ONU
anuncia Cúpula Mundial Humanitária.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (segundo a
partir da esquerda) informa a Assembleia Geral sobre a Cúpula Mundial
Humanitária, que acontecerá em maio, em Istambul.Foto: Rick Bajornas/ONU.
Por Valentina Ieri, da IPS –
Nações Unidas, 12/2/2016 – O secretário-geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, convocou a comunidade
internacional para que “nenhuma pessoa que esteja em um conflito armado,
nenhuma com pobreza crônica, nenhuma que viva com o risco de perigos naturais e
do aumento do nível do mar fique esquecida”.Ao falar perante os delegados
durante a apresentação de um novo informe, Ban afirmou que a primeira Cúpula
Mundial Humanitária, que acontecerá em Istambul, na Turquia, nos dias 23 e 24 de
maio, “será o momento para nos unirmos na renovação de nosso compromisso com a
humanidade”.
O informe Uma Humanidade: A Responsabilidade
Compartilhada, foi divulgado no dia 9.A ONU afirma que precisa de mais de
US$ 20 bilhões para alimentar e cuidar de mais de 60 milhões de pessoas
deslocadas dentro de seus países ou que fugiram para outras terras se
convertendo em refugiados. Aproximadamente 40 dos 193 Estados membros das
Nações Unidas experimentam “crises e violência de nível, alto, médio ou baixo”,
destacouo secretário-geral.
Ban advertiu que “as atuais crises em nossa
economia política mundial, junto com a mudança climática”, a violência
extremista, o terrorismo, a criminalidade transnacional e a persistência de
brutais conflitos armados estão devastando as vidas de milhões de pessoas e
provocando a desestabilização de regiões inteiras.“Os complexos desafios de
hoje cruzam as fronteiras e superam a capacidade de qualquer país ou
instituição individualmente. Precisamos restaurar a confiança em nossa ordem
mundial internacional e na capacidade de nossas instituições nacionais e
regionais para enfrentar com eficácia esses desafios”, pontuou.
Um alto funcionário da ONU disse que o informe
contém uma petição pessoal do secretário-geral para “restaurar a humanidade” e,
dessa forma, garantir a dignidade e a segurança de todas as pessoas, segundo a
Declaração Universal dos Direitos Humanos e os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) da Agenda 2030.Como parte do plano quinquenal de Ban, a
cúpula de Istambul convocará a comunidade internacional para que redescubra “a
unidade e a solidariedade mundiais” e ponha fim ao sofrimento humano e à
desigualdade, segundo o funcionário, que não quis ser identificado.
Os fundos com fins “humanitários se multiplicaram
por completo até mais de 600% do que precisávamos há dez anos, e quase 80% mais
de pessoal humanitário, mas também forças de manutenção da paz e pessoas em
missões políticas especiais estão envolvidos nessas situações prolongadas”,
destacou a fonte da ONU.Países e organizações da sociedade civil de todo o
mundo receberam bem a iniciativa de Ban.
“O sistema humanitário está esmagado pela magnitude
de necessidades crescentes em um mundo sacudido pelas crises e (os governantes)
não devem se limitar às palavras, são necessárias medidas concretas com
urgência. O maior legado da Cúpula Mundial Humanitária seria o compromisso real
para mudar essa situação”, afirmou Charlotte Stemmer, representante da Oxfam.
O informe assinala que “a comunidade internacional
está aumentando sua resposta às crises, enquanto luta para encontrar soluções
políticas e de segurança sustentáveis para acabar com elas”.Em 2014,
calculava-se que o custo econômico e financeiro dos conflitos armados chegava a
US$ 14,3 trilhões, ou 13,4% da economia mundial.
O informe recomenda que a humanidade compartilhe a
responsabilidade na liderança política para evitar e acabar com os conflitos
armados. Em lugar de investir na assistência humanitária, a comunidade
internacional deve dar prioridade às soluções políticas, à unidade e à
construção de sociedades pacíficas, acrescenta.
Também deve aplicar e cumprir as leis
internacionais para proteger a população civil, respeitar os direitos humanos,
restringir o uso e a transferência de certas armas e munições, cessar os
bombardeios e fortalecer o sistema de justiça internacional, diz o documento.
Em terceiro lugar, o recomenda “não esquecer
ninguém” – que também é o tema central da Agenda 2030 de Desenvolvimento da ONU
– e ajudar a população mais pobre e vulnerável nas zonas afetadas pela guerra
ou em casos de desastres naturais. Também inclui a proteção das mulheres e
meninas e se concentra no direito à educação para todos.
O informe destaca que, em 2014, os conflitos
armados e a violência obrigaram cerca de 42.500 pessoas a fugirem de suas casas
a cada dia, o que resultou em mais de 60 milhões de pessoas deslocadas,
refugiadas e solicitantes de asilo no primeiro semestre de 2015. Cerca de
metade das meninas e dos meninos refugiados do mundo não estão recebendo educação
primária e 75% não têm acesso à educação secundária, segundo a ONU.
Atualmente, quase 1,4 bilhão de pessoas vivem em
situações de fragilidade, e estima-se que serão 1,9 bilhão até 2030, de acordo
com o documento.Portanto, é fundamental que sejam adotadas medidas coordenadas
para antecipar as crises, reforçar as instituições e os governos locais,
aumentar a resiliência da comunidade e investir na análise de dados e riscos.
O informe também recomenda o investimento na
humanidade. Ban Ki-moon exortou os doadores e as autoridades nacionais a
mudarem a mentalidade para a “doação de fundos para financiamento” dos atores e
instituições locais, já que melhoram a rentabilidade e a transparência. O
secretário-geral explicou que a cúpula de Istambul, que será organizada pelo
Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, oferecerá pela
primeira vez a oportunidade de refletir sobre um novo contexto de ajuda
humanitária.
A cúpula tem por objetivo reunir a comunidade
internacional (sociedade civil, governantes, setor privado, representantes das
missões de paz) para conceber novas políticas e estratégias de assistência
humanitária nos países afetados.
“Peço aos líderes do mundo que venham à Cúpula
Mundial Humanitária preparados para assumir suas responsabilidades por umanova
era nas relações internacionais. Uma era na qual a salvaguarda da humanidade e
a promoção do progresso humano impulsione nossa tomada de decisões e medidas
coletivas”, escreveu Ban no prefácio do informe.
Fonte:
ENVOLVERDE
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