Descaso
com saneamento deixa rios em alerta.
Todo esse descaso decorrente da falta da saneamento
se reverte em contaminação e em graves doenças de veiculação hídrica. Foto:
Shutterstock.
Dados do monitoramento da qualidade da água
em 183 rios, córregos e lagos de 11 Estados brasileiros e do Distrito
Federal revelaram que 36,3% dos pontos de coleta analisados apresentam
qualidade ruim ou péssima.
Por Mario Mantovani e Malu Ribeiro*
A crise hídrica transformou a paisagem urbana em
muitas cidades paulistas. Casas passaram a contar com cisternas e caixas da
água azuis se multiplicaram por telhados, lajes e até em garagens. Em regiões
mais nobres, jardins e portarias de prédios ganharam placas que alertam sobre a
utilização de “água de reuso”. As pessoas mudaram comportamento, economizaram e
cobraram soluções. As discussões sobre a gestão da água, nos mais diversos
aspectos, saíram dos setores tradicionais e técnicos e ganharam espaço no
cotidiano. Porém, vieram as chuvas, as enchentes e os rios urbanos voltaram a
ficar tomados por lixo, mascarando, de certa forma, o enorme volume de esgoto
que muitos desses corpos d’água recebem diariamente.
É como se não precisássemos de cada gota de água
desses rios urbanos e que a água limpa que consumimos em nossas casas, como em
um passe de mágica, voltasse a existir em tamanha abundância, nos
proporcionando o luxo de continuar a poluir centenas de córregos e milhares de
riachos nas nossas cidades. Para completar, todo esse descaso decorrente da
falta da saneamento se reverte em contaminação e em graves doenças de
veiculação hídrica.
Dados do monitoramento da qualidade da água que realizamos em 183 rios,
córregos e lagos de 11 Estados brasileiros e do Distrito Federal revelaram que
36,3% dos pontos de coleta analisados apresentam qualidade ruim ou péssima.
Apenas 13 pontos foram avaliados com qualidade de água boa (4,5%) e outros
59,2% estão em situação regular, o que significa um estado de alerta. Nenhum
dos pontos analisados foi avaliado como ótimo. Divulgamos esse grave retrato no
Dia Mundial da Água (22/3), com base nas análises realizadas entre março de
2015 e fevereiro de 2016, em 289 pontos de coleta, distribuídos em 76
municípios.
No Estado de São Paulo, de um total de 212 pontos
de coleta analisados em 124 rios, 41,5% estão sem condições de usos múltiplos –
abastecimento humano, lazer, pesca, produção de alimentos e manutenção
ecossistêmica, entre outros – por apresentarem qualidade de água ruim ou
péssima. Apenas 6,1% tem qualidade de água boa e 52,4% tem índices regulares.
A cidade de São Paulo perdeu dois pontos que, até
2015, apresentavam qualidade de água boa, localizados em áreas de manancial no
Parque dos Búfalos (Represa Billings) e em Parelheiros (Represas Billings/Guarapiranga)
e, infelizmente, a queda nos indicadores está relacionada à pressão por novas
ocupações e mudanças nos usos do solo nas áreas de mananciais.
Esta realidade evidencia a urgente necessidade de
uma ação forte e integrada dos Governo do Estado, em conjunto com os municípios
e organizações civis da bacia hidrográfica, sobretudo se São Paulo realmente
estiver comprometido com a meta de universalizar o saneamento básico até
2020, como anunciado.
Porém, para que essa meta não se perca como ocorreu
com o Plano Nacional de Saneamento Básico, que postergou para 2033 a tão
almejada universalização do saneamento no país, outra iniciativa essencial é
que o Governo de São Paulo indique, por meio de decreto ou resolução, a exemplo
do que fez o Governo do Estado do Paraná no ano passado, que os Comitês de
Bacias Hidrográficas não enquadrem rios em classe 4.
Ao recomendar o reenquadramento dos corpos d’água
em classes 1, 2 e 3, extinguindo a classe 4, o Governo de São Paulo estará
consolidando as ações de saneamento em políticas públicas voltadas a ampliar os
usos múltiplos da água e a capacidade de resiliência dos municípios paulistas,
com metas efetivas de planejamento estratégico voltadas a não permitir mais
rios “mortos” no Estado. A classificação do corpo d´água não pode espelhar a
condição ambiental e de qualidade em que o rio está e sim o rio que almejamos
no futuro. Queremos o Tietê e os rios paulistas vivos.
Por isto, a SOS Mata Atlântica abriu recentemente,
com o apoio de diversos parceiros, a campanha “Saneamento Já!”. Todos podem participar assinando
a petição pela internet, divulgando em suas redes
sociais ou organizando ainda ações presenciais para coleta de assinaturas.
Vamos valorizar cada gota de água limpa, diariamente.
* Mario Mantovani e Malu Ribeiro são,
respectivamente, diretor de Políticas Públicas e coordenadora da Rede das Águas
da Fundação SOS Mata Atlântica, ONG brasileira que desenvolve projetos e
campanhas em defesa das Florestas, do Mar e da qualidade de vida nas Cidades.
Fonte: SOS Mata Atlântica
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