Um grito
de socorro.
Ka’apor instalam câmeras de vigilância na floresta
para identificar a ação de madeireiros ilegais. Foto: ©Greenpeace/Lunaé
Parracho.
As inúmeras denúncias de ameaças contra o povo
Ka’apor, da TI Alto Turiaçu, continuam sem resposta. A omissão do Estado – que
nada tem feito para inibir as agressões praticadas por madeireiros – contribui
para a escalada de violência na região. Para piorar, uma das aldeias está
cercada pelo fogo.
Parece notícia repetida, mas não é! Há pouco mais
de uma semana o Greenpeace relatou mais uma das inúmeras ameaças que o povo
indígena Ka’apor, da Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, vem sofrendo no
Maranhão. Infelizmente, de lá pra cá as ameaças aumentaram e continuam
assombrando esse povo.
No dia 23 de setembro o Conselho de Gestão Ka’apor
divulgou uma carta pública denunciando novas ofensivas contra a
população indígena e a ausência do poder público na região. De
acordo com o grupo, homens armados vêm rondando a TI Alto Turiaçu e as
lideranças estão sendo fortemente perseguidas por pistoleiros. Enquanto o
Estado se omite e não toma uma atitude, a situação na região só piora e mais
mortes podem vir a ocorrer.
Pior: em represália às ações de vigilância do
território, os Ka’apor apontam que madeireiros e fazendeiros estão colocando
fogo nos limites da terra indígena e o fogo já cercou uma das aldeias. A
situação é muito difícil e o clima é de tensão total.
Segundo os Ka’apor, desde o dia 1º de outubro, três
ramais que haviam sido fechados pelos “guardiões da floresta” – como são
chamados os Ka’apor responsáveis pela fiscalização autônoma de seu território –
foram reabertos por madeireiros que agora contam com escolta de pistoleiros.
Sabendo que os indígenas fazem de forma independente a vigilância de seu
território, sem contar com qualquer apoio do poder público, os madeireiros
instauram uma guerra contra esse povo, especialmente nos municípios de Zé Doca,
Nova Olinda do Maranhão e Centro do Guilherme. E, na calada da noite, continuam
roubando madeira de dentro da TI.
No início de setembro, o Greenpeace esteve com os
Ka’apor para apoiar o monitoramento autônomo feito pelos índios, que passou a
integrar o uso de tecnologia às atividades de proteção do seu território
tradicional. Porém as autoridades continuam inertes. A aldeia Ximborendá, onde
morava Eusébio Ka’apor, assassinado em 26 de abril de 2015,
está também cercada de pistoleiros. Há relatos também de que mulheres indígenas
estão sendo abordadas por homens armados e encapuzados na entrada de suas
aldeias.
“A cada semana existe um novo episódio lamentável,
que coloca em risco a vida dos Ka’apor. A violência e a brutalidade contra os
povos da floresta não é novidade para ninguém. Mesmo estes sendo os verdadeiros
protetores da Amazônia, eles parecem ser invisíveis para o poder público, que
dessa forma acaba sendo cúmplice desses crimes”, afirma Marina Lacôrte, da
Campanha da Amazônia do Greenpeace. “Dez dias ao lado dos Ka’apor e de sua luta
para proteger seu território nos deu uma visão muito clara da realidade
assustadora enfrentada por este povo. Se não fossem eles e outros povos da
região, o pouco que resta da Amazônia maranhense provavelmente não existiria
mais, no entanto isto tem custado suas vidas”, complementa.
Há mais de 20 anos os Ka’apor sofrem com a invasão
de seu território por parte dos madeireiros ilegais da região. Como resultado,
8% da área já foi desmatada. Mais recentemente, em 2013, depois de um
importante processo de reafirmação dos valores de sua cultura, os Ka’apor
assumiram a proteção de seu território e da floresta com as próprias mãos. No
entanto, estão pagando um preço muito alto, já que por conta disto as ameaças
aumentaram intensamente e os Ka’apor não contam com qualquer intervenção das
autoridades para proteger a eles e a seu território.
Desde maio de 2014 o Greenpeace vem mostrando
continuamente que a indústria madeireira está fora de controle. Por não ser
possível confiar em papéis oficiais, quando se compra madeira da Amazônia
brasileira, na verdade, pode-se estar levando para casa a destruição da floresta
e a violência contra esses povos. “A extração predatória e ilegal de madeira é
o grande gatilho de conflitos como estes sofridos pelos Ka’apor. O Estado
precisa proteger esses territórios e seus povos, além de acabar agora com a
extração ilegal de madeira para atingir a raiz do problema! Fechar os olhos só
contribui para que o grau de violência continue aumentando e para que mais
assassinatos aconteçam no coração da floresta”, conclui Lacôrte.
Fonte: Greenpeace Brasil
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