Tratado
contra testes nucleares só no papel.
O cogumelo atômico sobre o atol de Bikini, nas
Ilhas Marshall, gerado por Castle Bravo, o maior teste nuclear realizado pelos
Estados Unidos em toda sua história. Foto: Departamento de Energia dos Estados
Unidos, por intermédio daWikimediaCommons.
Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 11/2/2016 –Após nove anos no cargo,
o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, se
retirará em dezembro, possivelmente sem conseguir um de seus objetivos
políticos mais ambiciosos, o de garantir a entrada em vigor do Tratado de
Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT).
“Em 2016 completamos 20 anos desde que o tratado
foi aberto para assinaturas”, afirmou Ban no final de janeiro, quando alertou que
o teste nuclear da Coreia do Norte, realizado no dia 6 de janeiro – o quarto
desde 2006 –, foi um fato “profundamente desestabilizador para a segurança
regional e prejudica seriamente os esforços internacionais de não
proliferação”.
Agora é o momento de fazer o último esforço para
assegurar que o CTBT entre em vigor e de maneira universal, ressaltou o
secretário-geral. Os governos devem considerar uma maneira de reforçar a
suspensão de fato dos testes nucleares, para que “nenhum Estado possa utilizar
a situação atual do CTBT como desculpa para realizar um teste nuclear”,
apontou.
Mas a pergunta é: estamos perto ou longe da entrada
em vigor do CTBT?
“O CTBT foi amplamente recebido como a prova de
fogo da sinceridade dos Estados que possuem armas nucleares em seu compromisso
com o desarmamento”, pontuou à IPS JayanthaDhanapala, integrante do Grupo de
Pessoas Eminentes designadas pelo secretário executivo da Secretaria Técnica
Provisória da Organização do CTBT (CTBTO). “A promessa concreta de sua adoção
foi uma das causas que levaram à extensão permanente do Tratado de Não
Proliferação Nuclear em 1995”, acrescentou.
O fato de não estar em vigor esse importante freio
à pesquisa e ao desenvolvimento da arma mais destrutiva já inventada não é bom
sinal, na medida em que se deterioram as relações entre os Estados Unidos e a
Rússia, que juntos possuem 93% das armas nucleares do planeta,
advertiuDhanapala, que foi subsecretário-geral da ONU para Assuntos de
Desarmamento.São gastas enormes quantidades de dinheiro na modernização das
armas e existe a possibilidade de grupos extremistas com práticas terroristas
poderem adquiri-las, o que se soma à ameaça que estas armas representam apenas
por existirem, observou.
John Hallam, da organização australiana Gente pelo
Desarmamento Nuclear, disse à IPS que ao longo dos anos sugeriu várias
propostas para que seja adotado o CTBT, com a possibilidade de um “grupo de
amigos (governos)” declararem que, para eles, o tratado já está vigorando. Esse
grupo poderia reunir uma cômoda maioria na Assembleia Geral da ONU para
consolidar essa situação com uma resolução declarando que o tratado está em
vigor, acrescentou.
“Entendo perfeitamente que essas estratégias
provavelmente encontrem resistência por parte dos Estados que não ratificaram o
tratado. Dessa forma, a pressão seria sobre eles para que o ratifiquem. E a
maioria não deve estar sujeita à pequena minoria daqueles que apresentam
resistência, por mais influentes que sejam”, destacouHallam.
O CTBT foi aprovado pela Assembleia Geral da ONU em
1996, mas ainda não entrou em vigor por uma razão fundamental: oito países
estratégicos se negam a assiná-lo ou ratificá-lo. Os três que não assinaram
(Coreia do Norte, Índia e Paquistão), e os cinco que não ratificaram (China,
Egito, Estados Unidos, Irã e Israel) seguem inalteráveis em sua postura, quase
20 anos depois da adoção do tratado.
Atualmente, muitos Estados que possuem armas
nucleares suspenderam voluntariamente os testes. “Mas a suspensão não substitui
a vigência do CTBT. Os quatro testes nucleares realizados pela Coreia o Norte
são uma prova disso”, enfatizou Ban.Em setembro de 2013 foi encomendado a um
grupo de aproximadamente 20 “pessoas eminentes” a tarefa pouco invejável de
convencer os oito países recalcitrantes a aderirem ao tratado. Segundo o CTBT,
o tratado não pode entrar em vigor sem a participação desses oito países.
Em outubro, diante da Comissão da ONU sobre
Desarmamento e Segurança Internacional, LassinaZerbo, secretário executivo da
CTBTO, disse que é preciso reavivar o espírito da década de 1990 e superar a
atitude de “aqui nada acontece” reinante nos últimos anos. No atual milênio,
somente a Coreia do Norte violou a suspensão dos testes nucleares, recordou.
“Ainda faltam medidas para garantir o futuro do tratado como uma barreira legal
firme contra os testes nucleares e a corrida armamentista”, acrescentou.
As armas e os testes nucleares têm um impacto
perigoso e desestabilizador na segurança mundial, e negativo parao ambiente,
disse Zerbo. Até o momento foram investidos mais de US$ 1 bilhão no regime de
verificação mais sofisticado e de maior alcance concebido para controlar esses
testes nucleares, assegurou.Os países tomaram de boa fé importantes decisões de
segurança nacional, com a expectativa de que o tratado fosse legalmente
vinculante e em conformidade com o direito internacional, e os governos devem
terminar o trabalho realizado pelos especialistas, enfatizou.
“Os desafios do desarmamento e da não proliferação
exigem ideias audazes e soluções globais, bem como a participação ativa das
partes interessadas de todos os rincões do mundo. Igualmente importante é a
geração de capacidade da nova geração de especialistas, que levaram o esforço
adiante”, concluiu Zerbo.
Por sua vez, Hallam considera “que a CTBTO está
fazendo um trabalho magnífico, e especificamente que Zerbo faz um grande
trabalho de promoção do tratado. Sugeriu que seria importante que os dados
brutos recolhidos pela rede de sensores da CTBTO estejam disponíveis com
facilidade e rapidez para a comunidade de investigação, e não apenas aqueles
relacionados com a não proliferação, mas geofísicos e climatológicos, para não
falar dos centros de alerta de tsunamis.
Fonte: ENVOLVERDE
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