El Niño
ameaça saúde dos corais da costa brasileira.
Branqueamento no Recife de Fora – abril 2016 – Taquarucu. Foto: Projeto Coral
Vivo.
Projeto Coral Vivo participa de iniciativas de
monitoramento e NOAA prevê temperatura de 0,5ºC acima da média histórica no mar
do Sul da Bahia.
Por Redação da Envolverde –
O aquecimento anormal da temperatura do oceano
causado pelo El Niño já começa a interferir na saúde dos corais do Brasil.
Cálculos do NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, na sigla em inglês),
órgão do governo americano, preveem temperatura de 0,5ºC acima da média
histórica no Sul da Bahia até junho. “Para avaliar o impacto no Parque
Natural Municipal do Recife de Fora (BA), estamos realizando dois
monitoramentos simultâneos para interpretar os dados de maneira conjunta”, explica
o biólogo Emiliano Calderon, coordenador de Pesquisas do Projeto Coral Vivo,
que é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
A Rede de Pesquisas Coral Vivo realiza desde
dezembro estudos científicos em três pontos do Recife de Fora para conhecer a
resposta fisiológica das espécies, com a participação de diferentes institutos
e universidades públicas. Ao mesmo tempo, outra equipe do Coral Vivo contribui
com a coleta de dados para o Programa Reef Check Brasil, que é um protocolo
internacional, aperfeiçoado para as condições dos recifes brasileiros,
realizado anualmente para monitorar a saúde dos recifes de coral.
Colônias branqueadas no Recife de Fora
Os pesquisadores da Rede de Pesquisas Coral Vivo
tem mergulhado quinzenalmente em três pontos do Recife de Fora: Funil, Mourão e
Taquaruçu. No estudo de campo realizado na segunda quinzena de abril, o ponto
Taquaruçu era o mais afetado com grandes colônias de corais completamente
branqueadas, como os corais-de-fogo Millepora alcicornis e Millepora
nitida e o coral Mussismilia harttii. “Algumas colônias do coral Mussismilia
hispida também estão completamente brancas, e as demais, no geral, ainda
apresentam coloração normal”, avalia Calderon.
“Além de verificar se as colônias de coral estão
com branqueamento, estamos coletando amostras para análises de microbiologia e
de biomarcadores enzimáticos”, explica o pesquisador Emiliano Calderon. Para
completar, a cada 15 minutos equipamentos instalados no mar medem e registram a
temperatura da água e guardam na memória eletrônica. Simultaneamente, na base
de pesquisas, um equipamento mede a incidência da luz solar. Calderon explica
que ambos parâmetros, o aumento da temperatura e a forte luz solar, estão
relacionados à ocorrência do fenômeno de branqueamento. O encerramento desses
estudos está previsto para maio ou até final do El Niño, quando os dados serão
baixados e analisados.
Será verificado também se o branqueamento teve
alguma interferência de poluentes como cobre e carbono, por exemplo, que podem
potencializar o fenômeno. “O branqueamento ocorre por um somatório de
fatores. Medindo esses parâmetros podemos ter mais certeza sobre o que
desencadeou o problema em cada ponto”, explica Calderon.
No Brasil, as colônias costumam ter um índice de
branqueamento menor do que no Pacífico, que tem águas mais claras. Em alguns
eventos anteriores menos de 20% dos corais de alguns locais da costa brasileira
foram acometidos enquanto no Caribe ou na Austrália chegam a mais de 80% de
colônias com branqueamento. Alguns estudos apontam que, como os recifes de
coral do Brasil ficam em águas mais turvas, esse ambiente mais escuro poderia
funcionar como um filtro solar, sendo uma das explicações de por que os corais que
ocorrem no Brasil são menos afetados pelo estresse causado pelo El Niño.
