A mudança
climática e seus riscos.
Um dos objetivos do Pnuma, no contexto de uma
gestão integrada dos ecossistemas, é melhorar a capacidade dos profissionais e
desenvolver capacidades em toda a escala social com perspectiva de gênero.
Foto: Pnuma.
Até 2020, estima-se que entre 75 milhões e 250
milhões de pessoas na África poderiam sofrer estresse hídrico devido à mudança
climática.
Por Baher Kamal, da IPS –
Cairo, Egito, 25/4/2016 – “As consequências
negativas da mudança climática ameaçam o desenvolvimento e a própria existência
dos seres humanos na África. A população, os ecossistemas e sua biodiversidade
única serão grandes vítimas” do fenômeno, destaca o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (Pnuma). Chega a esse ponto a preocupação do Pnuma neste
continente com 54 países e população de aproximadamente 1,2 bilhão de
habitantes.
“Nenhum continente sofrerá um golpe tão severo em
razão da mudança climática como a África”, afirma o Pnuma, com sede em Nairóbi,
no Quênia. Outras organizações internacionais são igualmente contundentes a
esse respeito. Por exemplo, com base na análise do Grupo Intergovernamental de
Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC), o Banco Mundial confirmou que a
África será a região mais vulnerável do mundo aos efeitos negativos do
aquecimento global.
Na África subsaariana, os eventos climáticos
extremos farão com que as áreas secas sejam mais secas e as úmidas mais úmidas,
a agricultura sofrerá a perda de cultivos e as enfermidades se espalharão para
maiores altitudes, afirmam especialistas do Banco Mundial. Também alertam que,
até 2030, cerca de 90 milhões de pessoas mais poderão ficar expostas à malária,
“o maior assassino na África subsaariana”.
Essas e outras terríveis conclusões não são novas
para os especialistas do Banco Mundial. De fato, há cinco anos, alertaram que a
temperatura média nesse continente subiu meio grau Celsius no último século, e
que a temperatura anual média, provavelmente, aumentará entre 1,5 e quatro
graus até 2099, segundo os últimos dados do IPCC.
Na Etiópia, os pastores vendem seus animais para
terem menos. As consequências do El Niño os obrigam a ter rebanhos menores.
Foto: FAO
.
Especialistas do Pnuma explicaram que, por sua
posição geográfica,o continente africano é particularmente vulnerável devido à
“consideravelmente limitada capacidade de adaptação, exacerbada pela pobreza
generalizada e falta de desenvolvimento”.
Alguns dos fatos que constam da ficha descritiva Mudança
Climática na África, O Que Está Em Jogo?, elaborada pelo Pnuma graças à
colaboração do IPCC são surpreendentes:
– até 2020, estima-se que entre 75 milhões e 250
milhões de pessoas na África poderiam sofrer estresse hídrico devido à mudança
climática;
– até 2020, a produção agrícola que depende das
chuvas poderia diminuir em 50% em alguns países;
– a produção agrícola, que inclui o acesso aos
alimentos em muitos países africanos, poderia ser severamente comprometida, o
que agravaria a insegurança alimentar e exacerbaria a má nutrição;
– até o final do século 21, o aumento do nível do
mar poderia prejudicar áreas costeiras baixas com grandes assentamentos
humanos;
– até 2080, poderiam aumentar entre 5% e 8% as
terras áridas e semiáridas na África, segundo diversos cenários climáticos;
– o custo das medidas de adaptação poderia ficar
entre 5% e 10% do produto interno bruto (PIB).
Em Moçambique, o investimento ambiental gera benefícios para os mais pobres. As
comunidades locais se esforçam para proteger seus ecossistemas e preservar sua
renda, após uma enfermidade que devastou as plantações de coco. Foto: Pnuma.
O capítulo africano do informe do IPCC sobre
projeções climáticas para a região confirma esses dados e oferece alguns outros
destaques importantes.
Temperatura:até 2050, o aumento da temperatura na África poderá
ser, em média, de 1,5 a três graus Celsius, uma tendência que continuaria após
essa data. Em todo o continente, o aquecimento muito provavelmente será maior
que a média global anual e todas as estações apresentarão regiões subtropicais
mais secas do que os trópicosúmidos.
