Investimentos
verdes são a chave para a economia de baixo carbono.
Por Nina Braun*
Debates em torno de uma economia verde e de baixo
carbono têm sido recorrentes em todas as partes do mundo à medida que as
mudanças climáticas já começaram a causar diversos efeitos físicos com sérias
consequências para as empresas e investidores. Embora sempre tenham existido
variações de temperatura e eventos climáticos extremos, a ciência mostra que
esses acontecimentos estão se tornando cada vez mais intensos e serão mais
graves ao longo dos próximos anos e décadas. As empresas já estão sentindo
esses impactos nos negócios. Por conta disso, os investidores estão mais
preocupados com as questões ambientais e têm buscado ativamente uma maior
transparência por das empresas em que investem diretamente, enviando
questionários e emitindo declarações. Investidores e stakeholders esperam
que mais as empresas façam a gestão dos riscos físicos de curto e longo prazo,
bem como de potenciais oportunidades que possam surgir e divulguem suas estratégias
de gestão de risco.
Diante desse cenário, negócios de todo o globo
têm buscado um pleno entendimento do conceito da economia verde e formas de
aplicá-lo na prática. No entanto, a transição para uma economia de baixo
carbono requer uma atuação conjunta, estratégica e, principalmente, integrada
de diferentes setores. Devemos ter em mente que uma economia de baixo
carbono não seria idêntica à nossa economia atual com menores emissões de GEE.
Seria uma economia completamente diferente, que acarretaria em diferentes
preços de equilíbrios e vários efeitos de reajuste entre setores e tecnologias.
O acordo climático, firmado durante a COP 21, em
Paris, França, estabelece compromissos para limitar o aumento da temperatura
global em abaixo de 2° C, por meio de regulamentações futuras. Tendo isso em
vista, cada setor econômico precisará reduzir suas emissões a um ritmo
relativamente mais rápido, mudando, dessa forma, os padrões atuais de demanda
para que as empresas consigam se alinhar ao que foi proposto. Para os
investidores, uma economia de baixo carbono significará o alinhamento de suas
carteiras com a meta de 2° C. A questão não é determinar o quanto de CO2
as empresas financiadas estão emitindo, mas sim se os ativos que elas possuem
(estações de energia, matérias-primas, tecnologias, patentes inovadoras e etc.)
são necessários, compatíveis ou incompatíveis com o surgimento de uma economia
sustentável, para evitar investimentos em ativos bloqueados.
Existem grandes desafios pela frente,
especialmente em relação ao financiamento da transição para uma economia e
sociedade verdes, resistentes às alterações climáticas. Sabemos que os níveis
de financiamento atuais são insuficientes para limitar o aquecimento global a
2° C acima dos níveis pré-industriais. Isso exige um investimento maciço – mais
de US$ 1 trilhão por ano até 2035, de acordo com a Agência Internacional de
Energia (IEA, International Energy Agency), para o financiamento de um sistema
de energia de baixo carbono e tecnologias mais eficientes em termos energéticos.
O Relatório “Empowering a Greener Future 2015″,
da Climate Investment Funds (CIF) – fundos constituídos por vários países
europeus e os Estados Unidos para financiar projetos eco-sustentáveis – mostra
como os US$ 8 bilhões que o CIF destina aos países em vias de desenvolvimento
estão alavancando um adicional de US$ 58 bilhões em co-financiamentos de outras
fontes para promover uma mudança transformacional em 72 nações. Esse tipo de
financiamento estimula o potencial de uma economia de baixo carbono.
Hoje, existe a necessidade de participação ativa
de todos os protagonistas da economia. Os governos não são capazes de financiar
uma estrutura econômica de baixo carbono sem auxílio dos demais atores-chave da
sociedade. Todos os agentes econômicos precisam fazer a sua parte. Os
orçamentos públicos devem ser reorientados e também usados para estimular o
investimento privado em projetos de mitigação das alterações climáticas e
adaptação, porque esses investimentos substanciais só podem ser financiados por
meio de um maior envolvimento do setor privado.
