Maior
acordo climático do século bate à porta.
Foto: Shuttertock
Acordo de Paris deve ser assinado em dezembro
durante a COP 21; Alterações do clima estão cada vez mais presentes.
Muito se tem falado sobre a 21ª Conferência
das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21) que
acontece em dezembro em Paris, na qual deverá ser assinado o Acordo de Paris,
documento que substituirá o Protocolo de Kyoto, que termina sua vigência em
2020.
Mas por que os ânimos estão tão aflorados? Por que nunca se viu tanta
movimentação com relação a um acordo climático? A resposta é simples: porque o
que antes eram apenas previsões negativas nas quais uns acreditavam e outros
não, agora é realidade. E as pessoas estão sofrendo.
Dessa forma, é preciso garantir que esse novo
acordo entre mais de 190 países estipule uma redução de emissão de Gases de
Efeito Estufa (GEEs), mantendo o aumento da temperatura média global abaixo de
2ºC até 2100. Essa referência é apontada por especialistas como um limite
‘aceitável’ e, se ultrapassarmos, as consequências serão mais extremas.
“Não é difícil imaginar esse cenário visto que as
mudanças climáticas já estão sendo sentidas em diversas partes do mundo, com
secas e ondas de calor severas, chuvas fortíssimas e duradouras, furacões e
outros fenômenos climáticos extremos”, afirma André Ferretti, gerente de
estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza,
uma das instituições que fazem parte do Observatório do Clima – rede de ONGs e
movimentos sociais que atuam na agenda climática brasileira.
Nesse contexto, até mesmo representantes de países
que historicamente não se comprometiam com metas de redução de Gases de Efeito
Estufa – como Estados Unidos e China, estão agindo mais efetivamente,
anunciando seus objetivos para os próximos anos.
As Contribuições Nacionalmente Determinadas
Pretendidas, ou INDCs na sigla em inglês, são as propostas de redução de
emissão de GEEs de cada país para o período de 2020 a 2030. “A grande dificuldade
é equacionar e dividir a conta da redução necessária, levando em consideração
tanto as metas propostas, quanto o papel que cada nação tem nas emissões
mundiais acumuladas desde o início da revolução industrial. Por exemplo, os
Estados Unidos e a China, maiores emissores do mundo precisam reduzir mais do
que outros que proporcionalmente emitem menos GEEs. É uma conta difícil e
precisará de muita conversa e flexibilidade dos países envolvidos”, explica
Ferretti.
O futuro é agora
Com as mudanças climáticas em curso impactando na
vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, aumenta a pressão da sociedade
civil para que o novo acordo atenda às expectativas e necessidades das
comunidades mais sensíveis. Com esse nível de urgência maior, pela primeira vez
a dinâmica da COP21 será diferente de todas as outras.
Antes, na primeira semana de negociações, os
diplomatas eram os responsáveis pelas discussões, sendo que os ministros e
chefes de estado participavam da segunda semana para as tomadas de decisões. Agora,
esses chefes de estado participarão da semana inicial, com o objetivo de
acelerar as negociações. “Não sabemos ainda se todo esse esforço será
suficiente, mas já mostra uma busca por resultados efetivos”, ressalta o
especialista.
Além disso, as metas dos 146 países que enviaram
suas pretensões de redução até dia 1º de outubro (prazo máximo para o envio),
representam 86% das emissões de carbono do mundo, realidade que nunca tinha
acontecido em nenhuma outra COP.
E onde o Brasil se encaixa?
Segundo André Ferretti, a proposta de redução do
Brasil – 37% até 2025 e 43% até 2030 – é forte com elementos
importantes, como o fato de indicar redução absoluta com base no ano de 2005.
“Isso faz toda a diferença, pois a base de cálculo é um período específico e não
uma redução baseada em estimativas de emissão”, explica. Além disso, o
governo afirmou que o trabalho de redução de GEEs será focado em todos os
setores emissores e não apenas no desmatamento.
Apesar disso, Ferretti destaca que o Brasil poderia
ter sido ainda mais ambicioso, voltando ao seu papel de protagonista que teve
em outras reuniões, e quem mais ganhará com isso será o próprio país. “Mais do
que atuar apenas para reduzir as emissões, precisamos caminhar para uma
sociedade descarbonizada investindo em fontes renováveis de energia, as quais
temos em abundância, gerando um diferencial competitivo para o Brasil na
economia do século 21 e contribuindo com a melhoria da qualidade de vida da
população brasileira e mundial”, ressalta.
Para o gerente da Fundação Grupo Boticário é
urgente que o país deixe de depender tanto do pré-sal e evolua em energia
eólica, solar e, principalmente biomassa. “O Brasil deveria investir muito mais
em tecnologias como o etanol de segunda geração. Nesse caso não existe nem a
competição com a produção de açúcar e outros produtos provenientes da cana,
pois a energia é gerada a partir do bagaço da cana, um subproduto da produção
do açúcar”, comenta.
Ele destaca ainda que o Brasil tem grande frota de
automóveis com condições de usar o biocombustível (flex), estrutura de postos
de combustível e produção de etanol. “Precisamos de interesse político para
voltarmos à nossa posição de protagonistas”, explica André Ferretti.
Ao ser questionado se não seria necessário desmatar
mais áreas para a produção de cana-de-açúcar, Ferretti é enfático. “Não, temos
mais de 60 milhões de hectares de terras agrícolas sem uso no Brasil, não
precisamos degradar mais”, conclui.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário