em 24% a participação das fontes renováveis,
com aportes também da energia eólica (6%), solar (3%) e hidráulica (1%).
Agora, as energias renováveis só representam 4,6%
da geração e o restante é fornecido pelos combustíveis fósseis. A paulatina
instalação nos engenhos de modernas usinas bioelétricas, necessárias para
conseguir esse objetivo, exige investimento estimado em US$ 1,29 bilhão, que a
Azcuba espera obter de empréstimos governamentais ou investimentos estrangeiros.
“Onde não aparece crédito, aparece o investimento
estrangeiro”, apontou Jorge Lodos, diretor de negócios da Zerus SA, subsidiária
da Azcuba. Ele acrescentou ao Terramérica que as duas primeiras empresas a se
associarem com Cuba no setor incluíram em seus planos as usinas bioelétricas
para aumentar a eficiência energética.
A primeira das unidades alimentadas com biomassa de
cana começará a produzir em 2016, disse Lodos. Está prevista a construção em
áreas vizinhas ao central Ciro Redondo, na província de Ciego de Ávila, a 423
quilômetros de Havana, pela Biopower, empresa mista formada em 2012 pela Zerus
e a britânica Havana Energy Ltd.
Um trabalhador opera a moenda de cana-de-açúcar
durante a safra na central açucareira Jesús Rabí, na província cubana de
Matanzas. A biomassa do engenho contribuirá para incrementar as fontes limpas
na geração de electricidade no país. Foto: Jorge Luis Baños/IPS.
Durante a safra, de dezembro a maio, essa unidade
empregaria como insumo o bagaço da cana processada pelo engenho vizinho, e no
resto do ano utilizaria o resíduo de cana armazenado e o marabu (Dichrostachys
cinerea), um arbusto lenhoso que invade como praga vastas áreas agrícolas
da ilha. O investimento previsto no projeto varia de US$ 45 milhões a US$ 55
milhões.
Já a Companhia de Obras e Infraestrutura (COI),
subsidiária da brasileira Odebrecht, acordou com a Empresa Açucareira
Cienfuegos, também filial da Azcuba, a administração conjunta por 13 anos da
central 5 de Setembro, na província de Cienfuegos, a 256 quilômetros da
capital. Neste caso, o compromisso é recuperar a capacidade produtiva do
engenho de 90 mil toneladas de açúcar por safra e inclusive aumentá-la.
Lodos detalhou que o investimento desse projeto
supera os US$ 100 milhões e inclui também uma usina bioelétrica. Esses dois
engenhos e o Jesús Rabí, na província de Matanzas, a 98 quilômetros de Havana,
gerarão os primeiros 140 MW de eletricidade no médio prazo. A Havana Energy e a
COI abriram a porta para entrada do capital estrangeiro na agroindústria
açucareira cubana, apoiadas pelo fato de que já têm investimentos em outros
setores da centralizada economia cubana.
“O investimento estrangeiro exige confiança mútua”,
opinou Lodos. O governo de Raúl Castro estima que precisa de US$ 2 bilhões a
US$ 2,5 bilhões anuais de capitais estrangeiros para crescer e se desenvolver.
Dos 56 engenhos cubanos, seis deles inativos, a Azcuba colocou 20 na carteira
de investimentos estrangeiros. A prioridade inicial são os oito construídos
depois de 1959.
Entre as ofertas para o desenvolvimento de
derivados tampouco figura o etanol, embora muitos especialistas considerem que
tem boas chances de comercialização. “Não está previsto no programa. Não é dada
nenhuma das condições mínimas para introduzir investimento estrangeiro. Não há
magnitude de capital, não é aporte de tecnologia, não seria para a exportação,
nem substitui importações. Hoje não está na carteira de negócios. Amanhã
poderemos pôr”, enfatizou Lodos.
Cuba produz álcool em 11 destilarias, também em
fase de modernização, para usos farmacêuticos e em sua indústria de rum e
outras bebidas. A outrora poderosa indústria açucareira, que teve colheitas de
oito milhões de toneladas, tocou o fundo em sua safra 2009-2010, com apenas 1,1
milhão de tonelada produzida, a pior em 105 anos. Hoje o setor representa cerca
de 5% da entrada de divisas no país.
Espera-se que o programa de modernização das
máquinas fabris, dos equipamentos de transporte e outros recursos para melhorar
os rendimentos impulsione a produção, junto com o aumento da semeadura de cana.
No ano passado, foram plantados 400 mil hectares e a safra 2013-2014 chegou a
pouco mais de 1,6 milhão de toneladas.
Fonte: ENVOLVERDE
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