Estudo revela transmissão do
estresse entre gerações.
Distúrbios podem impactar até quarta geração de
indivíduos submetidos a tensões. Pesquisa de professora da UnB é destaque em
revista internacional de medicina
Nascimento prematuro, elevados níveis de glicose e
retardo no desenvolvimento sensorial, muscular e esquelético são alguns dos
sintomas que as proles de animais submetidos a altos níveis de estresse podem
apresentar. Estudos desenvolvidos com ratos indicam a transmissão epigenética –
por influências ambientais na leitura do código genético sem alterações na
sequência do DNA – desses e de outros males. “Não somente os animais expostos
ao estresse apresentaram disfunções, mas também aqueles cujas avós passaram por
situações estressantes”, explica a pesquisadora Fabíola Zucchi, professora
substituta do Instituto de Biologia.
As análises fazem parte do pós-doutorado em
Neurociências de Fabíola desenvolvido na Universidade de Lethbridge, no Canadá,
em parceria com cientistas locais. Além dos problemas físicos, os filhotes de
animais estressados também apresentaram dificuldades cognitivas.
Segundo a pesquisadora, esses indivíduos demoravam
mais para realizar tarefas e tinham atraso nos movimentos. “O estresse
experimentado, seja ele de que forma for, demonstra ser transmitido por
gerações. E isso pode determinar problemas de saúde, como disfunções
endócrinas, metabólicas e comportamentais tanto na prole quanto na mãe”, diz.
Segundo a pesquisadora, há indicações de que a
transmissão do estresse também poderia ocorrer em humanos. Estudo correlato com
gestantes e fetos submetidos ao estresse e a fome na Holanda, durante a Segunda
Guerra Mundial, aponta para a ocorrência de implicações físicas. “Como se trata
de um país que manteve dados epidemiológicos de várias gerações, ficam mais
claras as evidências de distúrbios. Foram relatadas mudanças metabólicas e
problemas de saúde nos netos de mulheres grávidas expostas à fome”, afirma.
MÉTODO – Durante a pesquisa três gerações de ratas foram
submetidas a situações de estresse laboratoriais clássicas como o confinamento
em tubos e natação forçada. As roedoras prenhas passaram situações de estresse
do 12º ao 18º dias de gestação, período equivalente ao final do segundo e ao
terceiro trimestre gestacional em humanos. Acompanhou-se então por meio de
coleta de sangue e de tecidos fatores como ganho de massa, desenvolvimento e
glicemia em adultos e filhotes. O comportamento e o crescimento dos animais
também foram analisados.
As observações sugerem que os mecanismos de transmissão
do estresse e de se seus efeitos estejam ligados aos microRNAs, pequenas
sequências de RNA – molécula formada a partir do DNA. Os microRNAs não são
transformados em proteínas, como as moléculas de RNA mensageiro, mas podem
interferir na produção normal das proteínas presentes em todos os organismos
vivos.
Marcelo
Jatobá/UnB Agência
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REPERCUSSÃO – Os trabalhos de Fabíola Zucchi e de seu grupo de
pesquisa no Canadá seguem em andamento. Os resultados apresentados em agosto já
foram anunciados em 102 publicações científicas (algumas listadas abaixo). No
BMC Medicine, veículo inglês de ciências médicas, os estudos sobre a
transmissão do estresse estiveram entre os mais acessados e comentados no mês
de agosto.
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Confira o que já foi publicado sobre o estudo:
Toronto Sun - http://www.torontosun.com/2014/08/07/stress-during-pregnancy-can-affect-later-generations-study
Journal de Quebéc - http://www.journaldequebec.com/2014/08/07/le-stress-lors-de-la-grossesse-a-des-repercussions-sur-les-generations-suivantes
Jornal Extra - http://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/estresse-durante-gravidez-passado-para-filha-neta-bisneta-13515523.html
Por Hugo Costa, da UnB
Fonte: EcoDebate
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