Um
planeta mais quente e desigual.
Manifestantes realizam a Marcha Global pelo Clima
no Rio chamando a atenção para a gravidade das mudanças climáticas. Foto: Tomaz
Silva / Agência Brasil / Fotos Públicas.
Estudos da Nasa e da Oxfam revelam que 2015 foi o
ano mais quente e com a maior desigualdade já registrada.
Por Reinaldo Canto*
Dois estudos divulgados recentemente apresentam
pontos aparentemente paralelos, mas que possuem uma terrível e nefasta
convergência: 2015 foi o ano mais quente e, ao mesmo tempo, o mais desigual da
história.
A constatação de que o ano passado foi o mais
quente já registrado desde 1880, quando os dados começaram a ser levantados,
foi feita pela agência espacial norte-americana, a Nasa, e pela Agência
Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).
As duas entidades realizaram estudos separados, mas
chegaram às mesmas conclusões: a temperatura do planeta ficou, em média, 0,90ºC
acima da registrada no século XX e 0,16ºC acima do recorde anterior, registrado
em 2014. Dezembro passado também foi o mês mais quente já observado.
Os cientistas apontam o fenômeno climático El Niño
pelos resultados, mas, principalmente, o atribuem ao aquecimento causado pelas
emissões de gases relacionados à ação do homem.
As consequências estão aí: aumento do nível dos
oceanos e ocorrências cada vez mais frequentes de fenômenos climáticos
extremos, como a onda de calor que matou 2,5 mil pessoas na Índia, também no
ano passado.
O outro ponto é o levantamento anual da ONG britânica Oxfam sobre
desigualdade e concentração de renda. A organização afirma que, neste ano de
2016, as 37 milhões de pessoas que compõem o 1% mais rico da população mundial
terão mais dinheiro do que os outros 99% juntos.
O relatório apresentado pela Oxfam toma como base o
levantamento anual do banco Credit Suisse. E as estatísticas demonstram que ao
longo dos últimos anos a concentração e a desigualdade só aumentaram!
São muitas as questões que nos afligem: a crise
econômica brasileira, a questão dos refugiados na Europa, o mosquito Aedes
aegypti, os fanáticos do Estado Islâmico – todas altamente relevantes e
merecedoras de nossa atenção.
Mas fato é que os dois estudos apontados neste
artigo possuem o poder de determinar os caminhos da humanidade para um futuro
em que as demais questões serão decorrência desses dois fatores, ou seja, o
crescimento da desigualdade e mudanças climáticas cada vez mais fortes e
persistentes.
Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam e
co-presidente do Fórum Econômico Mundial alertou sobre as consequências desses
desequilíbrios: “Tanto nos países ricos quanto nos pobres, essa desigualdade
alimenta o conflito, corroendo as democracias e prejudicando o próprio
crescimento”.
Isto é, quanto mais a temperatura e a desigualdade
crescerem, menos possíveis serão os esforços para o equilíbrio e a harmonia do
planeta e de seus habitantes. Tal acirramento se transformará em mais
refugiados, em mais doenças e levará à eclosão de novas guerras e conflitos.
No entanto, a Nasa, a NOAA e a Oxfam consideram
essas questões ainda possíveis de serem enfrentadas ou revertidas. Alguns dos
caminhos relacionados ao clima foram exaustivamente debatidos na COP 21,
realizada em Paris, em dezembro passado.
Já para enfrentar a concentração de renda, o
caminho é a busca pela ampliação dos direitos das pessoas e por mais democracia
e participação, buscando a educação e o empoderamento dos cidadãos como meta
universal, entre outros grandes desafios.
A sustentabilidade, tão almejada, só será
efetivamente alcançada quando a humanidade conseguir entender e combater todos
esses desequilíbrios ambientais e sociais. Será preciso reverter essas nefastas
tendências que colocam em xeque a nossa civilização e flertam fortemente com um
indesejado cenário de fim do mundo.
* Reinaldo Canto é jornalista especializado
em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência
Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de
televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador
de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do
Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista
de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.
Fonte: Carta Capital
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