Velho
Chico na vida real.
Trecho do rio São Francisco entre os municípios de
Ponto Chique e Pirapora. Foto: https://pt.wikipedia.org.
O fato de o rio São Francisco ter se tornado
cenário e protagonista de uma novela do horário nobre da TV pode ser um importante
reforço para resgatar o papel dos rios no cotidiano das pessoas.
Por Marcia Hirota*
Na cidade de Penedo, em Alagoas, uma das últimas
cortadas pelo rio São Francisco a caminho do mar, um grupo de voluntários do
projeto Observando os Rios, da Fundação SOS Mata Atlântica, monitora a
qualidade desse que é um dos maiores e mais importantes rios brasileiros. A
formação do grupo é recente, de novembro de 2015, e aconteceu por iniciativa de
alunos e professores da Universidade Federal de Alagoas. Até agora, duas
análises foram realizadas no local, sendo que ambas indicaram que a qualidade
da água ali é regular devido ao estado de conservação do rio e pontos de
poluição.
A análise de um único local não é suficiente para
espelhar a situação em que se encontra o grandioso “Velho Chico”, que nasce no
Parque Nacional da Serra da Canastra e passa por três biomas – Cerrado,
Caatinga e Mata Atlântica – e 521 municípios dos Estados de Minas Gerais,
Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Entretanto, são indicadores bastante
simbólicos sobre a qualidade das águas dos rios brasileiros e reforçam a
necessidade urgente de investimentos em saneamento ambiental e, sobretudo, da
tão esperada revitalização do São Francisco que, infelizmente, ainda não saiu
do papel.
Hoje, apesar de o rio não ter mais a mesma
quantidade e variedade de peixes de antes e de apresentar continuado processo
de degradação por conta das grandes transformações e agressões ao longo dos
anos, ele se mantém vivo na cultura das pessoas que habitam sua bacia. Mas para
que permaneça presente e saudável no cotidiano dessas pessoas, seja na
gastronomia, nas lendas, na pesca ou no desenvolvimento sustentável das regiões
que beneficia, é preciso executar as ações de revitalização que deveriam ter
começado com as obras de transposição e que incluem o reflorestamento de mata
ciliar e investimentos em saneamento básico.
A falta de saneamento é um problema que afeta
milhões de brasileiros diariamente, já que a universalização desse serviço
fundamental para a proteção da saúde das pessoas e do meio ambiente não é
realidade para uma grande parcela da população.
Para mobilizar as pessoas para a causa, a SOS Mata
Atlântica lançou junto com diversos parceiros a petição “Saneamento Já!”, pois essa
é uma realidade que só será transformada com a ação conjunta de toda a
sociedade, que deve se apropriar do tema para exigir do poder público o
comprometimento na execução transparente e eficiente das medidas necessárias.
O fato de o rio São Francisco ter se tornado
cenário e protagonista de uma novela do horário nobre da TV, um meio de
comunicação responsável por influenciar culturas e moldar hábitos no nosso
país, pode ser um importante reforço para resgatar o papel dos rios no
cotidiano das pessoas. Ao se envolverem com a história do “Velho Chico” no
mundo da ficção, as pessoas poderão se aproximar da realidade do rio. E que assim
se abra uma janela para que olhem também para os rios das suas cidades e
àqueles próximos das suas casas, compreendendo a importância do cuidado com
nossas águas e a conservação da natureza para a qualidade de vida de todos.
* Marcia Hirota é diretora-executiva da
Fundação SOS Mata Atlântica, ONG brasileira que desenvolve projetos e campanhas
em defesa das Florestas, do Mar e da qualidade de vida nas Cidades. Saiba como
apoiar as ações da Fundação em www.sosma.org.br/apoie.
Fonte: SOS Mata Atlântica
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