O preço
do petróleo e o futuro da energia.
Parque Eólico de Aracati, no Ceará.
©Greenpeace/Otávio Almeida.
A volatilidade do valor do barril não altera uma
certeza: as energias renováveis seguirão em alta. E o Brasil não pode mais
perder tempo.
Por Pedro Telles*
A forte queda do preço do petróleo em mercados
internacionais, observada no último ano e meio, tem trazido dúvidas sobre o
futuro das energias renováveis. Desde meados de 2014, o valor do barril de
petróleo caiu de US$ 100 para US$ 30. E pode cair mais. Nesse cenário, muitos
se perguntam se fontes como a solar e a eólica manterão sua competitividade e o
impressionante ritmo de expansão observado em anos recentes.
Juntas, as fontes solar e eólica viram sua
capacidade instalada crescer cerca 1.000% no mundo ao longo da última década.
Felizmente, há plenas condições para esse ciclo virtuoso continuar, e diversas
razões para isso podem ser destacadas.
Na maioria dos países, as novas energias renováveis
ainda crescem sem competir tão diretamente com o petróleo. Enquanto mais de
metade do petróleo produzido no mundo é consumido como combustível para os
transportes e outra grande fatia vai para atividades industriais, as novas
renováveis ganham espaço com mais força na geração de eletricidade –na qual a
competição central é com carvão, gás natural e energia nuclear. O preço de
petróleo pode até exercer alguma influência, mas não é determinante.
Com o avanço das tecnologias, é esperado que as
novas renováveis passem a competir mais diretamente com o petróleo. Os veículos
elétricos, que ainda não ganharam grande escala mas devem fazê-lo em alguns
anos, são um exemplo. Contudo, a redução de preços das fontes mais modernas de
energia também tem sido notável: desde a década de 1980, o custo de painéis
solares vem caindo cerca de 10% ao ano. E deve seguir nessa tendência, segundo
estudo de pesquisadores da Universidade de Oxford publicado neste ano.
É importante ressaltar que, enquanto os preços das
renováveis só tendem a cair, a história nos mostra que o preço do petróleo é
oscilante, sendo muito difícil dizer em qual patamar estará daqui a poucos anos
ou até mesmo meses. Investir em petróleo, portanto, é um negócio arriscado. Mas
apostar nas novas renováveis é uma estratégia cada vez mais segura,
especialmente no longo prazo, que é para onde governos e empresas do setor
geralmente olham.
Outra razão para manter o otimismo com relação às
novas renováveis é a consolidação do setor. Seu crescimento na última década
superou as expectativas mais otimistas. Uma das principais barreiras à
popularização das energias solar e eólica, o armazenamento de energia em
baterias compactas para momentos em que o sol não brilha ou o vento não sopra,
já está sendo superada por produtos lançados recentemente.
Além disso, a previsibilidade dessas fontes de
energia vem sendo estudada e equacionada há muito tempo, e é uma área de
conhecimento avançada. Para citar um exemplo, em 2014, temia-se o risco de um
eclipse desestabilizar a rede elétrica da Alemanha, que conta com participação
significativa de energia solar. O impacto, no entanto, foi mínimo e pontual,
reforçando a confiança na matriz.
Fim da era do petróleo
Para além de aspectos econômicos e técnicos, as
esferas política e socioambiental da discussão também apontam cada vez mais na
direção de energias como a solar e a eólica. A nível global, as renováveis são
a principal saída para o desafio das mudanças climáticas, causadas
principalmente pela queima de combustíveis fósseis como o petróleo.
No final do ano passado, governos de 195 países
assinaram o importante Acordo de Paris, assumindo os compromissos de evitar um
aquecimento global superior a 1,5°C e, na segunda metade do século, neutralizar
emissões de gases de efeito estufa. Em termos práticos, a única forma realista
de atingir esses objetivos é zerando o consumo de combustíveis fósseis até
2050. Ou seja, o mundo já assinou o fim da era do petróleo.
Existe ainda espaço para governos aproveitarem os
baixos preços do petróleo e removerem subsídios ao seu consumo. Com a drástica
queda dos preços, esses subsídios simplesmente perdem sentido. Diversos países
como Índia, Indonésia e Malásia já fizeram isso, e muitos outros podem seguir o
exemplo.
Os recursos que iriam para as grandes empresas
petrolíferas podem, então, ser direcionados justamente para as novas
renováveis, acelerando a transição para uma matriz energética mais moderna e
limpa. E se os preços do petróleo voltarem a subir, o mercado já estará
operando sob novas condições. E se reequilibrará, sem contar com um apoio que
custa caro à sociedade e perpetua o grave problema das mudanças climáticas.
Em resumo, o cenário continua notavelmente
favorável às renováveis, e cada vez mais desfavorável para o petróleo. Não à
toa o investimento em renováveis quebrou um novo recorde em 2015, chegando a
US$ 329 bilhões, com China e Estados Unidos na liderança. Enquanto isso, cresce
exponencialmente um movimento internacional de retirada de investimentos em
petróleo, que já conta com o apoio de organizações como o Rockefeller Brothers
Fund, a Universidade de Glasgow e o Conselho Mundial de Igrejas.
O Brasil tem tudo para se tornar um dos
protagonistas dessa revolução energética. Poucos países contam com condições
tão favoráveis às energias solar e eólica. Alguns de nossos governantes já
começam a perceber isso. Um deles é José Fortunati, prefeito de Porto Alegre,
que há menos de um mês assumiu o compromisso de ter 100% dos prédios municipais
gerando ou consumindo energias limpas e renováveis até 2050.
Ainda assim o governo federal continua olhando para
o passado. E destinará aos combustíveis fósseis cerca de 70% dos investimentos
públicos em energia previstos para a próxima década. Outro exemplo dos
equívocos cometidos é o fato da presidente Dilma ter vetado uma séria de
medidas favoráveis às energias renováveis no Plano Plurianual para 2016-2019,
sancionado há poucas semanas.
Está totalmente ao alcance de Dilma e sua equipe
mudar de postura e investir de fato no futuro. Basta abrir os olhos para os
enormes benefícios econômicos, sociais e ambientais oferecidos pelas
renováveis.
* Pedro Telles é coordenador de Clima e
Energia do Greenpeace.
Fonte: Greenpeace Brasil
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