Mariana:
essa não é uma tragédia ambiental.
Bombeiros fazem busca por desaparecidos em Bento
Rodrigues. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil.
O que aconteceu em Mariana é uma catástrofe para as
vítimas, para a região, para o país e para o mundo. É uma tragédia e ponto!
Por Reinaldo Canto –
O rompimento das barragens de rejeitos de mineração
da Samarco, em Mariana (MG) é mais um entre muitos exemplos de desleixo e falta
de responsabilidade que congrega e une todos os setores diretamente e
indiretamente envolvidos com a fiscalização e o sempre demonizado licenciamento
ambiental.
A destruição ainda está longe de conseguir ser
devidamente contabilizada, pois o movimento da onda de rejeitos continua a
espalhar seu legado de terror sepultando em seu caminho onde antes existia
vida, rios, plantas, animais, cidades e pessoas. As próprias autoridades já
decretaram a morte de Bento Rodrigues, pois o distrito de Mariana não deverá
ser uma localidade habitável tão cedo. Faltam ainda também descobrir os danos
que serão causados na passagem dessa lama pelo estado do Espírito Santo.
A multa de R$ 250 milhões aplicada recentemente
pelo Governo Federal à Samarco representa apenas um pequeno paliativo quando o
que deveria ter sido feito é trabalhar a prevenção evitando o caos e não a
remediação caso dessa multa e, com certeza, das muitas declarações indignadas
já divulgadas e as outras mais que certamente ainda virão. Atividades suspensas,
novas multas e até mesmo o encerramento dos trabalhos realizados nessa planta
mineradora são esperados, mas nem de longe vão compensar o absurdo desse
acontecimento.
E como neste nosso Brasil varonil, desgraça pouca é
bobagem, o que, no mínimo deveria servir como alerta para evitar novos casos
semelhantes, eis que o nosso Congresso Nacional, aquele já devidamente
identificado como o mais reacionário desde os tempos da ditadura, está a
discutir o afrouxamento das leis que tratam exatamente dos riscos ambientais de
grandes obras.
Em recente artigo, Mauricio Guetta, advogado e assessor do
Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental
(ISA), apontou que entre outros, tramita um projeto de Lei, o de número
654/2015, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), criando um “diminuto rito de
licenciamento ambiental” para os empreendimentos de infraestrutura
“estratégicos para o interesse nacional”, tais como, rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos e de energia ou quaisquer outros destinados à
exploração de recursos naturais. Para o advogado do ISA, isso significa,
simplesmente que “as obras com maior potencial de causar significativos danos
socioambientais seriam justamente às que seriam contempladas com menores
controles e prevenção”.
Poderia e deveria ser uma brincadeira de mau gosto,
mas com certeza não é! Até porque historicamente, quaisquer medidas
compensatórias ou preventivas sempre foram consideradas empecilhos ao
desenvolvimento. Mesmo que a realidade se imponha, a ganância ainda consegue
prevalecer em detrimento do futuro.
O circo de horrores provocado pela lama da Samarco
está longe de cumprir seu roteiro destruidor. Mas, pelo que podemos vislumbrar
ao cessar esse espetáculo nefasto, nossas autoridades certamente irão nos
contemplar com novos capítulos, já que para isso já vimos que empenho não
deverá faltar.
O que poderíamos tentar, ao menos, é usar as
expressões mais próximas da realidade, como por exemplo, substituindo
licenciamento ambiental, simplesmente por “licenciamento responsável e
sustentável para o futuro de todos” e nomear corretamente uma tragédia como tal
e não como ambiental. Basicamente, porque para muitos, a tragédia ambiental
ainda soa como algo distante da vida das pessoas, o que demonstra cabalmente a
sua inverdade no caso da Samarco.
Tragédias que matam pessoas, destroem casas,
sepultam rios e consomem florestas são tragédias, simples e tragicamente assim!
* Reinaldo Canto é jornalista especializado
em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência
Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de
televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil,
coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e
colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da
Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da
ONG Iniciativa Verde.
Fonte: ENVOLVERDE
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