Oriente
Médio pode se tornar inabitável.
Mapa do Oriente Médio com a classificação de
Köppen, de 20 de fevereiro de 2016, modificado e vetorizado por Ali Zifan.
Foto: CreativeCommons.
A possibilidade de o Oriente Médio se tornar
inabitável não é uma ideia sensacionalista, mas a dramática conclusão a que
chegaram várias pesquisas sobre as consequências da mudança climática na
região, especialmente no Golfo.
Por BaherKamal, da IPS –
Cairo, Egito, 19/4/2016 – “Neste século, partes do
Golfo Pérsico poderão sofrer o impacto de eventos sem precedentes, como ondas
de calor, derivados da mudança climática, segundo um estudo de modelos
climáticos de alta resolução”, afirma uma pesquisa do Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT).
O estudo PersianGulfCould Experience DeadlyHeat
(O Golfo Pérsico Poderá Experimentar Uma Mortal Onda de Calor) detalha um
contexto habitual de emissões de gases-estufa, acrescentando que reduzi-las
poderia evitar as “mortais temperaturas extremas”.Orelatório foi publicado na
revista Nature antes da 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção
Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), realizada em Paris
no final de 2015.
ElfatihEltahir, professor de engenharia civil e
ambiental do MIT, e por Jeremy Pal, doutor da Universidade Loyola
Marymount,autores do estudo, concluíram que, além da baixa profundidade da água
e da intensidade solar, as condições climáticas do Golfo “fazem com que, diante
da falta de medidas significativas de mitigação, a mudança climática provavelmente
tenha impacto no futuro espaço que tenha condições de habitação propícias para
os humanos”.
Utilizando versões de modelos climáticos
padronizados de alta resolução, Eltahir e Pal concluíram que muitas das grandes
cidades da região poderiam superar o ponto de inflexão da sobrevivência humana,
mesmo em áreas de sombra e com boa ventilação. Eltahir destacou que esse
limite,“até onde sabemos, nunca foi registrado em nenhum lugar da Terra”.
O MIT, fundado em 1861 para promover o conhecimento
e formar os estudantes em ciências, tecnologia e outras áreas para contribuir
melhor com seu país e o mundo no século 21, alerta que “a detalhada simulação
climática mostra que seria possível superar um limite de sobrevivência caso não
sejam adotadas medidas de mitigação”.
A pesquisa, que teve apoio da Fundação para o
Progresso da Ciência do Kuwait, revela que o ponto de inflexão inclui uma
medição tomada com um “termômetro de bulbo úmido”, que combina temperatura e
umidade, o que permite refletir as condições que o corpo humano pode manter sem
necessidade de refrigeração artificial. O limite para a sobrevivência humana
por mais de seis horas sem proteção é de 35 graus Celsius, de acordo com a
última pesquisa publicada sobre este tema.
O perigo grave para a saúde humana e a própria vida
aparece quando essa temperatura se mantém por várias horas, ressaltouEltahir,
algo que, segundo o modelo, ocorrerá várias vezes nos últimos 30 anos deste
século, se não for mudado o contexto atual, utilizado como parâmetro pelo Grupo
Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC). A última
avaliação deste grupo alerta sobre a probabilidade de o clima se tornar mais
quente e mais seco na maior parte do Oriente Médio e norte da África.
“As temperaturas mais elevadas e as menores
precipitações aumentarão a ocorrência de secas, uma situação que já se
materializa na região do Magreb”, diz o Banco Mundial, retomando a avaliação do
IPCC. “Estima-se que outros 80 a cem milhões de pessoas sofrerão estresse
hídrico em 2025, o que provavelmente será a causa de maior pressão sobre a água
subterrânea, cuja extração atual supera a carga potencial dos aquíferos na
maioria das áreas”, acrescenta.
Também se prevê que os cultivos agrícolas,
especialmente nas áreas chuvosas, experimentarão maior flutuação, que
finalmente os reduzirá a uma média significativamente inferior no longo prazo.
“Nas cidades do norte da África, um aumento de
temperatura entre um e três graus poderia expor a inundações costeiras de seis
milhões a 25 milhões de pessoas”, afirma o Banco Mundial. “Além disso, as ondas
de calor, a deterioração da qualidade da água e a formação de ozônio no solo
provavelmente atentarão contra a saúde pública e, em geral, criarão condições
de vida mais difíceis”, indicou.
O informe do Banco Mundial AdaptationtoClimateChange
in theMiddleEastand North AfricaRegion (Adaptação à Mudança Climática no
Oriente Médio e Norte daÁfrica) alerta que essa região é particularmente
vulnerável à mudança climática. “É uma das regiões mais secas e com maior escassez
de água, com grande dependência de uma agricultura vulnerável ao clima, e
grande parte de sua população e de sua atividade econômica em áreas urbanas
costeiras e propensas a inundações”.
Além disso, as sociedades dessa região sofrem a
pressão de se adaptarem à escassez de água e ao calor há milhares de anos, e
desenvolveram várias soluções técnicas e mecanismos institucionais para
enfrentar as limitações ambientais.
Os modelos globais prognosticam que o nível do mar
aumentará de 0,1 metro para 0,3 metro até 2050, e de 0,1 a 0,9 metro até 2100,
afirma o Banco Mundial.Nessa região, o prognóstico é que as consequências
sociais, econômicas e ecológicas serão relativamente maiores em comparação com
o resto do mundo. O risco é particularmente maior nas áreas costeiras baixas de
Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Líbia, Catar, Tunísia e, em especial, o Egito.
A mudança climática também implica muitos desafios
para as cidades da região, que são centros de atividades sociais, culturais e
políticas. O aumento do nível do mar poderá afetar 43 cidades portuárias, 24 no
Oriente Médio e 19 no norte da África, segundo o Banco Mundial.“No caso da
cidade egípcia de Alexandria, um aumento do nível do mar de 0,5 metro
deslocaria mais de dois milhões de pessoas e as perdas em terras, propriedades
e infraestrutura chegariam a cerca de US$ 35 bilhões, além das incalculáveis
perdas do patrimônio histórico e cultural”, acrescenta.
*Este é o primeiro de dois artigos sobre o impacto
da mudança climática no Oriente Médio e norte da África antes da assinatura do
Acordo de Paris, no dia 22 em Nova York.
Fonte: ENVOLVERDE
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