Dados do NOAA indicam área crítica no Sul de
Abrolhos
As previsões dos mapas recentes gerados pelo NOAA
indicam que a região ao Sul do Banco dos Abrolhos é a que mais pode sofrer com
branqueamento. “Caso a pluma do Rio Doce atinja essa região neste período de
El Niño, os corais já fragilizados pelo aquecimento terão mais dificuldades
para se recuperar e podem não resistir”, avalia o geólogo José Carlos
Seoane, membro da Rede de Pesquisas Coral Vivo e professor do Instituto de
Geociências da UFRJ. “A previsão de branqueamento, que gera o alerta, é
feita a partir da temperatura da superfície da água do mar, comparada à média
da temperatura esperada para cada dia do ano, chamada de “climatologia”. Leva
também em conta quantos dias a temperatura está acima do normal, e se a água
está circulando ou parada (pela medição dos ventos)”, informa Seoane. Ele
explica que todos os locais na costa brasileira com boias virtuais do NOAA
estão amarelos no sistema, e isso significa estado de monitoramento. A previsão
é que até junho, com até 90% de certeza, a temperatura fique 0,5ºC acima da
média histórica para a data na Costa dos Corais, no Recife de Fora, em Abrolhos
e em Búzios.
Reef Check no Recife de Fora (BA)
Desde 2005, cinco pontos do Recife de Fora são
monitorados pelo Programa de Monitoramento dos Recifes de Coral do Brasil, e o
Projeto Coral Vivo sempre contribui, assim como ocorreu em abril deste ano.
Mais conhecido como Reef Check Brasil, ele é o maior programa internacional de
monitoramento de recifes de coral envolvendo mergulhadores recreacionais e
cientistas marinhos. O líder da campanha no Recife de Fora é o coordenador
regional do Reef Check na Bahia e Secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de
Caravelas (BA), Fábio Negrão. Em pranchetas, os participantes fazem anotações
sobre a saúde dos recifes de coral e os dados são tabulados e monitorados
anualmente. Das espécies de corais que ocorrem nos recifes rasos brasileiros,
dez foram encontradas com branqueamento nos cinco pontos do Reef Check no
Recife de Fora em 2016:Agaricia agaricites, Millepora alcicornis, Millepora
nitida, Montastraea cavernosa, Mussismilia braziliensis, Mussismilia harttii,
Mussismilia hispida, Porites astreoides, Porites branneri, Siderastrea
stellata. O Reef Check é realizado pelo ICMBio/MMA, com a coordenação
técnica do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco,
e conta com uma série de parceiros.
Branqueamento de corais
O branqueamento acontece quando as microalgas
simbiontes – chamadas de zooxantelas e que dão cor ao tecido quase transparente
do coral – são expulsas por conta de estresses como aquecimento, acidificação
da água ou poluição. Assim, o esqueleto calcário fica visível atrás do tecido
quase transparente. “Quanto mais intenso e duradouro for o evento
estressante, maior é a chance da colônia de coral adoecer e morrer”,
explica o coordenador geral do Projeto Coral Vivo e professor do Museu
Nacional/UFRJ, o biólogo marinho Clovis Castro.
Sobre o Projeto Coral Vivo
O Projeto Coral Vivo é patrocinado pela Petrobras
por meio do Programa Petrobras Socioambiental e trabalha com pesquisa,
educação, comunicação e políticas públicas para a conservação e o uso
sustentável dos ambientes recifais do Brasil. Ele faz parte da Rede Biomar,
junto com os projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Tamar. Todos
patrocinados pela Petrobras, eles atuam de forma complementar na conservação da
biodiversidade marinha do Brasil, trabalhando nas áreas de proteção e pesquisa
das espécies e dos habitats relacionados. As ações do Coral Vivo são
viabilizadas também pelo copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque, e
realizadas pela Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN) e pelo Instituto
Coral Vivo (ICV).
Mais informações na página www.fb.com/CoralVivo e no site www.coralvivo.org.br.
Fonte: ENVOLVERDE
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