Crescimento
da classe média em risco.
Complexo residencial na Romênia. O crescimento da
classe média está em risco na Europa oriental e na Ásia central, segundo estudo
do Pnud. Foto: Claudia Ciobanu/IPS.
Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 16/2/2016 – A Agenda de
Desenvolvimento Pós-2015, da Organização das Nações Unidas (ONU), que
governantes de todo o mundo aprovaram em uma reunião de cúpula realizada em
setembro, inclui uma meta muito ambiciosa – a erradicação da pobreza extrema
até 2030.A redução da pobreza refletida no cumprimento parcial dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), cujo prazo terminou em dezembro, teve o
surgimento de uma nova classe média como uma consequência positiva.
No entanto, um estudo do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (Pnud) indica que vários fatores estariam pondo em risco
a queda da pobreza e o fortalecimento da classe média, como a redução nos
preços das matérias-primas e a redução das remessas de dinheiro, especialmente
na Europa oriental e Ásia central. Nessas duas regiões, a classe média cresceu
de 33 milhões de pessoas, em 2001, para 90 milhões, em 2013, segundo os últimos
dados disponíveis.
“Em muitos sentidos, a história nessa região difere
do que ocorre em outras partes do mundo. A proporção de pessoas que vivem com
US$ 10 ou US$ 50 por dia aumentou na maioria desses países”, afirmou Cihan
Sultanoglu, diretora do escritório regional do Pnud para a Europa e a
Comunidade de Estados Independentes. A extrema pobreza atinge pessoas que vivem
com menos de US$ 1,25 por dia.
Nesse mesmo período, o número de pessoas da região
que viviam na pobreza diminuiu de 46 milhões, em 2001, para, aproximadamente
cinco milhões, em 2013. “Mas os avanços da região estão ameaçados, e é preciso
prestar atenção na melhora de suas perspectivas de desenvolvimento
sustentável”, advertiu Sultanoglu à IPS.Segundo a diretora do Pnud, as
oportunidades geradoras de renda e emprego estão desaparecendo devido ao
colapso dos preços dos produtos básicos, à queda nas remessas e ao lento
crescimento econômico na Europa, Rússia e em grande parte da região.
“Que impacto pode ter a desigualdade na redução da
pobreza? Nessa região é fundamental que a desigualdade seja baixa, ou esteja em
queda, para as perspectivas de redução da pobreza, crescimento integrador e
desenvolvimento sustentável”, ressaltou Sultanoglu.
No dia 8 deste mês, diante da Comissão das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Social, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon,
disse que “a experiência demonstrou que a prosperidade da economia não basta
para erradicar a pobreza e promover a prosperidade compartilhada. Aeconomia
deve ser posta a serviço das pessoas, mediante políticas sociais integradas e
eficazes”.Segundo Ban, “a crescente brecha entre ricos e pobres marginaliza e
afasta os mais vulneráveis da sociedade”.
Nesse sentido, Ben Slay, economista do Pnud para
Europa oriental e Ásia central, opinou à IPS que “é improvável um crescimentoda
classe média muito maior em 2016 ou 2017, devido ao difícil contexto de
crescimento geral”. O estudo do Pnud calcula que aproximadamente 50% dos
trabalhadores daAlbânia,Azerbaijão, Georgia, Quirguistão e Tajiquistão estão em
situação de emprego vulnerável.
Vinicius Pinheiro, diretor do escritório da ONU na
Organização Internacional do Trabalho, disse à Comissão de Desenvolvimento
Social que, em 2015, outro 0,7 milhão de pessoas engrossaram as filas do
desemprego, alcançando um total de 197,1 milhões no mundo. Isso equivale ao
crescimento de um milhão de desempregados em relação a 2014 e mais de 27
milhões em relação aos níveis anteriores à crise.
Segundo o Pnud, os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), aprovados em setembro, estão dedicados a combater a
desigualdade e a exclusão. E os 193 Estados membros da ONU se comprometeram a
erradicar a pobreza, combater desigualdades mediante a construção de sociedades
pacíficas, inclusivas e resistentes, e assegurar o futuro do planeta e o
bem-estar das gerações futuras.
Cerca de 1,5 bilhão de pessoas vivem na pobreza,
segundo o Índice de Pobreza Multidimensional do Pnud, e quase 800 milhões são
vulneráveis de recaírem nela. Das pessoas de idade avançada, 80% carecem da
proteção social básica, o que as converte em um setor especialmente em risco.
“O desafio não é só tirar as pessoas da pobreza, mas garantir que esta saída
seja permanente”, destacou a administradora do Pnud, Helen Clark.
“Isso é difícil se não existe proteção social e nos
casos em que as sociedades são vulneráveis a conflitos armados e enormes
retrocessos devido a desastres naturais”, indicouClark. “Na medida em que
avançarem as economias emergentes dinâmicas e as sociedades estáveis, veremos
de forma crescente que a extrema pobreza se localizará nas zonas expostas a
conflitos e com alto risco de desastres, e onde há mau governo e escasso
império da lei”, pontuou.
Portanto, será um exercício inútil falar sobre a
erradicação da pobreza se o contexto no qual existe não é abordado,
ressaltouClark.“No Pnud, esperamos que a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015
assuma esses desafios. Também esperamos desempenhar plenamente nossa parte na
construção de sociedades mais inclusivas, pacíficas e resilientes, que possam
promover o desenvolvimento humano”, afirmou.
A batalha contra a pobreza também deve lidar com os
conflitos bélicos e as crises humanitárias.
“Vivemos em um mundo de confusão e
problemas”, afirmou Ban no dia 9 deste mês. Embora, talvez, existam menos
guerras entre os países, há mais insegurança, apontou.Segundo o
secretário-geral, “a desigualdade continua sendo muito elevada, e afeta os
esforços de redução da pobreza e a coesão social nos países industrializados e
em desenvolvimento”.
Muitas pessoas continuam sofrendo exclusão e não
podem desenvolver todo seu potencial. Poucas economias alcançaram um
crescimento inclusivo e sustentável e podem promover um verdadeiro progresso
social, enfatizou Ban.“As pessoas estão frustradas. Trabalham mais e ficam para
trás. Com muita frequência, em lugar de decisões, veem um caminho sem saída. E
perguntam: os governantes ao menos escutam?”, concluiu o secretário-geral.
Fonte: ENVOLVERDE
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