América Latina tem sua atenção em
descarbonizar sua economia.
por
Fabíola Ortiz, da IPS
Descarbonizar o desenvolvimento da América Latina
começa a ser tema de debate em uma região onde os recursos naturais têm
especial peso na economia, incluídos os combustíveis fósseis. Foto: Cortesia de
Guilherme/Flickr.
Rio de Janeiro, Brasil, 13/11/2014 – Quando nos 12
primeiros dias de dezembro forem examinados, em Lima, no Peru, os avanços para
frear o aquecimento global, durante a 20ª Conferência das Partes (COP 20) da
Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, a América Latina
exibirá alguns êxitos, mas também muitos desafios para descarbonizar seu
desenvolvimento.
Na opinião de especialistas consultados pela IPS, a
região poderá apresentar avanços como a redução do desmatamento na Amazônia,
especialmente na parte brasileira onde caiu em 80% na última década, segundo
fontes oficiais. Mas os especialistas acrescentam que o centro do olhar
latino-americano deve começar pela descarbonização de sua economia, limitando o
peso dos combustíveis fósseis e de outros emissores de dióxido de carbono
(CO2), para assim mitigar o impacto da mudança climática, tal como propôs o
Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática( IPCC) em seu
quinto informe, divulgado no dia 2 deste mês.
“Podemos romper com a ideia de que o consenso na
América Latina é sempre difícil de alcançar. Há uma diversidade de novas
experiências, a região é um expressivo laboratório de aprendizagem diante da
mudança climática”, destacou à IPS o diretor da organização Amigos da Terra no
Brasil, Roberto Smeraldi. A seu ver, devem ser criadas novas alianças mediante
acordos bilaterais e regionais, destinadas a fortalecer a posição dos países
latino-americanos na negociação das partes, tanto em Lima como no caminho que
levará a um novo tratado climático um ano mais tarde em Paris.
Porém, Smeraldi criticou o fato de o Brasil não
estar aproveitando suas vantagens comparativas em termos de recursos naturais e
grande potencial para descarbonizar sua economia e seus investimentos, para
dessa forma assumir um papel protagonista nas negociações sobre o clima. “O
Brasil deveria ter um interesse e uma perspectiva de assumir uma posição mais
agressiva e forçar um avanço nas negociações. Estou convencido de que pode desenvolver
uma economia de baixo carbono, embora também seja grande exportador de
petróleo”, pontuou.
O IPCC defende uma economia baixa em carbono,
afirmando que “é preciso modificar os fluxos financeiros para reduzir
substancialmente as emissões de CO2”. O grupo pede, por exemplo, redução dos
investimentos em combustíveis fósseis para a eletricidade em US$ 30 bilhões
anuais em nível mundial.
Para o diretor da organização internacional Climate
Reality Project, o guatemalteco Mario Molina, é viável que a América Latina
avance na descarbonização de suas economias. Esta organização, encabeçada pelo
ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, realizou, entre os dias 4 e 6
este mês, na cidade brasileira do Rio de Janeiro, um treinamento para líderes
nas respostas à mudança climática.
Molina afirmou à IPS que a ideia de que a riqueza e
o desenvolvimento da região dependem da extração de recursos naturais,
especialmente combustíveis fósseis, é um mito. “Tenho muita fé na América
Latina. Falamos da necessidade de fazer reparos nas emissões passadas e das
responsabilidades dos países mais desenvolvidos. A verdade é que a
responsabilidade é de todos. Temos que olhar para o futuro e identificar a nós
mesmos como líderes em sustentabilidade”, ressaltou.
A criação de mecanismos que garantam a
transferência de fundos para investimentos em projetos sustentáveis e de
energias renováveis é uma alternativa para a região, afirmou Molina. “Nós,
latino-americanos, não temos que continuar enterrados em uma narrativa baseada
no passado ao abordar a mudança climática”, acrescentou.
Florestas nubladas da Costa Rica. Deter o
desmatamento na América Latina é essencial para mitigar as emissões de carbono.
Foto: Germán Miranda/IPS.
O Chile, segundo especialistas, assumiu uma
“posição avançada”, quando em setembro anunciou o primeiro imposto sobre
carbono da América, dirigido a empresas energéticas e com o qual pretende
reduzir em 20% suas emissões de gases-estufa até 2020, em relação aos níveis de
2007. Porém, tanto Smeraldi como Molina consideram que ainda há muitas pressões
de empreendimentos de infraestrutura e de exploração de recursos naturais que
invadem os limites das áreas verdes protegidas.
Segundo Molina, “o Chile demonstrou grande
liderança ao colocar preço nas emissões de carbono e precisamos de algo
semelhante em grande escala na região. Temos em contrapartida a Venezuela (com
uma economia baseada nos combustíveis fósseis) e também o caso do Equador”. A
seu ver, “deve-se entender que os recursos naturais da América Latina estão
sobre a terra, são as pessoas, o poder solar e a energia eólica”.
Um caso de alarme para este especialista e outros
entrevistados é o do Equador e os planos para a exploração petroleira em grande
escala de sua região amazônica, incluídas as reservas existentes no Parque
Nacional de Yasuní, de quase dez mil quilômetros quadrados. O presidente Rafael
Correa afirma que a renda com a produção desse petróleo é necessária para
reduzir a pobreza e avançar no desenvolvimento do país.
Em consequência de enfoques de desenvolvimento
baseados no carbono, como mostra esse caso, na América do Sul se registrou
entre 2000 e 2014 perdas de cobertura florestal de quatro milhões de hectares,
segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO) na Avaliação dos Recursos Florestais Mundiais 2010. Só o Brasil
perdeu, em média, 2,6 milhões de hectares de áreas verdes durante esse período,
apesar da redução do desmatamento.
O informe da FAO destaca o papel essencial que
desempenham as florestas na mitigação da mudança climática. Suas árvores retêm
289 gigatoneladas de carbono e em particular a área sul-americana armazena mais
de cem gigatoneladas desse total na biomassa floresta.
Molina reconheceu que, apesar dos esforços, o
desmatamento das florestas tropicais se mantém alto, porque a regulamentação do
uso sustentável dos solos e a governança das áreas naturais é mantida como
assuntos geralmente pendentes na América Latina dentro da política de redução
de emissões. “Há um reconhecimento mundial da importância da Amazônia e das
florestas tropicais e há apoio para sua preservação. Mas temos muito trabalho
pela frente”, enfatizou.
O secretário-executivo do Observatório do Clima no
Brasil, Carlos Rittl, recordou que “não há nenhum compromisso regional em
relação às florestas ou para eliminar o desmatamento, porque os países do Sul
em desenvolvimento não têm metas obrigatórias na redução de emissões dentro da
Convenção Marco. Mas, recordou, alguns países assumiram compromissos internos,
como o Paraguai, com um plano de desmatamento zero, e Peru, que criou um fundo florestal
para financiar projetos de sustentabilidade.
Especialmente significativo é o caso da Costa Rica,
primeiro país do mundo a assumir a meta de carbono neutro, que estabelece que
até 2021 o país fixará tanto CO2 quanto emitir na atmosfera. Além disso, Chile,
Colômbia, Guiana e Peru assinaram, no dia 23 de setembro, a Declaração de Nova
York da Cúpula do Clima, que fixa 2030 como meta para eliminar o desmatamento.
Fonte: ENVOLVERDE
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