Canabidiol mostrou eficácia na
melhora da qualidade de vida e bem-estar de pacientes com doença de Parkinson.
Estudo com canabidiol mostrou eficácia para
melhorar a qualidade de vida em pacientes.
Pela primeira vez em humanos, estudo com canabidiol
(CDB) mostrou eficácia para melhorar a qualidade de vida e bem-estar geral em
pacientes com Doença de Parkinson. Segundo um dos coordenadores da pesquisa,
professor José Alexandre Crippa, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
(FMRP) da USP, “com a vantagem de não ter apresentado nenhum efeito
colateral”.
O professor Crippa explica que até hoje todos
os medicamentos utilizados para tratar a Doença de Parkinson atuam
primordialmente no sistema dopaminérgico, conjunto de receptores da dopamina,
substância química que tem um papel fundamental no controle das funções
mentais e motoras, como a regulação da atenção, do estado de ânimo, a memória,
a aprendizagem e o movimento, por exemplo. “Essa pode ser a causa de
efeitos colaterais como alucinações, náuseas, delírios e de uma outra
complicação motora chamada discinesia tardia, entre outras”.
Para o professor, o CDB provavelmente atua no
sistema endocanabinoide, formado por um conjunto de neurotransmissores que são
semelhantes aos compostos químicos existentes na Cannabis sativa,
planta de onde é extraída a substância canabidiol. “Isso pode explicar a ausência
de efeitos colaterais e, com isso, dá um importante passo para uma nova opção
de tratamento da doença”, diz.
Outro aspecto apontado pelo pesquisador como
animador foi a ausência de flutuação nos sintomas psiquiátricos, ou seja, a
variação de humor comum em quem utiliza medicamentos para controle dos sintomas
não-motores da doença, como depressão e ansiedade, por exemplo, que se dão
entre os intervalos de uso dos medicamentos.
O estudo
Durante seis semanas, 21 pessoas com diagnóstico de Doença de Parkinson, sem demência ou problemas psiquiátricos, participaram do estudo. Os pacientes foram divididos em três grupos, um recebeu placebo, ou seja, somente com o óleo de milho, outro recebeu o CDB a 75mg/dia, dissolvido ao óleo de milho e o terceiro o CDB a 300mg/dia, também dissolvido ao óleo de milho. O estudo foi duplo-cego, ou seja, nem os pacientes nem os profissionais que os acompanharam sabiam a que grupo cada sujeito pertencia.
O canabidiol foi fornecido em forma de pó, com
99,9% de pureza (e sem qualquer traço de THC, a substancia responsável pelos
efeitos psicoativos da maconha), por uma empresa alemã. A droga dissolvida em
óleo de milho foi colocada em cápsulas de gelatina, que foram armazenadas em
frascos de vidro escuro. “As cápsulas somente com óleo de milho e com CDB foram
fornecidas em cápsulas idênticas”, afirmam os pesquisadores.
Todos os pacientes participantes do estudo foram
avaliados quanto aos sintomas motores e não motores da doença, por meio de
instrumentos que inclui o Parkinson Disease Questionnaire–39 (PDQ-39),
considerado atualmente o mais apropriado para avaliação da qualidade de vida e
de sensação de bem-estar do paciente com Parkinson, segundo os pesquisadores.
“Dentre os sintomas motores, podemos citar os tremores, sendo que entre os não
motores estão, por exemplo, a apatia e a depressão, sintomas comuns em quem tem
Parkinson”, relata o professor Crippa.
Após as seis semanas de uso do CDB e nova
avaliação, foi relatada percepção de melhora da qualidade de vida e do
bem-estar dos pacientes. “E esse relato foi feito pelo paciente e pelos seus
familiares, tanto para os sintomas motores, como os não motores. E foram
significantes para os que receberam CDB a 75mg/dia e, ainda maior, para os que
receberam o CDB a 300mg/dia”, comemora o professor.
Os resultados acabam de ser publicados no Journal
of Psychopharmacology, da Associação Britânica de Psicofarmacologia. Além
do professor Crippa, também participaram do estudo os pesquisadores Antonio
Waldo Zuardi, Vitor Tumas, Antonio Carlos dos Santos, Jaime Hallak, Marcos
Hortes Chagas, Márcio Alexandre Pena-Pereira, Emmanuelle Sobreira, Mateus
Bergamaschi, todos da FMRP, e Antonio Lucio Teixeira, da Universidade Federal
de Minas Gerais.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens.
Fonte: Agência USP de Notícias
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