Região de
Campinas e Piracicaba será modelo nacional para adaptação da água a mudanças
climáticas.
O Brasil que se adapta às mudanças climáticas
Em agosto de 2014, rio Piracicaba quase seco:
impacto das mudanças climáticas e problema de gestão (Foto José Pedro Martins)
Por José Pedro Martins, da ASN –
A região de Campinas e Piracicaba, localizada nas
bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), será modelo para um
programa nacional de adaptação dos recursos hídricos às mudanças climáticas
globais em curso. Esta indicação está presente no Plano Nacional de Adaptação à
Mudança do Clima, lançado como uma das últimas medidas da presidente Dilma
Rousseff antes de ser afastada pela aprovação do início do projeto de
impeachment no Senado no último dia 12 de maio. O projeto executado nas bacias
PCJ será tema de seminário neste dia 7 de junho em Piracicaba.
O Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima
reúne as estratégias e ações que o Brasil precisa seguir para se preparar e
enfrentar as mudanças climáticas em curso. O Plano é uma decorrência,
especificamente, da Política Nacional sobre Mudança do Clima, estabelecida pela
Lei 12.187, de 29 de dezembro de 2009. (Sobre o lançamento do Plano, ver aqui)
Para a elaboração do Plano, o Ministério do Meio
Ambiente considerou vários cenários futuros de mudanças climáticas para o
Brasil, conforme os estudos que vêm sendo realizados por cientistas de vários
países. O Plano Nacional cita, por exemplo, o Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC), que apontou impactos importantes que já estão
acontecendo no Brasil.
Entre esses impactos, o IPCC identificou um aumento
de temperatura de até 2,5 graus na região costeira do Brasil, entre 1901 e
2012, o aumento do número de dias com chuvas acima de 30 mm na Região Sudeste,
o aumento também da temperatura no mar no Atlântico Sul e mudanças na
salinidade. Outro impacto detectado pelo IPCC é o aumento ma ocorrência,
intensidade e influência dos eventos de eventos ENOS no clima continental do
país (El Nino Pacífico Leste Equatorial, La Nina e El Nino Pacífico Central).
PCJ como modelo – O Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima
aponta, então, as estratégias e ações para vários setores, como agricultura, energia,
biodiversidade e recursos hídricos.
No setor de recursos hídricos, o Plano identifica
como uma das metas “Desenvolver modelagens climáticas e hidrológicas
integradas, e avaliar seus impactos na gestão de recursos hídricos”. Entre as
ações para a conquista desta meta está o “Desenvolvimento de estudos de
aplicação da metodologia Economia da Adaptação à Mudança do Clima, a partir do
projeto nas bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí”.
De fato, as bacias dos rios PCJ, onde está a região
de Campinas e Piracicaba, sofreram – e continuam sofrendo – os impactos da
crise hídrica que acontece desde o final de 2013 em São Paulo, como resultado
de problemas de gestão e da forte estiagem no estado. Pois agora esta região
está recebendo, com apoio europeu, um projeto-piloto pioneiro no Brasil de
adaptação de bacias hidrográficas a eventos extremos produzidos no contexto
das mudanças climáticas.
A adaptação das bacias PCJ, que somam mais de
60 municípios, a eventos extremos é um dos objetivos do acordo mantido
entre a Agência das Bacias PCJ e o Office Internacional de l´Eau, no contexto
da Ação EcoCuencas, realizada com apoio de várias organizações
internacionais e financiamento da Comissão Europeia. A Ação EcoCuencas foi um
dos exemplos de combate às mudanças climáticas apresentados na Conferência do
Clima (COP-21) em dezembro de 2015 em Paris.
A Ação EcoCuencas foi iniciada em dezembro de 2014,
com horizonte de três anos, envolvendo nove parceiros latino-americanos e
europeus, como já informou a Agência Social de Notícias (ver aqui). A iniciativa está
fundamentada no conceito de que a bacia hidrográfica é um espaço
estratégico para o desenvolvimento de ações de prevenção e combate às
mudanças climáticas. Cuenca é “bacia” em espanhol. O orçamento total de
EcoCuencas é de 2,5 milhões de euros, cobertos em 75% pela Comissão
Europeia como parte de seu programa Waterclima-LAC. Os outros 25% são derivados
das contribuições dos vários parceiros do projeto, como a Agência das Bacias
PCJ.
As bacias PCJ são uma das três regiões na América
Latina que estão recebendo um projeto-piloto de prevenção aos eventos
extremos provocados pelas mudanças climáticas. As outras duas são a bacia do
rio Chira-Catamayo, entre Equador e Peru, e a bacia do reservatório Rio Grande
II, da Colômbia. A intenção dos parceiros é que os projetos-piloto demonstrem
de forma prática que os mecanismos de redistribuição econômica no âmbito das
bacias são relevantes para alcançar uma gestão integrada dos recursos hídricos
e uma maior resiliência frente as mudanças climáticas. De acordo com o Plano
Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, as conclusões do projeto nas bacias
PCJ serão estendidas ao território nacional, no âmbito da gestão dos recursos
hídricos.
Rio Piracicaba em agosto de 2014: Ação EcoCuencas
visa melhoria da gestão frente a mudanças climáticas (Foto José Pedro Martins)
Seminário em Piracicaba – O projeto financiado pela
Comissão Europeia será justamente o tema nesta terça-feira, dia 7 de junho, do
Seminário Internacional sobre Crise Hídrica e Mudanças Climáticas, uma
realização da Fundação Agência das Bacias PCJ e Office Internacional de L’Eau,
com apoio da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
O evento será realizado no âmbito da Ação
EcoCuencas. A primeira etapa do seminário, que começará às 10h, terá como
tema “Adaptação às mudanças climáticas e gestão hídrica: o desafio da
governança dos recursos hídricos em um cenário de incertezas e eventos
extremos”, com palestras do diretor-presidente da Agência das Bacias PCJ,
Sergio Razera, do professor Tércio Ambrizzi e de representantes da Agência
Nacional de Águas, do Instituto Mineiro de Gestão das Águas e da Secretaria de
Saneamento do Estado de São Paulo.
Após o almoço, a partir das 13h30, durante a
segunda etapa do evento, representantes da Agência das Bacias PCJ e do Office
Internacional de L’Eau e Aziza Akhmouch, da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico tratarão do tema “Governança e mecanismos financeiros
para a gestão de recursos hídricos”. No final, às 16h30, será aberto um debate
sobre a minuta do documento “Os desafios da governança da água”.
Para Sergio Razera, o Seminário “fomentará o debate
sobre a gestão das bacias em um cenário de incertezas climáticas, além de expor
experiências bem-sucedidas no Brasil e no mundo na elaboração e implementação
de políticas públicas e mecanismos financeiros para a gestão das águas, entre
outras medidas e instrumentos”.
Rio Piracicaba em agosto de 2014: projeto na bacia
citado no Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (Foto José Pedro
Martins)
Fonte: Agência Social de Notícias
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