sábado, 19 de março de 2016

Senhores da guerra podem invadir a Síria.
Aviões de combate da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos atacaram as refinarias de petróleo no leste da Síria controladas pelo Estado Islâmico, em setembro de 2014. Foto: Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

Os grandes senhores da guerra “oficiais”, isto é, o aparato militar russo e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e seus “aliados (Europa, Otan, países do Golfo liderados pela Arábia Saudita e Turquia) deram no último fim de semana mais um passo para o abismo do Oriente Médio.

Por Baher Kamal, da IPS – 

Madri, Espanha, 17/2/2016 – Quando os sírios souberam que importantes dirigentes mundiais acabavam de embarcar em uma confrontação sem precedentes, ameaçando inclusive desatar a Terceira Guerra Mundial, em lugar de acordar um cessar-fogo humanitário, seguramente caíram em uma desesperança ainda mais profunda.Vejam o que esse sentimento provocou entre os 25 milhões de sírios, metade deles refugiados fora e dentro de seu país, e a outra metade aterrorizada pelos bombardeios de um conflito que em março completará cinco anos.

Os grandes senhores da guerra “oficiais”, isto é, o aparato militar russo e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e seus “aliados (Europa, Otan, países do Golfo liderados pela Arábia Saudita e Turquia) deram no último fim de semana mais um passo para o abismo do Oriente Médio, durante sua Conferência de Segurança, realizada em Munique.

Por um lado, Moscou advertiu Washington e Riad do risco de uma “guerra permanente”, se for lançada uma intervenção por terra na Síria. Assim, o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, afirmou, no dia 12, em uma entrevista ao jornal alemão Handelsblatt, que o envio de tropas estrangeiras para a Síria poderia desencadear uma “nova guerra no mundo”.

A advertência aconteceu após recentes declarações da Arábia Saudita, à qual se uniram outros Estados do Golfo e a Turquia, no sentido de que estavam prontos para enviar tropas por terra à Síria, se Washington preparasse o caminho para isso.

“Todas as partes (envolvidas no conflito sírio) devem sentar-se à mesa de negociação em lugar de desatar outra guerra no mundo”, alertou Medvedev. “Qualquer tipo de operação em terra leva, por regra geral, a uma guerra permanente. Vejam o que aconteceu no Afeganistão e em alguns outros países”, para não falar da Líbia, acrescentou.

Segundo o primeiro-ministro russo, “os norte-americanos e os sócios árabes devem pensar bem: querem uma guerra permanente? Acreditam realmente que podem ganhar rapidamente? Isto é impossível, sobretudo na região árabe… Ali todo mundo está lutando contra todo mundo”. E ressaltou que “devemos fazer com que todos se sentem à mesa de negociação em lugar de iniciar uma nova guerra mundial”.

Sob o título de Exclusivo: Medvedev adverte sobre uma nova guerra mundial, oHandelsblatt publicou a entrevista (em alemão e inglês) na véspera da Conferência de Segurança de Munique e da reunião do Grupo Internacional de Apoio à Síria, onde o fim das hostilidades neste país encabeçou a ordem do dia.

Por outro lado, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Ashton Carter, pressionava a favor de uma ampla participação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na chamada guerra contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

De fato, no dia 11 deste mês, ao concluir uma reunião da Otan em Bruxelas, Carter disse que esta aliança militar está considerando unir-se à coalizão liderada pelos Estados Unidos na luta contra militantes do EI na Síria e no Iraque. Graças à liderança do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, se explora a possibilidade de esta força se unir à coalizão como seu membro”.

No dia seguinte, os Estados membros da Otan acordaram enviar um avião de vigilância AWACS para colher informação de inteligência sobre o Iraque e a Síria, em substituição aos aparelhos norte-americanos. Segundo Carter, isto “aumentará a capacidade da coalizão para destruir o grupo terrorista”.

Paralelamente, a Otan enviou,no dia 11 deste mês, navios de guerra ao Mar Egeu para ajudar Turquia e Grécia contra os traficantes de pessoas, e deter o fluxo de emigrantes, segundo anunciou esta aliança militar. Três navios militares da organização receberam a ordem de “começar a se mover agora” e se dirigem ao Mar Egeu para realizar operações de reconhecimento e vigilância, confirmou nesse mesmo dia seu secretário-geral.

“Trata-se de ajudar Grécia, Turquia e a União Europeia a deterem o fluxo de emigrantes e refugiados e enfrentar uma situação muito exigente”, explicou Stoltenberg, que descreveu a situação como uma “tragédia humana”, e acrescentou que as forças da aliança vigiarão a fronteira terrestre entre Síria e Turquia.

Simultaneamente, Ancara anunciou que Arábia Saudita enviará aviões militares da base aérea de Incirlik, no sul da Turquia, e que utiliza a força aérea dos Estados Unidos para suas incursões na Síria. Esse envio é parte do esforço liderado por Washington para derrotar o grupo terrorista EI, afirmou o ministro de Assuntos Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu. Uma vez estabelecida a correspondente estratégia, “Turquia e Arábia Saudita poderão lançar uma operação terrestre”, apontou.

O anúncio feito por Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, sobre sua disposição de contribuir com tropas para uma operação terrestre na Síria, com a condição de Washington liderar a intervenção, não demorou em provocar outras reações.

Assim, a própria Síria e seu forte aliado na região, o Irã, advertiram que tal força estrangeira enfrentaria uma grande resistência. Por sua vez, o primeiro-ministro russo pediu aos seus colegas ocidentais na Conferência de Segurança de Munique para “não ameaçarem com uma operação terrestre na Síria”.

Mais tarde, no dia 13 deste mês, Medvedev declarou que as relações entre Otan e Rússia deslizam para “uma nova guerra fria”. Depois criticou a Otan, afirmando que “quase todos os dias se referem a nós (Rússia) como a mais terrível ameaça para a Otan em seu conjunto, ou especificamente para Europa, América e outros países.

Em resumo, em menos de uma semana, as grandes potências militares e seus aliados ameaçaram com uma invasão na Síria e intervenções armadas no Iraque, e inclusive uma nova guerra mundial como resposta à tragédia humana em curso nesses dois países.

Se o fizerem, seguramente não haveria nenhum problema, pois seria mais do que suficiente um alto dirigente, militar ou civil, dizer que as mortes adicionais da população civil desarmada devido a esse tipo de operação militar são, simplesmente, “um dano colateral”.


Fonte: ENVOLVERDE

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