Emissões devem ser reduzidas de
40 a 70% até 2050 para se evitar o pior, diz IPCC.
por
Redação do EcoD
Os danos causados pelas mudanças climáticas poderão
ser irreversíveis, mas ainda há forma de evitá-los. A conclusão consta do mais
recente relatório do IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), divulgado no domingo, 2
de novembro, em Copenhague, na Dinamarca. O documento foi publicado depois de
uma semana de debates entre cientistas e autoridades de governos de todo o
mundo.
“A influência humana no sistema climático é clara,
quanto mais perturbamos nosso clima, mais riscos temos de impactos graves,
amplos e irreversíveis”, destacou à BBC o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri.
E, de acordo com Pachauri, o mundo todo será afetado por estes danos. “Quero
destacar o fato de que a mudança climática não deixará nenhuma parte do mundo
intocada pelos impactos que estamos vendo diante de nossos olhos e que,
obviamente, terão uma relevância crescente no futuro.”
O diretor do IPCC afirmou que “agora a comunidade
científica se pronunciou” e está “passando o bastão para os políticos, para a
comunidade que toma as decisões”. No entanto, Pachauri afirmou que ainda há
esperança, pois “felizmente nós temos os meios para limitar a mudança climática
e construir um futuro mais próspero e sustentável”.
Segundo o documento, o uso sem restrições de
combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás), deve ser suspenso até o ano de
2100 se o mundo quiser evitar uma mudança climática perigosa.
O relatório também sugere que o uso dos
combustíveis renováveis deverá subir da atual fatia de 30% para 80% do setor de
energia até 2050. Já as emissões mundiais de gases que provocam o efeito estufa
devem ser reduzidas de 40 a 70% entre 2010 e 2050 e desaparecer até 2100.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também
comentou os pontos principais do relatório. “Primeiro: a influência humana no
sistema climático é clara e crescente. Segundo: temos que agir rapidamente e de
forma decisiva se quisermos evitar resultados cada vez mais perturbadores.
Terceiro: temos os meios para limitar a mudança climática e construir um futuro
melhor.”
“Há um mito de que a ação para o clima custa muito,
mas a falta de ação vai custar muito mais”, disse Ban Ki-moon.
“O relatório mostra que o mundo está muito mal
preparado para os riscos das mudanças no clima, especialmente os pobres e mais
vulneráveis, que contribuíram menos para este problema”, acrescentou.
‘Novo modelo’
Rajendra Pachauri afirmou que este último relatório
é a mais forte e detalhada declaração a respeito da escala do problema da
mudança climática e das soluções para isto. Trata-se do documento mais completo
sobre o tema desde 2007. “Este relatório realmente estabelece um novo modelo em
avaliação científica. Por um lado, o relatório traz todos os elementos do
quebra-cabeça que constitui os vários aspectos da mudança climática, desde a
base científica subjacente dos impactos, adaptação e vulnerabilidade e os tipos
de opções de abrandamento que temos disponíveis.”
Pachauri destacou o fato de o relatório ter
envolvido mais de 800 autores diretamente e milhares de outros revisores que
analisaram cerca de 30 mil publicações para a elaboração do documento.
“Não podemos queimar todos os combustíveis fósseis
que temos sem lidar com o resíduo resultante, que é o CO2, e sem despejar isto
na atmosfera. Se não conseguirmos desenvolver (um sistema de) captura de
carbono, teremos que parar de usar combustíveis fósseis se quisermos parar a
perigosa mudança climática”, disse Myles Allen, professor da Universidade de
Oxford, na Grã-Bretanha, e um dos membros do IPCC que participou da elaboração
do documento.
Para David Shukman, editor de ciência da BBC, este
relatório “mostra as opções de uma forma mais direta do que nunca”. “O IPCC
tentou tornar (o relatório) mais aceitável afirmando que os combustíveis
fósseis podem continuar sendo usados se as emissões de carbono forem capturadas
e guardadas. Mas, até agora o mundo apenas tem uma usina operante comercialmente
deste tipo, no Canadá, e o progresso no desenvolvimento da tecnologia é muito
mais lento do que muitos esperavam”, disse.
Shukman afirma que a conclusão do relatório, de que
não podemos continuar queimando estes combustíveis como sempre fizemos e que a
queima destes combustíveis deve ser suspensa até o fim do século, apresenta aos
governos do mundo uma escolha difícil. Opinião semelhante tem a cientista
brasileira Suzana Kahn, vice-presidente do IPCC. De acordo com ela, os
interesses econômicos dos países impedem a redução do gás carbônico.
Ativistas aprovaram a linguagem clara do documento.
“O que eles disseram é que temos que chegar à emissão zero e isto é novo”,
disse Samantha Smith, do organização World Wildlife Fund (WWF). “A segunda
coisa (destacada pelo relatório) é que (a solução) é acessível, não vai
incapacitar as economias”, acrescentou.
Segundo os cientistas, o mundo tem pouco tempo para
conseguir manter o aumento global da temperatura abaixo do limite de 2ºC, a
meta da comunidade internacional.
Entre o final de novembro e o início de dezembro,
uma conferência da ONU sobre o clima que será realizada em Lima (Peru) terá a
missão de estabelecer as bases para um acordo global de redução das emissões
dos gases-estufa, que seria estabelecido em 2015, em Paris.
Fonte: EcoD
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