Meio Ambiente: O grande derrotado
nas eleições 2014?
por Janes
Jorge e Paulo Henrique Martinez*
Marina Silva, liderança que fez sua trajetória
política vinculada a essa problemática ganhava destaque e Eduardo Jorge (PV),
sem amarras de um candidato que concorre para vencer, tinham liberdade para
tocar em pontos sensíveis, mas essa expectativa não se concretizou. Leo Cabral/
MSILVA Online.
O debate sobre o meio-ambiente foi um dos maiores
derrotados neste ano apesar de possuir forte dimensão crítica na sociedade
contemporânea.
Encerradas as eleições é o momento de se fazer uma
avaliação dos seus resultados para além da vitória ou derrota dos diferentes
candidatos. Em um balanço assim, fica evidente que o debate sobre o
meio-ambiente foi um dos maiores derrotados neste ano de 2014, ao menos para
aqueles que acreditam que a problemática ambiental possui forte dimensão
crítica da sociedade contemporânea.
Na verdade, no início do processo eleitoral parecia
que as questões ambientais iriam para o centro da disputa. No plano nacional
Marina Silva, liderança que fez sua trajetória política vinculada a essa
problemática ganhava destaque e Eduardo Jorge, pelo Partido Verde, sem amarras
de um candidato que concorre para vencer, tinha liberdade para tocar em pontos
sensíveis, evitados pelos candidatos competitivos. No mais populoso e rico
estado da federação, São Paulo, uma grave crise hídrica, que ainda deve
perdurar, oferecia a oportunidade para que o meio-ambiente no Brasil aparecesse
como realmente é, ou seja, como uma questão que diz respeito à vida cotidiana
da maioria da população e não assunto de pequenos grupos.
No decorrer do processo eleitoral, talvez por sua
própria dinâmica cada vez mais vinculada à linguagem publicitária, talvez pelo
empobrecimento do contexto político atual, essa expectativa não se concretizou.
Pelo contrário, o debate ambiental não apenas se esvaziou como regrediu quase a
ponto de negar a sua própria legitimidade social. Marina Silva que
historicamente se vinculara às lutas dos chamados “povos da floresta” e
mantivera claro compromisso com a convergência da justiça social e da proteção
ao meio ambiente adotou um discurso ambíguo e acomodatício, como se fosse
possível discutir o meio ambiente sem confrontar ideias e interesses
solidamente instalados na vida nacional. É o caso do agronegócio ou das grandes
obras de infraestrutura tão importantes para a economia do país, mas que ainda
causam fortes impactos sociais e ambientais. No limite, todo um modelo de
sociedade e desenvolvimento poderia ser repensado e, com isso, se vislumbrar
ações e caminhos transformadores.
Mas no caso de Marina Silva foi ainda pior. Ao se
alinhar às propostas econômicas de orientação neoliberal e a personalidades do
mundo dos negócios a candidata deslocou o debate ambiental para a direita,
aumentando a histórica e anacrônica desconfiança que a problemática enfrenta em
partidos de esquerda e movimentos sociais. Ou seja, meio-ambiente e capitalismo
verde pareceram se equivaler no fim das contas. Eduardo Jorge, por sua vez, não
enfatizou as questões ambientais e ganhou notoriedade por sua defesa da
descriminalização das drogas.
No segundo turno das eleições presidenciais a
problemática ambiental teria sido esquecida completamente se a crise de água
não tivesse se agravado em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Mesmo
assim o breve debate reproduziu a simplicidade que caracterizou a disputa
estadual, quando questões centrais, como o avanço descontrolado da mancha
urbana em terras paulistas ou os graves problemas de coleta e tratamento de
esgoto, foram esquecidas. Por um lado, o candidato do governo estadual e seus
aliados sugeriam que responsabilidade pela crise era da natureza ou resultado
da negligência dos consumidores residenciais paulistas. Por outro lado os
candidatos oposicionistas pareciam enfatizar a falta de obras de engenharia.
Não parece exagero afirmar que nada se avançou na consciência pública depois de
fechadas as urnas.
Sendo assim, os próximos anos serão de grande
desafio para que a agenda ambiental retorne ao centro dos debates nacionais com
todo seu potencial questionador e transformador. Para tanto cabe à universidade
um lugar estratégico, pois é a instituição capaz de apresentar e qualificar os
termos em que esse debate será feito. Trata-se de evitar tanto um debate
ambiental nos marcos estabelecidos pela agenda do capitalismo verde, como um
reducionismo socioeconômico que ainda predomina na sociedade e nos próprios
partidos de esquerda.
* Janes Jorge é professor de História da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Paulo Henrique Martinez é
professor de História da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).
Fonte: Carta Capital
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