Mortalidade
materna cai 44% no mundo.
A atenção à mãe durante a gravidez, o parto e o
pós-parto é essencial para reduzir a mortalidade materna. Foto: Governo do
município de Tigre, Buenos Aires, Argentina.
Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 16/11/2015 – Quando governantes de
todo o mundo adotaram os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), em
setembro de 2000, um dos mais comentados foi o compromisso de reduzir a pobreza
extrema e a fome até o final de 2015. Mas o ODM número cinco, de reduzir em 75%
a taxa de mortalidade materna até o final deste ano, recebeu muito menos
atenção, apesar de ser igualmente importante.
Um novo informe, intitulado Tendências na
Mortalidade Materna: 1990 a 2015, divulgado na semana passada, assegura que
a mortalidade materna diminuiu 44% desde 1990. Embora este seja um avanço
considerável, não chega a cumprir o ODM correspondente, segundo o informe conjunto
da Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef), Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Banco Mundial e Divisão
de População da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em todo o mundo, de 532 mil mortes maternas em 1990
se passou para 303 mil este ano, segundo o documento, último de uma série que
analisa o cumprimento dos ODM. Isso equivale a uma relação estimada de 216
mortes maternas para cada cem mil nascidos vivos, contra 385 em 1990. A morte
materna se define como a morte de uma mulher durante a gravidez, o parto ou
dentro das seis semanas posteriores ao nascimento.
Apesar dos avanços, apenas nove países atingiram a
meta do ODM 5: Butão, Cabo Verde, Camboja, Irã, Laos, Maldivas, Mongólia,
Ruanda e Timor Leste.
“Os ODM desencadearam esforços sem precedentes para
reduzir a mortalidade materna”, afirmou Flavia Bustreo, subdiretora geral do
Departamento de Família, Mulher e Saúde Infantil da OMS. “Nos últimos 25 anos,
o risco de que uma mulher morresse por causas relacionadas com a gravidez caiu
quase pela metade. Isso é um progresso real, embora não suficiente. Sabemos que
praticamente podemos pôr fim a essas mortes até 2030, e nos comprometemos a
trabalhar para isso”, ressaltou.
O êxito desse objetivo exigirá um esforço muito
maior, segundo Babatunde Osotimehin, diretor-executivo do UNFPA. “Muitos países
com altas taxas de mortalidade materna terão poucos avanços, ou até ficarão
atrasados, nos próximos 15 anos, se não melhorarmos o número atual de parteiras
e outros trabalhadores da saúde com conhecimentos de parto. Se não realizarmos
um grande impulso agora, em 2030 estaremos, novamente, diante de uma meta
perdida na redução da mortalidade materna”.
O informe destaca que assegurar o acesso a serviços
sanitários de alta qualidade durante a gravidez e no parto ajuda a salvar
vidas. Entre as intervenções sanitárias consideradas essenciais estão a prática
de boa higiene para reduzir o risco de infecção, injeção de oxitocina
imediatamente após o parto para reduzir o risco de hemorragia, identificar e
atender situações potencialmente mortais, como pressão arterial alta induzida
pela gravidez, e garantir às mulheres o acesso a serviços de saúde sexual e
reprodutiva e ao planejamento familiar.
“Como vemos com todos os ODM relacionados à saúde,
para reduzir a mortalidade materna, é necessário complementar o fortalecimento
do sistema de saúde com a atenção a outras questões”, pontuou a subdiretora
executiva do Unicef, Geeta Rao Gupta. “A educação das mulheres e meninas, em
particular das mais marginalizadas, é crucial para sua sobrevivência e a de
seus filhos. A educação lhes dá os conhecimentos necessários para desafiar as
práticas tradicionais que implicam um perigo para elas e seus filhos”,
destacou.
No final deste ano, 99% das mortes maternas no
mundo terão ocorrido no sul em desenvolvimento, e 66% desses óbitos se
concentrarão especificamente na África subsaariana. Porém, isso representa uma
importante melhora. A mortalidade materna caiu 45% nessa região, passando de 987
para 546 mortes para cada cem mil nascidos vivos, entre 1990 e 2015, de acordo
com o informe.
O maior avanço entre as regiões ocorreu na Ásia
oriental, onde a redução foi de 95 para 27 mortes maternas para cada cem mil
nascidos vivos, ou 72%. No Norte industrializado, a mortandade materna diminuiu
48% nos últimos 25 anos, de 23 para 12 para cada cem mil.
Além da pobreza e da fome, os ODM também incluem
metas para eliminar o HIV/aids, oferecer moradia adequada, promover a igualdade
de gênero, conseguir educação universal, proteger o ambiente mundial e
construir uma aliança global Norte-Sul para o desenvolvimento.
Em uma reunião de cúpula em setembro, os chefes de
governo e de Estado do mundo adotaram 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), os sucessores dos ODM, com o propósito de serem cumpridos
até 2030. A meta dos ODS é reduzir a mortalidade materna para menos de 70 para
cada cem mil nascidos vivos, em nível mundial. Para conseguir isso será preciso
triplicar o ritmo de avanço atual, de 2,3% em relação à mortalidade materna
registrada entre 1990 e 2015, para 7,5% anual a partir do próximo ano.
“Os ODS que propõem erradicar as mortes maternas
até 2030 é ambicioso e viável, desde que redobremos nossos esforços”, enfatizou
Tim Evans, diretor de Saúde, Nutrição e População do Banco Mundial.
Fonte: ENVOLVERDE
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