Crise
climática pode levar 720 milhões à miséria.
A seca de 2011 no Quênia dificultou o acesso a água
potável. Foto: Marisol Grandon/UK Department for International Development/Flickr.
Eventos climáticos extremos podem colocar em risco
os avanços na redução da pobreza até agora, diz estudo; pico de emissões de gases
de efeito estufa deve ser atingido em 2030.
Por Cíntya Feitoda, do OC –
Se não agirmos agora para reduzir o risco de
efeitos mais severos das mudanças climáticas, 720 milhões de pessoas podem
ficar em situação de pobreza extrema. A conclusão é de um relatório do Overseas Development
Institute (ODI), que afirma que erradicar a miséria é possível, mas
depende de ações efetivas contra o aquecimento do planeta.
Isto porque, se não controladas, as mudanças
climáticas levarão ao aumento do que chamamos de eventos climáticos extremos –
secas severas, mudanças no regime de chuvas, enchentes, aumento do nível do mar
–, que por sua vez levam a deslocamentos populacionais, redução da
produtividade no campo, escassez e aumento do preço de alimentos e a um
consequente problema de nutrição.
Os dados se baseiam nas estimativas de emissões no
cenário business-as-usual – ou seja, se nada for feito em relação ao atual
nível de emissões de gases causadores do efeito estufa –, em que a estimativa é
de um aquecimento global próximo a 4ºC. O estudo afirma que, para que as
medidas de erradicação da miséria se concretizem, o pico de emissões deve
ocorrer em 2030, e que em 2100 as emissões devem ser próximas a zero.
O documento “Pobreza Zero, Emissões Zero” aponta
que acabar com a pobreza extrema em tempos de crise climática é necessário e
compatível. “A erradicação da pobreza não pode ser mantida sem profundos cortes
dos grandes emissores de gases de efeito estufa”, sugerem os autores. “É
incoerente para os grandes países emissores, especialmente os industrializados,
apoiar a erradicação da pobreza como prioridade de desenvolvimento enquanto não
mudarem a sua própria economia em direção a uma via de emissões líquidas zero.”
Isto porque, diz o estudo, os custos de adaptação tornam-se implausíveis em um
cenário de aquecimento global acima de 2ºC até o fim do século.
Figura mostra número de pessoas que podem ser
afetadas por eventos climáticos extremos. Fonte: ODI.
Um mundo dois graus mais quente em relação ao
período pré-industrial é o limite considerado seguro pelos cientistas para que
os efeitos das mudanças climáticas sejam menos graves. A COP 21 (Conferência do
Clima das Nações Unidas em dezembro deste ano) tem o objetivo de gerar um
acordo entre os países para limitar as emissões dos gases causadores do efeito
estufa, além de mecanismos para auxiliar a adaptação dos países mais
vulneráveis às consequências das mudanças climáticas.
A análise indica ainda que sustentar o crescimento
econômico nos países em desenvolvimento é crucial para a erradicação da
pobreza, mas é provável que o crescimento seja mais moderado e menos eficaz na
redução da pobreza extrema nas próximas décadas do que tem sido atualmente.
Alcançar este objetivo depende, além de frear as mudanças climáticas, de acesso
a boa nutrição, educação e melhores condições de trabalho.
Além disso, o relatório também exemplifica a
influência de ações de mitigação (ou seja, ações para atenuar as mudanças
climáticas) em benefícios econômicos. Por exemplo, práticas agrícolas com
baixas emissões de gases de efeito estufa podem levar ao incremento de
produção; investimentos em energias renováveis e geração de energia distribuída
ampliariam acesso à energia a custos mais baixos; melhorias em transportes
públicos levariam à redução de doenças relacionadas à poluição, além de
aumentar a produtividade nos grandes centros e reduzir custos com deslocamento.
Fonte: Observatório do Clima
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