Educação:
diálogos igualitários.
Eliane Curvelo. Foto: Divulgação
Por Eliana Curvelo*
Pensar a educação é mais fácil, muito mais fácil,
do que agir na e para a educação. Agir significa tomar uma atitude e, assim
provocar mudanças nas zonas de conforto de cada indivíduo.
As últimas notícias sobre a educação no Estado de
São Paulo descrevem a “reorganização” das escolas. Como tudo, toda mudança pode
ser bem ou mal conduzida. Independentemente de qual lado se esteja, isto não
foi decidido por uma pessoa só, existiram pessoas que estudaram e se debruçam
sobre as mudanças e transformações que deveriam ocorrer nas estruturas
educacionais nas escolas públicas estaduais de São Paulo. Segundo o site da
Secretária da Educação do Estado de São Paulo[1], a reorganização foi discutida
com os dirigentes e educadores. Entretanto, não existe nenhuma palavra
referente à participação dos estudantes e famílias.
E, é por esta lacuna de comunicação que ensejo o
meu pensar sobre este assunto tão árido. Numa reflexão parcial, superficial e
pessoal há o questionamento sobre o modelo atual de educação. As experiências
dos professores (efetivos) nas escolas estaduais são de relatos, em sua
maioria, da precariedade das condições físicas e humanas no ambiente
educacional. Para os professores, os alunos freqüentam a “escola” e, por vezes
não estão na “aula” e, cada vez mais não conseguem interpretar textos ou sequer
fazer as operações matemáticas básicas.
Neste contexto, entendo que o papel da escola e
seus partícipes não estão conseguindo atingir o seu propósito: educar suas
crianças e jovens para a transformação de sua realidade social. São crianças e
jovens que continuam à margem da sociedade. E, são estes, nesta condição, que
mesmo assim se mobilizaram pela escola. E porque ninguém lhes explicou nada,
cada um vai assumindo um discurso, que para os efeitos de comunicação podem
surtir um mal-estar que pode ser utilizado pelas forças contrárias de poder –
poder de uns sobre os outros.
Acredito que nesta mobilização poderá haver uma
transformação na forma de entender o que é ser educado. Os jovens ocuparam as
escolas, os professores e os pais estão presentes levando água e ou alimentos,
estão participando de todas as decisões em defesa da escola pública e da
aprendizagem que deve ser realizada dentro do espaço escolar. Decisões que, se
bem conduzidas, poder-se-ia iniciar o diálogo, inclusive com os que
determinaram as mudanças.
Há os que possam dizer: Não nos ouvem! Há os que
podem dizer: Precisamos DIALOGAR[2]!
Um diálogo em que não houvesse a imposição de lados
certos ou errados. Eis o segredo, este diálogo seria um “diálogo aberto e
igualitário” no qual os “argumentos são avaliados por seu próprio valor
intrínseco (afirmação de validade) e não devido a posição de poder daqueles que
o promovem (afirmações de poder)” (FLECHA, 2013, p. 371). Este tipo de diálogo
igualitário é utilizado nas comunidades de aprendizagem e têm sido um
instrumento que vislumbra a participação efetiva de todos, principalmente dos
pais dentro da escola em que formam grupos interativos cujo papel principal é
gerar solidariedade e sucesso nas aprendizagens.
Voltando aos responsáveis pela “reorganização” das
escolas, segundo o site, as modificações e estruturais decorrem da avaliação
das estatísticas que demonstram melhora no nível de aprendizagem dos estudantes
em escolas com um só ciclo.
Podemos nos enganar, tudo e todos podem nos
enganar. Mas, como utopia, acreditar que, ambos os lados – sociedade civil X
estado – deveriam dialogar, é no mínimo propor alternativas para romper com a
cultura da queixa e não nos mantermos em zonas de conforto que não são zonas de
conforto.
Dialogar não significa bater na mesa e muito menos
impor formas de pensamento. Ambos os lados, acredito, desejam o sucesso
acadêmico para todos sem discriminação. Portanto, precisam aprender e adquirir
habilidades comunicativas, entendendo as posições uns dos outros.
Devemos considerar que no diálogo a “comunicação é
muito mais que palavras; ela inclui olhares, tons de voz, gestos e muito mais
nos relacionamentos entre professores, experientes, membros da família e
estudantes” (FLECHA, 2013, p. 375). Desta forma, a prática de considerar a
todos como iguais, será um exercício pleno de aprendizagem humana.
Mais que defender um ponto de vista é preciso ter a
habilidade de manter um caleidoscópio em mãos e usá-lo para a poesia do
encontro das possibilidades humanas de dialogar para mudar e, portanto agir.
* Eliana Curvelo é educadora escreve a
coluna Ágora sobre Educação ao Agência14News.
Fonte: Agência14News
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