segunda-feira, 21 de março de 2016

Não há tranquilidade quando se fala em água.
Foto: Sistema Cantareira. / Vagner Campos/A2 FOTOGRAFIA

“A percepção generalizada da crise da água acabou”, disse Marussia Whately ao abrir na quarta-feira (17/2) a 1ª Reunião da Aliança pela Água em 2016. E essa é uma péssima notícia, pois tudo o que São Paulo não precisa é que as pessoas se esqueçam que estamos muito longe (mas longe mesmo!) de ter uma situação tranquila em relação à provisão de água.

Por Maura Campanili*

Só para lembrar, as chuvas próximas à média histórica (mas ainda abaixo dela) levaram o sistema Cantareira a 18% de sua capacidade de armazenamento, em janeiro último, o que é melhor do que há um ano, mas pior do que em 2014 e nos anos anteriores: era de 55% em 2013 e 95% em 2010. Mesmo que o sistema Guarapiranga esteja bem, com 80% da capacidade, ainda tem menos água do que o Cantareira quando estava com 10%. Segundo o relato da coordenadora da Aliança, o Guarapiranga está cheio porque tem recebido água da represa Billings (que é tão grande quanto o Cantareira, mas totalmente poluída), por meio de um de seus braços, o Taquacetuba. Nem precisa ser gênio para adivinhar que a qualidade da água não deve estar das dez mais…

As previsões são que o sistema Cantareira deve terminar o verão – ou seja, a estação das chuvas – com aproximadamente 35% de sua capacidade. No entanto, historicamente, perde entre 20% e 25% dessa capacidade ao longo do ano. Com isso, deve terminar 2016 em um nível abaixo do seguro.

Mais uma vez, uma postura clara do poder público em relação ao problema tende a levar a Região Metropolitana a novos episódios agudos de crise. Um dos pontos debatidos na reunião da Aliança foi justamente a falta de inserção política dos movimentos ambientais, incluindo as demandas relacionadas à água. E isso não se resume ao governo estadual, já que a responsabilidade é compartilhada por todos os níveis de governo.

O fato do governo federal anunciar (em plena Campanha da Fraternidade, da Igreja Católica, com o tema Saneamento Básico), que não cumprirá a meta de ter esgoto em mais de 90% do país dentro dos próximos 17 anos, já é uma desolação. Em uma época de crise hídrica, que deverá se agravar com as mudanças climáticas, e epidemia de dengue, zika e vai saber quais mais vírus transmitidos pelo “aedes”, é tudo muito preocupante.

As eleições municipais que se avizinham são uma grande oportunidade de trazer o problema à baila. Candidatos dirão que é responsabilidade do governo estadual e que este não fez o que devia. Só a segunda parte é verdadeira. Prefeitos e vereadores têm sim um papel importante nessa seara: precisam zelar pela ocupação urbana e pelas áreas verdes, por exemplo. E a relação disso com a qualidade da água (e com controle de enchentes, saúde pública etc.) já é bem sabida. E, mais uma vez, saneamento, na legislação brasileira, é uma competência compartilhada.

A Aliança da Água é uma coalizão da sociedade civil para enfrentamento da crise hídrica e para contribuir com a transição para “uma nova cultura de cuidado com a água” no Brasil, com prioridade de atuação na RMSP e articulação para replicar a iniciativa junto a redes e parceiros em outras localidades. Suas ações, que incluem as atividades para este fim das mais de 70 organizações que fazem parte dela, deverão pipocar ao longo do ano. Esperemos que sejam amplificadas e que deixem sua marca em prol do futuro da cidade e da região.

* Maura Campanili é jornalista. Desde 2004, atua através do NUCA-Núcleo de Conteúdos Ambientais, através do qual presta serviços jornalísticos na área socioambiental para ONGs, empresas e governos.


Fonte: Nuca Brasil

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