Congresso
Gife debate os dilemas do alinhamento entre o investimento social e o negócio.
Foto: Shutterstock
O que vinha se configurando como uma tendência nos
últimos anos, ganhou corpo e, agora, se tornou uma agenda estratégica a ser
debatida amplamente: a aproximação do investimento social privado (ISP) com o
negócio é realidade e os impactos desse movimento já vêm sendo sentido pelos
institutos, fundações e empresas.
Para colocar esse tema no centro do debate, o Gife
irá promover, durante o 9º Congresso de 2016, a
mesa “Entre o público e o privado: dilemas do alinhamento entre o investimento
social e o negócio”. Na atividade, inclusive, a organização irá lançar um novo
estudo sobre o assunto, dando início à série “Temas do Investimento Social
Privado”.
A mesa contará com um representante da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), além de lideranças de institutos e fundações convidados
para refletir a respeito dos resultados do estudo.
Ana Letícia Silva, gerente de Articulação do Gife,
destaca a relevância desta discussão para a organização, que inseriu o tema
‘alinhamento entre investimento social e o negócio’ entre as agendas estratégicas de atuação do
GIFE para os próximos anos.
“Entendemos que o investimento social privado é o
ator estratégico para delinear melhor o sentido público da atuação social das
empresas. Ou seja, é o lugar mais apropriado, qualificado e efetivo de
aproximação do negócio com públicos mais distantes das empresas, como as
comunidades, por exemplo. O que precisamos discutir é, num processo de
alinhamento, como garantir a importância estratégica do investimento social
privado, para que ele não seja totalmente absorvido pelo negócio ou se torne
apenas um pedaço da responsabilidade social. Por isso, ele precisa ser
estratégico e não um adendo”, ressalta.
Rafael Oliva, consultor na área e responsável pelo
estudo do Gife, ressalta que essa aproximação entre investimento social privado
e empresas reflete, inclusive, um novo ambiente no qual a sociedade brasileira
vem sendo inserida nos últimos anos.
“Vemos, no Brasil, um movimento em busca pelo
aumento da transparência e combate à corrupção. Hoje, cada vez mais, os
cidadãos passam a olhar para a ação social das empresas de forma mais atenta,
verificando seu comprometimento com temas socioambientais. Ou seja, há uma
série de fenômenos que impulsionam e empurram para dentro dos negócios questões
que, até então, ficavam de fora, e eram direcionadas para os institutos e
fundações – considerados os ‘braços sociais das empresas’ – a lidar. O que está
acontecendo agora é que as empresas estão percebendo que estas preocupações atravessam
sim sua atuação enquanto negócio. E, com isso, o ISP não tem como ficar de
fora”, explica o especialista.
Novo estudo
Mas, afinal, o que significa alinhar o ISP ao
negócio? Existe uma única maneira de se fazer isso? Quais caminhos os
investidores sociais têm encontrado para essa aproximação?
Essas são algumas das perguntas que nortearam o
novo estudo, que será lançado pelo Gife sobre o tema. A organização partiu da
percepção de que o setor não dispunha de uma compreensão única sobre o
significado da própria expressão ‘alinhamento entre ISP e negócio’.
“O estudo foi pensado para endereçar essa percepção
difusa de uma pluralidade de entendimento e também para trazer mais reflexão
dos caminhos possíveis que vêm sendo vivenciados pelos diversos institutos e
fundações nessa relação com as empresas. A proposta foi fazer um mapeamento
conceitual e ver de que maneira isso se reflete nas práticas dos investidores
sociais”, comenta Rafael.
O material é resultado de uma reflexão elaborada a
partir de uma série de entrevistas realizadas com associados e também
representantes das empresas.
O estudo aprofunda ainda informações captadas pelo Censo Gife, que nesta última edição incorporou
questões sobre o tema por vários ângulos: ‘como o gestor leva em conta as
atividades da empresa no processo de decisão do investimento social; como o
investidor vê a sua atuação refletida nas próprias ações da empresa; e os
riscos e oportunidades em relação ao alinhamento’.
No Censo, por exemplo, entre os vários aspectos
observados neste item, um que se destacou foi o fato de que os investidores têm
a percepção de que influenciam as práticas das empresas (60%) mais do que são
influenciados por elas. E isso ocorre, principalmente, em questões mais ligadas
à cultura das empresas do que diretamente relacionadas ao negócio como, por
exemplo, no sentido da incorporação ou aprofundamento das práticas de
sustentabilidade; ampliação dos impactos socioambientais positivos; princípios
e valores da empresa; e melhoria do diálogo e relacionamento com a comunidade.
Possíveis aproximações
Rafael Oliva destaca que, a partir do estudo, foi
possível perceber que, apesar do alinhamento ser um assunto presente no
conjunto de associados do Gife, isso se dá realmente de forma heterogênea e as
compreensões sobre o tema são mesmo diversificadas.
Há um grupo, por exemplo, que vê o ISP como um ator
que pode influenciar na construção da visão estratégica da empresa, trazendo
uma perspectiva socioambiental para o negócio.
O segundo grupo aponta que o ISP deve produzir e
gerar valor para a empresa. Ou seja, ele precisa desenvolver iniciativas que
possam produzir retornos tangíveis para o negócio, sejam eles de imagem,
relacionamento, motivacionais etc. Há outra perspectiva que compreende os
institutos e fundações como um lócus de inteligência social e, a partir disso,
podem incentivar inovações de produtos e serviços para o negócio, inspiradas
por preocupações socioambientais.
E, por fim, um grupo que resiste em fortalecer essa
aproximação e defende a ideia de que as empresas e os institutos/fundações
devem ser mantidos separados, a fim de que o ISP não seja colocado em risco.
“O que temos reforçado realmente é que não cabe
falar num único modelo de alinhamento, pois há um leque de múltiplas
possibilidades de se estabelecer essa relação. Algumas, claro, são mais
potentes para prevalecer o sentido público do ISP e fortalecer a dimensão
pública da ação empresarial e outras que podem enfraquecer a vocação pública do
investimento social”, comenta Rafael.
Desta forma, a aposta, segundo o especialista, é
que cada instituição identifique oportunidades frentes aos vários caminhos
existentes e, partir da sua realidade, definam a maneira que pretendem estabelecer
esse alinhamento, e se pretendem.
Fonte: Gife
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