quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Estudo revela transmissão do estresse entre gerações.
Distúrbios podem impactar até quarta geração de indivíduos submetidos a tensões. Pesquisa de professora da UnB é destaque em revista internacional de medicina

Nascimento prematuro, elevados níveis de glicose e retardo no desenvolvimento sensorial, muscular e esquelético são alguns dos sintomas que as proles de animais submetidos a altos níveis de estresse podem apresentar. Estudos desenvolvidos com ratos indicam a transmissão epigenética – por influências ambientais na leitura do código genético sem alterações na sequência do DNA – desses e de outros males. “Não somente os animais expostos ao estresse apresentaram disfunções, mas também aqueles cujas avós passaram por situações estressantes”, explica a pesquisadora Fabíola Zucchi, professora substituta do Instituto de Biologia.

As análises fazem parte do pós-doutorado em Neurociências de Fabíola desenvolvido na Universidade de Lethbridge, no Canadá, em parceria com cientistas locais. Além dos problemas físicos, os filhotes de animais estressados também apresentaram dificuldades cognitivas.

Segundo a pesquisadora, esses indivíduos demoravam mais para realizar tarefas e tinham atraso nos movimentos. “O estresse experimentado, seja ele de que forma for, demonstra ser transmitido por gerações. E isso pode determinar problemas de saúde, como disfunções endócrinas, metabólicas e comportamentais tanto na prole quanto na mãe”, diz.

Segundo a pesquisadora, há indicações de que a transmissão do estresse também poderia ocorrer em humanos. Estudo correlato com gestantes e fetos submetidos ao estresse e a fome na Holanda, durante a Segunda Guerra Mundial, aponta para a ocorrência de implicações físicas. “Como se trata de um país que manteve dados epidemiológicos de várias gerações, ficam mais claras as evidências de distúrbios. Foram relatadas mudanças metabólicas e problemas de saúde nos netos de mulheres grávidas expostas à fome”, afirma.

MÉTODO Durante a pesquisa três gerações de ratas foram submetidas a situações de estresse laboratoriais clássicas como o confinamento em tubos e natação forçada. As roedoras prenhas passaram situações de estresse do 12º ao 18º dias de gestação, período equivalente ao final do segundo e ao terceiro trimestre gestacional em humanos. Acompanhou-se então por meio de coleta de sangue e de tecidos fatores como ganho de massa, desenvolvimento e glicemia em adultos e filhotes. O comportamento e o crescimento dos animais também foram analisados.

As observações sugerem que os mecanismos de transmissão do estresse e de se seus efeitos estejam ligados aos microRNAs, pequenas sequências de RNA – molécula formada a partir do DNA. Os microRNAs não são transformados em proteínas, como as moléculas de RNA mensageiro, mas podem interferir na produção normal das proteínas presentes em todos os organismos vivos.

Marcelo Jatobá/UnB Agência
REPERCUSSÃOOs trabalhos de Fabíola Zucchi e de seu grupo de pesquisa no Canadá seguem em andamento. Os resultados apresentados em agosto já foram anunciados em 102 publicações científicas (algumas listadas abaixo). No BMC Medicine, veículo inglês de ciências médicas, os estudos sobre a transmissão do estresse estiveram entre os mais acessados e comentados no mês de agosto.

 Confira o que já foi publicado sobre o estudo:








Por Hugo Costa, da UnB

Fonte: EcoDebate

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