Ban Ki-moon aposta em cúpulas
para resolver crise do desenvolvimento.
por
Thalif Deen, da IPS
O chefe do escritório da IPS na ONU, Thalif Deen,
entrevista o secretário-geral, Ban Ki-moon. Foto: Lyndal Rowlands/IPS.
Nações Unidas, 14/11/2014 – Enquanto a recessão
econômica generalizada continua, agravada pela epidemia de ebola na África
ocidental, e ameaça prejudicar a nova e muito anunciada agenda de
desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU) para depois de 2015, seu
secretário-geral, Ban Ki-moon, centra toda sua expectativa em duas reuniões de
cúpula.
Trata-se da reunião anual que o Grupo dos 20 (G20)
países industrializados e emergentes realizará nos dias 15 e 16, em Brisbane,
na Austrália, e da terceira Conferência Internacional sobre o Financiamento
para o Desenvolvimento (CIFD), que acontecerá de 13 a 16 de julho de 2015, em
Adis Abeba, na Etiópia.
Entrevistado pela IPS antes de sua viagem para
Brisbane, Ban descreveu o G20 como “o principal fórum econômico do mundo”, e
prognosticou que a CIFD será “uma das conferências mais importantes na hora de
dar forma aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS). O
secretário-geral da ONU já advertiu os líderes mundiais sobre a urgente
necessidade de “um robusto mecanismo financeiro” para implantar os ODS, que,
afirmou, deveria ser implementado muito antes da adoção dessas metas, previstas
para setembro de 2015.
Em carta enviada aos líderes do G20, Ban afirma que
o sucesso da implantação das agendas de crescimento e desenvolvimento
sustentável dependerá em grande parte da mobilização de “todas as fontes de
financiamento”. “É difícil depender apenas do financiamento público”, pontuou à
IPS, ressaltando a necessidade de se obter fundos de múltiplas fontes,
incluídas públicas, privadas, nacionais e internacionais.
O G20, uma incomum mescla de países industrializados
e em desenvolvimento, é integrado por África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita,
Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos,
França, Grã-Bretanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia e
Turquia, além da União Europeia. Considerado em sua totalidade, representa
cerca de dois terços da população mundial, bem como 85% de seu produto interno
bruto e mais de 75% do comércio global.
O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, que
ocupa a presidência rotativa do G20, convidou vários países que não integram o
bloco a participarem da cúpula. Os anfitriões anteriores das cúpulas do G20
foram Estados Unidos (2008 e 2009), Grã-Bretanha (2009), Canadá (2010), Coreia
do Sul (2010), França (2011), México (2012) e Rússia (2013).
Em Brisbane, Abbot dará as boas-vindas à Espanha
como convidada permanente, à Mauritânia como presidente da União Africana, à
Birmânia como presidente da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean),
ao Senegal representando a Nova Aliança para o Desenvolvimento da África, e
também a Nova Zelândia e Cingapura. Já a CIFD é anunciada como uma conferência
da ONU da qual participarão os 193 Estados membros.
Ao falar sobre o financiamento para o
desenvolvimento, Ban pontuou que a ajuda oficial ao desenvolvimento, das nações
mais ricas para as mais pobres, “é necessária, mas não suficiente”. Segundo as
últimas estatísticas disponíveis, somente cinco países – Noruega (1,07%),
Suécia (1,02%), Luxemburgo (1%), Dinamarca (0,85%) e Grã-Bretanha (0,72%) –
alcançaram o objetivo de destinar 0,7% de seu produto interno bruto à ajuda
oficial ao desenvolvimento.
Enquanto isso a recessão econômica se desenvolve em
meio aos milhões que ainda sofrem fome (cerca de 800 milhões), desemprego (mais
de 200 milhões), carência de água (cerca de 750 milhões) e pobreza extrema
(mais de um bilhão), segundo as Nações Unidas.
Perguntado sobre uma proposta de criar fontes
inovadoras de financiamento para o desenvolvimento, incluído um imposto sobre
as transações de divisas, Ban afirmou que designou um ex-ministro do gabinete
francês, Philippe Douster-Blazy, como seu assessor especial para explorar essas
vias. A proposta de financiamento inovador foi aprovada na CIFD realizada em
2002 no México, e até agora arrecadou aproximadamente US$ 2 bilhões.
A tarefa mais titânica de Ban será garantir que os
países ricos cumpram os compromissos que assumiram em 2009, de realizar
contribuições anuais que até 2020 cheguem a US$ 100 bilhões para o Fundo Verde
para o Clima, a fim de prevenir as consequências mais desastrosas da mudança
climática. “Preciso de pelo menos US$ 10 bilhões para deixar o Fundo
operacional”, destacou o secretário-geral. Até agora as contribuições chegam a
cerca de US$ 2,5 bilhões.
No entanto, em sua carta aos líderes do G20, Ban diz
que novas ameaças, entre elas as tensões geopolíticas e a crise do ebola,
“surgiram para gerar maior incerteza” na agenda de desenvolvimento das Nações
Unidas. “A cúpula do G20 em Brisbane é oportuna quanto a permitir que a
liderança se traduza em um forte crescimento mundial e em uma mudança positiva
nas vidas das pessoas”, escreveu.
“Portanto, peço urgência a vocês e aos seus líderes
no sentido de aproveitar o momento em Brisbane e estabelecer o cenário para o
êxito em nosso trabalho compartilhado, a fim de construir um mundo mais
sustentável e próspero para todos”, acrescenta Ban. A ONU “está pronta” para
unir esforços com os líderes do bloco, tanto em Brisbane como “depois”,
destaca.
No entanto, persiste uma dúvida: quantos líderes
mundiais responderão ao seu chamado?
Fonte: ENVOLVERDE
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