quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ser renovável não é ser sustentável.
por Redação do Greenpeace
Foto aérea de Altamira, no Pará, com bairro alagado pela construção de Belo Monte. Foto: ©Marizilda Cruppe / Greenpeace.

Segundo debate sobre política e meio ambiente discutiu o tema energético e levantou questões centrais sobre a matriz brasileira e a abordagem eleitoral.

A uma semana para o Brasil ir às urnas, o Greenpeace explora um assunto central e no entanto ainda raso no debate presidencial. Em parceria com o estúdio de jornalismo independente Fluxo, o Sujeito Oculto de último dia 23 debateu sobre Energia, tema caro aos palanques eleitorais de todo o Brasil. Participaram da conversa Célio Bermann (IEE-USP), Rodrigo Sauaia (ABSOLAR) e Ricardo Baitelo (Greenpeace). A mediação ficou a cargo de Bruno Torturra (Fluxo).

Em contexto de crise, onde o País é ameaçado pelo racionamento e o aumento do preço da energia, é preciso reavaliar a política energética nacional. A prioridade para combustíveis fósseis e a centralização da produção de energia trava um possível modelo de desenvolvimento sustentável.

“O mundo hoje utiliza apenas 14% de fontes renováveis para produção de energia elétrica e combustíveis. O Brasil tem 42% da sua matriz baseada em energia renovável, mas não leva em consideração o mais importante: nossa matriz é sustentável?”, questionou o professor Célio Bermann, abrindo o debate. Doutor em engenharia e planejamento energético, com dois livros publicados na área, o professor chamou a atenção para um importante ponto: ser renovável não é ser sustentável. “Para ser sustentável, tem que levar em conta os impactos socioambientais”.

A questão das hidrelétricas, clamadas pelo governo como fontes limpas, inesgotáveis e a solução para o abastecimento do Brasil, foi abordada a fundo. Bruno Weis, jornalista do Greenpeace, foi à Altamira, no Pará, cidade de 80 mil habitantes que recebeu 25 mil trabalhadores para as obras de Belo Monte – sendo a grande maioria homens.
Ponto de ônibus em Altamira com apenas homens, que esperam transporte para voltar às obras de Belo Monte. Foto: ©Zé Gabriel / Greenpeace

“A cidade é um coquetel que mistura ócio, dinheiro no bolso (pois eles recebem e não têm onde gastar), saudade de casa, prostituição, bebidas e outras drogas”, explica Weis. Segundo o jornalista, a enorme população masculina transforma Altamira numa atmosfera opressora para mulheres: “Altamirenses que defendiam a obra se arrependem ao verem que a cidade se transformou numa ferida aberta, um formigueiro de desilusões”.
Rua de Altamira. Foto: ©Zé Gabriel / Greenpeace.

Alguns mais céticos podem argumentar que de fato existe um custo benefício nessa equação. Em detrimento dos impactos socioambientais, a geração de energia vai ser em enorme escala, devolvendo a segurança energética ao País. Como contraponto, Bermann sinalizou que a capacidade de geração da hidrelétrica, na casa dos 11,2 mil MegaWatts (MW), não passará de 1,1 mil MW em período de secas. “Estas cada vez mais severas”, lembrou o professor.

“A alternativa já apareceu em nosso horizonte, mas teimam em ofuscá-la”, se posicionou o diretor executivo da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), Rodrigo Sauaia. As energias renováveis, como eólica, solar e de biomassa, tornam-se cada vez mais competitivas: no caso da energia solar fotovoltaica, seu preço despencou 80% nos últimos 4 anos. “Com a resolução 482/2012 da ANEEL [Agência Nacional de Energia Elétrica], qualquer brasileiro pode instalar um sistema renovável e injetar energia na rede, compensando o consumo”.

Com os incentivos corretos, como linhas de crédito adequadas ao investimento, e a não tributação da microgeração (hoje, a cada 1 kwh consumido, é necessário injetar 1,5 kwh), é possível criar um cenário ideal para uma revolução energética. Bermann salientou que “as empresas precisam ter condições para produzir painéis solares”, usando a China como exemplo. Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace, completou: “A China começou produzindo painéis solares para exportação. Agora ela absorve toda a produção excedente e planeja instalar neste ano uma Itaipu em painéis solares”.

Por fim, não tinha como deixar de lado outro protagonista do debate energético: o pré-sal. Bruno Weis indagou os participantes da polaridade da discussão: “O debate político fala que ou você é a favor do pré-sal ou contra a nação e seu desenvolvimento”. Para responder, Baitelo recorre à economia, e não apenas ao meio ambiente. Se em 2012 o pré-sal arrecadou R$ 31,5 bilhões em royalties, por outro lado se perde muito mais com o uso irracional de combustíveis.

A conta é simples: como nossos veículos bebem muito combustível por quilômetro rodado em relação aos equivalentes fabricados na Europa, devemos desperdiçar 114 bilhões de litros até 2030. Isso representa uma perda de R$ 287 bilhões até 2030, segundo estudo realizado pelos economistas Amir Khair e Luiz Afonso Simoens.

“O pré-sal parece um número mágico, como se fossem tirar R$ 1,3 trilhão de reais de dentro da terra”, defendeu Baitelo. E fechou o debate: “Toda fonte de energia tem potencial de gerar renda e empregos. Se somar os benefícios das renováveis, podemos ter um valor muito maior”.

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Fonte: Greenpeace

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