Existem várias maneiras em que os fundos públicos
podem incentivar os agentes econômicos a direcionarem o seu capital para
investimentos sustentáveis. Uma delas é o fortalecimento do promissor mecanismo
de green bonds – títulos financeiros voltados a ações sustentáveis e
projetos de desenvolvimento climático. O setor privado se mostra muito
interessado no mercado de green bonds, que aumentou quase 10 vezes
entre 2012 e 2014, com mais de US$ 37 bilhões emitidos para financiar
investimentos verdes. A Climate Bonds Initiative, organização inglesa sem fins
lucrativos, estima que esse mercado tenha superado os US$ 100 bilhões ao final
de 2015. Aliás, os green bonds são uma ótima alternativa para projetos
de financiamento em países em desenvolvimento e mercados emergentes, como o
Brasil.
Na busca por uma economia verde, a indústria
financeira passou a levar em conta os riscos climáticos para tomar decisões
financeiras e incorporou a preocupação ambiental dentro dos modelos
tradicionais de análise de risco, adotando o conceito ESG (Environmental,
Social & Governance). É importante destacar que os investidores
institucionais precisam ter acesso completo aos dados climáticos, para
construir uma carteira diversificada de investimentos que antecipem as mudanças
econômicas impulsionadas pelas alterações climáticas.
Organizações como o CDP (Carbon Disclosure
Project) ajudam a trazer informações corporativas ambientais para o mercado. Em
nome de mais de 827 investidores institucionais que representam US$ 100
trilhões de ativos sob gestão, o CDP solicita para as maiores empresas
reportarem seus riscos financeiros associados com as mudanças climáticas, como
stress hídrico e riscos de desmatamento na cadeia de valores aos seus stakeholders.
O objetivo é que os investidores possam avaliar o seu risco relacionados às
alterações ambientais na sua carteira, uma vez que eles precisam ser informados
sobre o impacto que as transformações no meio ambiente podem ter nas suas
empresas investidas. Isso inclui riscos físicos, novos riscos regulatórios e
riscos relacionados à reputação.
Para ajudar o acordo de Paris ter sucesso,
devemos nos voltar para os princípios fundamentais da medida, a transparência e
a prestação de contas. A supervisão da divulgação das emissões de gases de
efeito estufa e a transparência dos relatórios é um motor fundamental de
investimento em energia limpa e inovação tecnológica. É também uma
responsabilidade fiduciária, conforme destacado pelo anúncio da nova Força-Tarefa
do Conselho de Estabilidade Financeira Sobre Divulgações Financeiras
Relacionadas com o Clima (TCFD) com a qual o CDP contribuirá com sua
experiência. Com seu sistema de divulgação ambiental global que permite as
empresas, cidades e regiões serem transparentes e responsáveis, o CDP está no
centro dessa transição para um mundo novo de baixo carbono.
*Nina Braun é
gerente de relacionamento do CDP no Brasil. É responsável por interagir com as
empresas participantes dos programas CDP Climate Change, CDP Water e CDP
Forests. Coordena a comunicação com os públicos de interesse e parceiros;
monitora o mercado e tendências do mercado financeiro ambiental. É graduada em
Gestão Global pela School of International Business (SIB), em Bremen, com
Mestrado em Sustentabilidade Econômica e Administrativa pela Universidade
Oldenburg, Alemanha.
Sobre o CDP
O CDP é uma organização internacional sem fins
lucrativos que provê um sistema global único para que as empresas e cidades
meçam, divulguem, gerenciem e compartilhem informações vitais sobre o meio
ambiente. O CDP trabalha com as forças do mercado, incluindo 767 investidores
institucionais, para motivar as companhias e as cidades a divulgarem seus
impactos no meio ambiente, assim como suas ações para reduzi-los. Atualmente, o
CDP possui o maior volume de informações sobre mudanças climáticas e água do
planeta e procura colocar estes insights na pauta das decisões estratégicas,
dos investidores e das decisões políticas.
Fonte: ENVOLVERDE
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