Ecossistemas:estima-se que, até 2080, a proporção de terras
áridas e semiáridas na África aumentará entre 5% e 8%. Os ecossistemas são
fundamentais porque contribuem significativamente para a biodiversidade e o
bem-estar dos seres humanos.Entre 25% e 40% das espécies de mamíferos dos
parques nacionais da África subsaariana estarão em perigo. As evidências
mostram que o clima modifica os ecossistemas naturais de montanha por meio de
complexas interações e respostas.
Precipitações:também haverá grandes variações nas tendências
anuais e estacionais das chuvas, bem como eventos extremos de inundações e
seca.As precipitações anuais provavelmente diminuirão em grande parte da costa
africana que margeia o Mediterrâneo e no norte do Saara, com grandes possibilidades
de diminuírem as chuvas na medida em que se aproxima do mar.
Um agricultor de subsistência do Zimbábue mostra um
milho deformado que cresceu em seu campo nos arredores de Harare. Foto: FAO.
Secas:até 2080 projeta-se um aumento de 5% a 8% das
terras áridas e semiáridas, segundo vários cenários climáticos. As secas se
tornaram mais comuns, especialmente nos trópicos e nas zonas subtropicais desde
a década de 1970.A saúde humana, já comprometida por numerosos fatores, poderá
se agravar devido à mudança e à variabilidade climáticas, especialmente a
malária na África austral e nas terras altas da África oriental.
Água: até 2020, entre 75 milhões e 250 milhões de
pessoas poderão sofrer maior estresse hídrico pelo aquecimento global e, até
2050, seriam entre 350 milhões e 600 milhões. A variabilidade e a mudança
climáticas exercerão uma pressão adicional sobre a disponibilidade, as
possibilidades de acesso e a demanda de água na África.
Agricultura: até 2020, a produção dos cultivos dependentes da
chuva poderá diminuir em até 50% em alguns países.A produção agrícola, que
inclui o acesso aos alimentos em muitos países africanos, poderá estar
severamente comprometida. Isso prejudicará mais a segurança alimentar e
exacerbará a má nutrição. A renda do setor poderá cair em 90% até 2100, sendo
os pequenos produtores os mais prejudicados.
Aumento do nível do mar: a África tem cerca de 320 cidades
com mais de dez mil habitantes e aproximadamente 56 milhões de pessoas, segundo
estimativas de 2005, em zonas costeiras baixas, a menos de dez metros de
altitude. Até o final deste século, a elevação do nível do mar poderá afetar as
zonas costeiras baixas com grandes assentamentos humanos.
Energia: o acesso à energia é severamente limitado na África
subsaariana, com cerca de 51% da população urbana e 8% da rural conectada à
rede elétrica.A extrema pobreza e a falta de acesso a outros tipos de
combustíveis faz com que 80% da população africana recorra à biomassa para
cobrir suas necessidades domésticas. Essa fonte representa 80% da energia
consumida na África subsaariana. Outros problemas como a urbanização, o aumento
da demanda por energia e a volatilidade dos preços do petróleo agravam a
situação energética na África.
Outra preocupação da Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO) é a ameaça que o aquecimento global
representa para a produção agrícola. “A mudança climática surge como uma das
grandes ameaças ao desenvolvimento agrícola na África”, destaca. E acrescenta
que a cada vez mais imprevisível e irregular natureza dos sistemas climáticos
no continente constituem uma carga adicional para a segurança alimentar e o
sustento rural.
“A previsão é que a agricultura sofrerá uma parte
significativa do dano causado pela mudança climática”, ressalta FAO. O setor
sofrerá períodos prolongados de secas e/ou inundações durante o fenômeno El
Niño/La Niña. A pesca será particularmente prejudicada pelas mudanças na
temperatura do mar, o que reduzirá a produtividade entre 50% e 60%.
*Este artigo faz parte de uma série elaborada pela
IPS sobre o Acordo de Paris sobre a mudança climática, por ocasião de sua
assinatura, no dia 22, em cerimônia de alto nível na sede da ONU, em Nova York.
Fonte: ENVOLVERDE
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