Os oceanos pedem ajuda aos gritos
por causa do lixo plástico.
por
Manipadma Jena, da IPS
Pescadores arrastam sua captura em uma praia do
distrito de Trincomalee, no Sri Lanka. Numerosos especialistas concordam que
uma grande porção do lixo marinho é subproduto da indústria pesqueira mundial.
Foto: Kanya D’Almeida/IPS.
Atenas, Grécia, 15/10/2014 – Um albatroz de pata
negra alimentando seus filhotes com bolinhas de plástico, um bebê foca no Polo
Norte com um saco enrolado no pescoço ou um barco de pesca perdido em alto mar
porque um aparelho de pesca se enroscou na hélice, são exemplos que
multiplicados por mil dão ideia do estado dos oceanos. Estima-se que cerca de
13 mil dejetos plásticos flutuam para cada quilômetros quadrado de oceano e que
6,4 milhões de toneladas de lixo desembocam neles a cada ano.
Pesquisadores e cientistas preveem um futuro
nefasto para estas vastas extensões de água que são vitais para a existência de
nosso planeta. Um cálculo conservador do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (Pnuma) diz que o prejuízo econômico do plástico nos ecossistemas
marinhos chega a US$ 13 bilhões por ano, segundo um comunicado divulgado no dia
1º deste mês.
A saúde dos mares e dos ecossistemas oceânicos
concentra a atenção da 12ª Conferência das Partes (COP 12) do Convênio sobre a
Diversidade Biológica, que acontece na cidade sul-coreana de Pyeongchang até o
dia 17. Entre as 20 Metas de Aichi para a Diversidade Biológica, acordadas na
cidade japonesa de Nagoya em 2011, a preservação da biodiversidade marinha é um
dos objetivos fundamentais. A meta 11 assinala a importância de identificar
“áreas protegidas” para preservar os ecossistemas marinhos, especialmente dos
efeitos danosos das atividades humanas.
Na 16ª reunião global dos Planos de Ação e
Convênios sobre Mares Regionais, do Pnuma, que aconteceu em Atenas entre 20 de
setembro e 1º deste mês, houve um consenso quase unânime sobre os dejetos
representarem um “tremendo desafio” para o desenvolvimento sustentável.
Nessa oportunidade, cientistas e autoridades do
mundo se reuniram para desenhar um novo mapa do caminho capaz de deter a rápida
degradação de oceanos e mares e criar políticas para um uso sustentável, bem
como integrá-los na agenda de desenvolvimento posterior a 2015. O tema está
entre as maiores prioridades desde a Cúpula da Terra, como é chamada a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no
Brasil em 2012 e conhecida como Rio+20.
O número14 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), que são discutidos para substituir os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio a partir do final de 2015, foca em reduzir de forma
significativa a contaminação marinha até 2025. “Não tivemos nenhuma dificuldade
para promover a explícita inclusão dessa meta nos ODS propostos”, destacou
Jacqueline Alder, diretora de Ecossistemas Marinhos e de Água Doce da Divisão
de Implementação da Política Ambiental do Pnuma. “Afinal, os oceanos são um
problema de todos e todos geramos lixo”, pontuou à IPS.
“Os dejetos orgânicos são o principal elemento dos
desperdícios que chegam aos mares, e representam entre 40% e 80% do lixo
municipal nos países em desenvolvimento e 20% a 25% nos países ricos”, detalhou
Tatjana Hema, oficial de programa para controle de componentes e avaliação de
contaminação do Plano Mediterrâneo de Ação.
Porém, os microplásticos estão entre os
contaminantes mais prejudiciais que inundam os mares. A substância danosa se
forma quando os plásticos se fragmentam e se desintegram em partículas com não
mais do que cinco milímetros de diâmetro, chegando até a um milímetro.
“Descobriu-se que os micro e nanoplásticos passaram
às microparedes das algas”, explicou Vincent Sweeney, coordenador do Programa
Global de Ação para a Proteção do Ambiente Marinho por meio de Atividades
Terrestres (GPA). “Mas ainda não se sabe como afetará a cadeia alimentar de
animais marinhos, nem a saúde humana quando ingeridas por intermédio dos
peixes”, afirmou à IPS. “A existência do problema do microplástico até agora é
especulativo. Ainda não temos noção de quanto isto afeta os oceanos”, ressaltou.
Os ODS relacionados com os oceanos devem se ajustar
a quatro critérios: serem viáveis, factíveis, mensuráveis, alcançáveis. Ao
contrário, por exemplo, da redução da acidificação do oceano (cuja única causa
é o dióxido de carbono) que facilmente cumpre os quatro critérios, o problema
do lixo não é tão simples, em parte porque “o que aparece na praia não
necessariamente é um sinal do que ocorre no oceano”, destacou Sweeney.
“O lixo que chega aos mares se desloca por longas
distâncias, se tornam internacionais. É difícil encontrar seu dono”, explicou
Sweeney. Os dejetos se acumulam em torvelinhos em meio ao oceano, um fenômeno
de circulação da água que costuma atrair os materiais que flutuam. “O risco de
não conhecer a magnitude exata desses dejetos é que nos leva a pensar que é
muito grande para manejar”, destacou o coordenador do GPA. Mas, mediante a
sensibilização, se gera um “impulso” e agora se torna prioritário em diferentes
níveis.
“Eliminar a contaminação dos oceanos é uma
pretensão que não veremos em vida, mesmo se pararmos de jogar lixo no mar, o
que ainda não conseguimos. O custo é impensável. A maioria do lixo está fora de
nosso alcance. Além disso, limpar a superfície dos dejetos flutuantes levará
muito tempo”, acrescentou. “Embora haja diferentes causas para a contaminação
marinha em cada país, o denominador comum é que consumimos mais e geramos mais
lixo, e a maioria é plástico”, enfatizou.
Além disso, a falta de informação e de alto custo
para limpar a contaminação, os meios de execução ou de financiamento das metas
dos ODS relacionados com o oceano representam um desafio adicional para as
regiões. Na Grécia, se tomou consciência da crise quando Evangelos
Papathanassiou, diretor de pesquisa do Centro Helênico de Pesquisa Marinha em
Attiki, a 15 quilômetros de Atenas, relatou à imprensa ter encontrado uma
máquina de costurar a quatro mil pés (1.219 metros) de profundidade no Mar
Mediterrâneo.
“A contaminação marinha derivada da aquicultura, do
turismo e do transporte é mais urgente no Mar Negro e no Mar Mediterrâneo, mas
não recebem a atenção que merece”, destacou Sweeney. Para que a nova era de
desenvolvimento tenha sucesso, os seres terrestres devem prestar urgente
atenção ao mar e ao oceano, que pede ajuda aos gritos.
Um desafio adicional
Em países da Ásia Pacífico como China, Japão,
Rússia e Coreia do Sul foram criadas práticas replicáveis, segundo Alexander
Tkalin, coordenador do Plano de Ação do Pacífico Nordeste do Pnuma. “Coreia do
Sul e Japão são grandes doadores e ambos adotaram leis específicas relacionadas
com os desperdícios que chegam aos mares”, contou à IPS.
“O Japão mudou a legislação para incentivar a
limpeza de dejetos marinhos, ajustando a lei sob a qual, normalmente, paga-se
multa por contaminar, mas agora o governo paga às municipalidades para que
limpem as praias depois de um tufão, quando raízes e restos do solo marinho
estão espalhados na praia”, acrescentou Tkalin. Na Holanda e nos Estados Unidos
também há programas sólidos sobre lixo marinho, como no Haiti, segundo Sweeney.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário