Sobre poluição visual, artigo de
Roberto Naime.
A poluição visual pode ser conceituada como a
exposição dos sentidos visuais do indivíduo a uma demanda de atenção que
prejudique a visão e a sensibilidade, influenciando o raciocínio e impondo uma
hegemonia física do ato de olhar sobre a necessidade psicológica de refletir.
É uma das formas de poluição que podem se tornar
muito agressivas, mas certamente recebe pouca atenção das instituições
responsáveis pelo controle ambiental. É fácil de entender, você não vai pegar
um fiscal ambiental, que, como o ex-governador Blairo Maggi já disse em antiga
entrevista na Europa, chega atrasado num desmatamento e deslocar este fiscal e
uma viatura e recursos para cuidar de poluição visual.
Tem ficado muito claro em nossas reflexões que o
problema da questão ambiental é de prioridades. Já se disse claramente aqui,
que no meio do caos aeroportuário, onde a gente só pensa em entrar e sair vivo,
que ninguém vai entrar num aeroporto pensando em sistema de gestão ambiental.
Ao contrário do resto do mundo, onde a infraestrutura está resolvida e se pensa
na gestão ambiental.
A questão da poluição visual preocupa, mas é
relegada a segundo plano, talvez por que suas consequências são mais
psicológicas do que materiais. A cidade de São Paulo, aparentemente na
impossibilidade de fiscalizar adequadamente a atividade, criou uma legislação
totalmente restritiva, proibindo a publicidade visual. Anúncios estarão
permitidos apenas no chamado mobiliário urbano (pontos de ônibus, bancas de
revistas, relógios, lixeiras…).
Acredita-se que a lei contenha vícios de
inconstitucionalidade, e restringir totalmente a atividade não parece ser a
solução, pois existe toda uma máquina de geração de emprego e renda por trás
desta atividade, como também em qualquer outra cadeia econômica.
A lei 6.938/81 que dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente tem sido acatada como disposição legal sobre o tema,
pois não existem resoluções específicas do CONAMA sobre a questão.
A poluição visual degrada os centros urbanos pela
falta de harmonia com a grande maioria dos contextos onde esta inserida, e pela
não coerência dos anúncios, logotipos e propagandas. Estes apelos visuais
concorrem e as vezes causam “stress” na atenção das pessoas, com um impacto
negativo que ainda não é bem mensurado.
O indivíduo acaba tendo sua cidadania afetada ,
pois ele é um agente que atua diretamente na dinâmica da cidade, e passa a ser
passivo em relação aos agentes visuais. A pessoa se transforma num espectador
fascinado ou num consumidor sem capacidade crítica, ambos envolvidos na
efemeridade causada pelos fenômenos de massa.
A exagerada profusão de estimulações visuais
parece ser uma característica das culturas de massa pós-modernas. A primeira
imagem que nos vem à lembrança é de Las Vegas e seu exagerado apelo visual.
Certas cidades quando tentam revitalizar regiões degradadas pela violência,
começam determinando restrições à poluição visual. Isto não deve ser por acaso.
Dr. Roberto
Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental.
Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da
Universidade Feevale.
Fonte: EcoDebate
Nenhum comentário:
Postar um comentário