Cidades
mantêm erros do século 20.
Segundo o documento, as chuvas em São Paulo podem
subir 13,9% e a temperatura ser elevada em 3,9%. Foto: Paulo Pinto/ Fotos
Públicas.
Apesar de responsáveis por 70% das emissões de
gases do efeito estufa, que elevam a temperatura da Terra, as cidades caminham
lentamente para se tornar sustentáveis. No Rio de Janeiro, obras de aterros
agravam o cenário e podem elevar os impactos da alteração do clima, como a
transmissão de doenças, problemas de saúde e desastres naturais.
O alerta é do Núcleo Latino-americano da Rede de
Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Urbanas, lançado esta semana, pela Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com instituições de pesquisa
internacionais. A entidade reúne 600 cientistas de 150 países e apresentará na
Conferência do Clima, em Paris, relatório sobre os impactos que já estão
ocorrendo.
Segundo o documento, no Rio a previsão é que a
temperatura suba 3,4 graus Celsius (Cº) até 2080, com aumento de 82 centímetros
do nível do mar e 6% no volume de chuvas. Em São Paulo, as chuvas podem subir
13,9% e a temperatura ser elevada em 3,9% – dentro da média prevista para as
demais cidades do planeta, que terão entre 1º C e 4º C de aumento.
Um das autoras da publicação, a professora do
Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica
(PUC-Rio), Cecilia Herzog, alerta que, no Rio, novas edificações, que suprimem
áreas naturais, somadas à ausência de projetos para preservar e potencializar
áreas verdes, desprezam evidências científicas dos riscos à população..
“ Nesse momento, na zona oeste, na Barra da Tijuca,
áreas para acomodar águas (de chuva e das marés, por exemplo) estão sendo
aterradas violentamente nesse momento. Ou seja, apesar das evidências, estamos
repetindo os erros de século 20”, alertou.
Ela criticou também a construção do novo autódromo
da cidade, em substituição ao que será demolido para dar lugar ao Parque
Olímpico, na zona oeste, e previsto para ser erguido pelo governo federal em
área de floresta. Por falta de licença ambiental, a obra está parada.
Mudanças do clima traz doenças
Nas cidades, as mudanças do clima, além de
descontrolar a temperatura, provocam problemas de saúde e doenças.
Tempestades e inundações são responsáveis por
ferimentos, infecções, casos de hepatite, leptospirose e diarreia, por exemplo,
constatou o relatório do núcleo.
Em cidades temperadas, o calor aumenta o número de
insetos e mosquitos transmissores de doenças como dengue e malária, acrescentou
a pesquisadora da Fiocruz Martha Barata, que coordena o Núcleo Latino-americano
da Rede de Pesquisas. Segundo ela, mudanças no clima geram estresse, alergias e
doenças cardiorrespiratórias.
A recomendação dos especialistas é reduzir a
emissão de gases do efeito estufa, principalmente da queima de combustíveis, o
vilão nas cidades, além de se investir em projetos que reduzam impactos
desastres, entre eles a criação de parque e tetos verdes nos prédios.
“ São estratégias que facilitam a absorção de água
da chuva, retem a umidade do ar, combatendo efeitos como ilha e calor e
capturando o gás carbônico”, explicou Cecilia Herzog.
A pesquisadora apresentou experiência inovadora em
Seattle, nos Estados Unidos, onde um estacionamento foi substituído por um
parque. “Havia um córrego canalizado – que é o que mais temos no Rio – para um
estacionamento. A cidade acabou com o estacionamento e criou um parque, uma
área de lazer, permitindo novos ecossistemas. É a volta à vida.”
Cidades mais resilientes
Conforme a prefeitura do Rio, a cidade está em
transição e as mudanças são graduais . Especialistas listam experiências
inéditas no país, como o veículo leve sobre trilhos, que retirará ônibus das
ruas, e a implantação de sirenes de alerta em áreas de risco de deslizamento em
favelas. Outro destaque é a construção de reservatórios para evitar alagamentos
em áreas centrais.
“ Por conta do piscinão [contra enchentes] na Praça
da Bandeira, o Rio está incluído na relação de práticas bem-sucedidas entre as
grandes cidades do mundo”, lembrou Rodrigo Pessoa, assessor do prefeito Eduardo
Paes para o tema. “As questões que o Rio enfrenta (transporte e revitalização
de áreas degradadas) outras cidades também enfrentam. Não estamos atrás.”
Cidades na Conferência do Clima
Na Conferência do Clima, as experiências do Rio e
de Seatle serão apresentadas em encontro paralelo, junto com a de Oregon,
também nos EUA, que instalou luzes LED (mais econômicas) em espaços públicos, e
a de Paris, que, assim como São Paulo, amplia zonas com a redução da velocidade
dos carros para reduzir a emissão de gases dos combustíveis.
“ As cidades precisam começar agora a identificar
áreas de risco e planejar ações sustentáveis. Não há como impedir as mudanças
climáticas, mas minimizar o impacto, o que é urgente”, afirmou a cientista
Cynthia Rosenzwig, uma das diretoras globais da rede.
Fonte: Agência Brasil
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