A vez da
agricultura inteligente.
A agricultura climaticamente inteligente é popular
entre muitos zimbabuenses que tiveram que enfrentar a escassez de alimentos.
Isso fez com que muitas áreas, como o distrito de Mwenezi, na província de
Masvingo, que costumavam ser secas e inaptas para a agricultura, se tornaram,
pouco a pouco, produtivas. Foto: Jeffrey Moyo/IPS.
Por Jeffrey Moyo, da IPS –
Harare, Zimbábue, 19/11/2015 – A seca, que causa
estragos em vastas áreas do Zimbábue, empurra muitas pessoas para a agricultura
climaticamente inteligente, para que possam enfrentar a escassez de alimentos.
A agricultura inteligente é uma prática que reduz a exposição, a sensibilidade
e a vulnerabilidade dos cultivos diante da mudança climática e da variabilidade
climática, sendo um resultado de tecnologias que aumentam de forma sustentável
a produtividade e ajudam os agricultores a se adaptarem às consequências do
aquecimento do planeta.
Segundo a organização Environment Africa, essa
forma de cultivo ajuda os agricultores do Zimbábue que estão em problemas. “A
agricultura climaticamente inteligente ajuda a reduzir as emissões de
gases-estufa e permite que os produtores possam enfrentar as variações do clima
e os eventos extremos, o que melhora a produtividade e a renda, e constrói a
resiliência de agricultores com poucos recursos”, explicou à IPS o diretor da
entidade, Barnabas Mawire.
Muitos agricultores, como Livias Gawure, no
distrito de Mwenezi, na província de Masvingo, são uma prova viva dos
benefícios da agricultura inteligente. “A seca é um problema do passado para
mim, depois que coloquei em prática cada aspecto da agricultura climaticamente
inteligente para estar acima da mudança climática aqui nas baixas veld
(pradarias sul-africanas), onde costumávamos ter uma magra produção”, afirmou à
IPS. “Me converti em um orgulhoso produtor de milho e sorgo, entre outros
pequenos grãos, que me dão lucro todos os anos, apesar de a região sofrer uma
seca”, acrescentou.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), mais de 70% dos 14 milhões de habitantes do
Zimbábue dependem principalmente da agricultura, mas costumam ter baixa
produtividade em razão do impacto da mudança climática. “Os zimbabuenses
costumam praticar a agricultura climaticamente inteligente, de uma ou de outra
forma, de maneira mais ou menos consciente”, contou Gawure.
É uma atividade que se incentiva nesse país, dando
destaque à agricultura de conservação. Outra prática que já foi incorporada
pelos zimbabuenses é a diversificação entre diferentes cultivos tolerantes à
seca, como os pequenos grãos e as variedades com menor tempo de maturação,
explicou à IPS David Phiri, subcoordenador regional da FAO para a África
austral.
Alguns agricultores como Gawure, em uma região
agroecológica marginal, optaram por reduzir seus cultivos e se concentrar mais
na atividade pecuária. Esses produtores não só diversificaram sua atividade, se
voltando à criação de animais, como escolheram animais resistentes à falta de
água, com cabras e aves autóctones.
Nesse país há cerca de dois milhões de pessoas que
passam fome, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA). Na medida em que
aumenta o déficit de alimentos, a agricultura climaticamente inteligente se
converteu em uma boa alternativa para muitos zimbabuenses sem situação
vulnerável.
“Tenho que agradecer às organizações cuja
experiência em mudança climática nos ajudaram a combater o fenômeno, e agora,
graças à agricultura climaticamente inteligente, estamos melhor preparados para
situações de seca”, testemunhou à IPS Tambudzai Musina, viúva que mora no
distrito de Mwenezi. Ela acrescentou que a mudança climática obrigou muitos
indígenas como ela a adotarem essa prática. “Para superar a incessante falta de
alimentos, dissemos sim à agricultura climaticamente inteligente e de forma
gradual vencemos a fome”, ressaltou.
Decididos a se livrar da fome, muitos zimbabuenses
como Musina e Gawure também se voltaram aos poucos à coleta de água, à
construção de aterros, e ao uso de técnicas como cobrir o terreno com os restos
da colheita, além de cultivar variedades tolerantes à seca, outra forma de
agricultura inteligente, que melhora sua capacidade de enfrentar eventos
climáticos extremos.
“As tecnologias climaticamente inteligentes
praticadas no Zimbábue não são totalmente novas para os agricultores, mas agora
têm mais sentido do que nunca diante da mudança climática e, por isso, se
voltaram à agricultura inteligente”, afirmou Phiri. Essa agência da ONU
implantou um projeto de três anos, com fundos da União Europeia, em alguns
distritos escolhidos nas oito províncias rurais do Zimbábue. A iniciativa, que
durou de 2010 a 2013, ampliou a agricultura de conservação entre os pequenos
cultivadores.
Segundo Phiri, “os produtores que adotaram práticas
agrícolas de conservação conseguiram, por exemplo, obter colheitas decentes, em
comparação com os que não as adotaram. O mesmo ocorre para os que se voltaram a
cultivos e variedades tolerantes à seca. Quanto à segurança alimentar
doméstica, as famílias que usam tecnologias climaticamente inteligentes
conseguiram garantir sua alimentação, ressaltou. “Os zimbabuenses compreendem
que a mudança climática é real e que suas práticas precisam mudar, com adoção
de tecnologias de cultivo de conservação, para garantir a segurança alimentar
para a família”, acrescentou.
Mawire pontuou à IPS que “a maioria dos
agricultores pobres que responderam ao chamado mudaram completamente suas
práticas agrícolas e parecem adaptar-se aos impactos adversos da mudança
climática”. Muitos produtores como Gawure avançaram mais um passo na prática da
agricultura climaticamente inteligente. “Construí reservatórios de água para
capturar água da chuva, e, como muitos agricultores locais, agora posso
cultivar graças a pequenos sistemas de irrigação até três meses depois que
deixou de chover”, contou.
Outra prática climaticamente inteligente que o
Zimbábue emprega é o agroflorestamento, que integra várias atividades
agropecuárias e implica, por exemplo, a plantação de árvores junto com cultivos
tolerantes à seca, como milho ou sorgo, para estabilizar e enriquecer o solo.
As coisas também melhoram no nível doméstico. “Existe maior segurança
alimentar, a capacidade de produtividade da terra se mantém e há uma boa
recuperação de terrenos degradados”, destacou Mawire.
Fonte: ENVOLVERDE
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