Mudança climática no Caribe é uma
ameaça imediata e real.
por
Desmond Brown, da IPS
Nesta comunidade de São Vicente e Granadinas muitos
constroem suas casas nas margens de um rio, deixando-as vulneráveis a cheias e
inundações. Foto: Desmond Brown/IPS.
Kingstown, São Vicente e Granadinas, 27/10/2014 –
Quando se trata de mudança climática, o primeiro-ministro de São Vicente e
Granadinas, Ralph Gonsalves, não faz rodeios e afirma que, para os pequenos
Estados insulares em desenvolvimento (Peid), este é um tema de vida ou morte.
“A ameaça não é abstrata nem está muito distante, é imediata e é real”,
destacou à IPS.
“Este país que tenho a honra de governar é propenso
a desastres. Precisamos nos adaptar, fortalecer nossa resiliência, mitigar.
Precisamos reduzir os riscos sobre recursos humanos e naturais derivados da
mudança climática”, afirmou Gonsalves. “Mas é um assunto que não podemos
resolver sozinhos. O mundo é um lugar pequeno e contribuímos muito pouco para o
aquecimento global e, no entanto, estamos na primeira linha dos contínuos
desastres”, alertou.
Desde 2001, São Vicente e Granadinas sofreu 14
eventos climáticos grandes, cinco deles a partir de 2010. Estes últimos
deixaram danos e prejuízos de US$ 600 milhões, ou cerca de um terço do produto
interno bruto (PIB) do país.
“Os eventos relacionados com as chuvas, e, no caso
do furacão Tomas, o vento, ocorreram em 2010. Em abril de 2011 houve
deslizamentos de terra e inundações quase de proporções bíblicas no nordeste de
nosso país”, contou Gonsalves. “As perdas pelas inundações da véspera do Natal
de 2013 representaram 17,5% do PIB. Houve mais de dez mil pessoas afetadas
diretamente, isto é, mas de um em cada dez habitantes. Além disso, morreram 12
pessoas”, acrescentou.
“Na primeira metade de 2010 e nos primeiros seis
meses deste ano, tivemos secas. As perdas causadas pelo Tomas chegaram a US$
150 milhões. As inundações de abril deixaram danos de US$ 100 milhões, e as
perdas causadas pelo evento do Natal foram de US$ 330 milhões”, detalhou o
primeiro-ministro. “Somando, chega-se a US$ 580 milhões, e se acrescentarmos os
US$ 20 milhões da seca estaremos em US$ 600 milhões e aumentando”, acrescentou.
Nos últimos anos, especialmente a partir da cúpula
da Convenção Marco das Nações Unidas Contra a Mudança Climática (CMNUCC) de
2009 em Copenhague, os Estados Unidos e outros grandes países se comprometeram
a ajudar os Peid a enfrentar as consequências da mudança climática e prometeram
milhões de dólares para apoiar o esforço de adaptação e redução de riscos.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry,
visitou os países insulares do Pacífico e reiterou a importância de aprofundar
os acordos com os Peid para enfrentar as ameaças imediatas e os desafios de
desenvolvimento de longo prazo que a mudança climática apresenta. Porém,
Gonsalves diz que, apesar da generosidade dos Estados Unidos, não há fundos
suficientes para medidas de mitigação e adaptação, prometidos pela comunidade
global, “não só pelos países ricos, mas também por outros grandes emissores de
gases-estufa, como China e Índia, por exemplo”.
Primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas,
Ralph Gonsalves. Foto: Desmond Brown/IPS.
Jock Conly, diretor de missão da Agência dos
Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) no Caribe oriental
e meridional, disse à IPS que, por meio de acordos estratégicos com órgãos
estatais regionais, nacionais e locais, a organização trabalha para reduzir a
vulnerabilidade da região e aumentar a resiliência aos impactos da mudança
climática. “Oferecemos ajuda para aumentar a capacidade de instituições
técnicas e educativas em matéria de meteorologia, hidrologia e ciências
costeira e marinha, para melhorar as previsões e se preparar para os riscos”,
explicou.
“O apoio inclui trabalhar com o Centro de Estudos
Ambientais e Gestão de Recursos, da Universidade das Índias Ocidentais, e
acordos com entidades como a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o
Instituto Caribenho de Meteorologia e Hidrologia, o governo de Barbados e a
Comissão da Oeco (Organização de Estados do Caribe Oriental)”, acrescentou
Conly. “Mediante acordo com a OMM será criado um Centro Regional para o Clima
no Caribe, que poderá oferecer serviços climáticos específicos, para apoiar a
adaptação e melhorar a redução do risco de desastres”, afirmou.
A Usaid também faz esforços dentro do programa da
Comissão da Oeco para educar as comunidades e outros atores locais sobre os
impactos da mudança climática e as medidas que podem ser tomadas para adaptação
ao fenômeno. “Um elemento essencial do programa é o desenvolvimento de modelos
de demonstração que tratam de distintos aspectos do processo de adaptação. Isto
inclui a restauração dos mangues, dos arrecifes de coral e outros habitats
costeiros, projetos de proteção costeira e iniciativas para a conservação da
água”, explicou Conly.
Para o legislador de oposição Arnhim Eustace, a
preocupação é que as pessoas ainda “não dão muita atenção à importância da
mudança climática. Quando alguém está com problemas por não ter trabalho e não
poder mandar os filhos à escola, não tente lhe falar sobre mudança climática,
não lhe interessa. Seu interesse está concentrado em sua próxima refeição, de
onde vai tirar dinheiro para alimentar seu filho. Por isso se deve ser muito
cuidadoso sobre como são atendidas as operações fiscais”, alertou.
Eustace, líder do opositor Novo Partido
Democrático, propôs que primeiro as pessoas tenham atendidas suas necessidades
básicas, para só então abrir suas mentes para problemas graves com a mudança
climática.
Fonte: ENVOLVERDE
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