Caribe contra a mudança climática
a partir das bases sociais.
por
Desmond Brown, da IPS
Gunthorpes, Antiga, 13/11/2014 –
Preocupados com a segurança alimentar em Antiga e Barbuda, dois grupos
comunitários desenvolvem uma iniciativa para mobilizar as pessoas em atividades
de mitigação e adaptação à mudança climática, cujas consequências afetaram a
produção agrícola local. “Quero que pelo menos dez mil pessoas se unam em
Antiga e Barbuda nesse processo para tentar mitigar os efeitos da mudança
climática”, disse à IPS uma das promotoras do evento, Evelyn Weeks.
“Escolho a agricultura porque é um dos setores mais
afetados pelo fenômeno e um dos que mais contribui para a mudança climática”,
explicou Weeks, que está à frente da Sociedade de Hidroponia, Aquicultura e
Agroecologia, com sede neste país. “Planejo mobilizar pelo menos dez mil
famílias em ações climáticas, como classificação de resíduos, elaboração de
adubo e agricultura ecológica diversificada”, acrescentou.
Outro objetivo do projeto é “ajudar a proteger
nossa biodiversidade, nossos ecossistemas e nossa segurança alimentar” usando
as funções do ecossistema na horticultura, pois com isso os agricultores não
terão que retroceder às monoculturas e ao uso de pesticidas e fertilizantes
químicos, afirmou. A segurança alimentar gera preocupação não só nesse país,
mas em todos os pequenos Estados insulares em desenvolvimento (Peid), porque a
variabilidade climática afeta a agricultura.
Os especialistas preveem eventos climáticos mais
extremos, como inundações e secas, bem como tempestades mais intensas no longo
prazo no Oceano Atlântico. Weeks destacou que os projetos propostos pelos
pequenos produtores em áreas vulneráveis contarão com ajuda econômica do
Programa de Pequenas Doações (PPD), do Fundo para o Meio Ambiente Mundial
(GEF).
“Nossa segurança alimentar é uma das coisas mais
valorizadas, da qual devemos cuidar, e uma agricultura ecológica é o que
ajudará a nos proteger”, afirmou Weeks. “Apelo às igrejas, aos grupos
comunitários e de agricultores, a organizações não governamentais e a
sociedades de amigos, escolas, etc., para que mobilizem seus membros e possamos
reunir dez mil pessoas ou mais para mitigar a mudança climática e nos adaptar a
ela”, detalhou.
Weeks também explicou que a classificação do lixo
compreende o redirecionamento dos alimentos para que não cheguem ao lixão de
Cooks, em um esforço nacional para elaborar adubo orgânico. “Se restos de
comida forem jogados no lixo, onde terminarão? Vão parar nos lixões, que
liberarão mais metano na atmosfera”, afirmou. O metano e o dióxido de carbono
liberados na atmosfera são produto da decomposição de matéria orgânica em
condições anaeróbicas (sem oxigênio).
Grandes quantidades de material orgânico, como
restos de alimentos, e condições úmidas aumentam a produção de gás, em especial
de metano, nos lixões. Como o metano tem potencial de aquecimento atmosférico
72 vezes maior do que o dióxido de carbono, a elaboração de adubo é uma
importante atividade de mitigação. O adubo também serve para reconstruir solos
degradados e, por conseguinte, ajuda a agricultura.
Pamela Thomas, diretora da Rede de Agricultores do
Caribe (CaFAN), disse que sua organização recebeu aprovação para projetos de
agricultura inteligente, com fundos do GEF. “Procuramos fazer uma agricultura
inteligente. Isto é, preservar a atividade e proteger as plantas dos raios de
sol”, explicou a também embaixadora da sociedade civil para agricultura junto à
Organização das Nações Unidas (ONU). “Também coletaremos água e utilizaremos
bombas movidas a energia solar para extraí-la e usá-la na irrigação”, acrescentou.
A CaFAN representa agricultores dos 15 Estados da
Comunidade do Caribe (Caricom). Fundada por organizações agrícolas da região em
2002, negocia em nome de seus membros e desenvolve programas e projetos para
melhorar seu sustento, além de colaborar com todos os atores do setor a favor
dos trabalhadores agrícolas. “Se uma nação não pode alimentar a si mesma, o que
será de nós?”, perguntou Thomas, acrescentando que deseja que mais agricultores
abandonem os fertilizantes sintéticos e os pesticidas e se voltem para a
agricultura orgânica.
Antiga e Barbuda foi o país do Caribe que mais
recursos destinou à importação de alimentos por habitante, com cerca de US$
1.170, seguida de Barbados, com US$ 1.126, Bahamas, com US$ 1.106, e Santa
Lúcia, com USS 969. Além do gasto, depender das importações aumenta a
vulnerabilidade, pois os furacões podem interromper o fornecimento de
alimentos. Por isso a agricultura é um setor importante para o financiamento do
PPD.
O diretor-executivo do GEF, Naoko Ishii, que se
reuniu com a delegação caribenha na Conferência das Nações Unidas sobre os
Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, realizada em Samoa no mês de
setembro, elogiou os grupos comunitários dessa região. “Fiquei bastante
impressionado com sua determinação em lutar contra a mudança climática e contra
outros desafios”, afirmou à IPS. “Também me entusiasmou muito que tenham
adotado um enfoque mais integrado do que em outras partes do mundo”,
acrescentou.
A circunscrição caribenha do GDF é integrada por
Antiga e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Cuba, Dominica, Granada, Guiana,
Haiti, Jamaica, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São
Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago.
Ishii se mostrou “bastante entusiasmado” com a
participação de oito países na iniciativa Desafio do Caribe, um projeto de
grande escala promovido pela Nature Conservancy, que investiu US$ 20 milhões em
troca do compromisso dos países da região de apoiarem e gerirem as existentes e
novas áreas protegidas. Os países membros devem proteger 20% de seus habitats
marinhos e costeiros até 2020.
Bahamas, Jamaica, República Dominicana, São Vicente
e Granadinas, Santa Lúcia, Granada, Antiga e Barbuda, e São Cristóvão e Neves
já fazem parte do projeto. Ishii também disse que alguns dos países que
participam do Desafio do Caribe já haviam recebido fundos do GEF e que há
quatro projetos do GEF que apoiam a iniciativa.
São projetos com fundos duradouros para a gestão de
ecossistemas marinhos em países da Organização de Estados do Caribe Oriental,
construção de uma rede nacional sustentável de áreas marinhas protegida para as
Bahamas, reavaliação do sistema nacional de áreas marinhas protegidas para
alcançar a sustentabilidade econômica na República Dominicana, e fortalecimento
da sustentabilidade operacional e econômica do sistema nacional de áreas protegidas
na Jamaica.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário