“O
ambientalismo é uma agenda vencedora.”
Roberto Waack acredita que o ambientalismo precisa
rever suas práticas. Foto: © Divulgação.
Roberto Waack, atual presidente do Conselho Diretor
do WWF-Brasil acredita que o ambientalismo precisa rever suas práticas,
dialogar mais e, sobretudo, apontar como fazer a transição para um mundo com
baixas emissões de carbono.
Por Jaime Gesisky, do WWF Brasil –
Ao completar 20 anos em 2016, o WWF-Brasil busca se
reposicionar diante de um cenário em plena transformação. Os sinais dessa
mudança vêm de todos os setores da sociedade. E eles apontam para profundas
transformações, sejam elas tecnológicas, nos modelos de negócios, no papel das
ONGs ambientalistas. Antenado com essas sinalizações, o atual presidente do
Conselho Diretor da organização mais conhecida pela marca do Panda, Roberto
Waack acredita que o ambientalismo precisa rever suas práticas, dialogar mais
e, sobretudo, apontar como fazer a transição para um mundo com baixas emissões
de carbono. Apesar dos desafios, ele aposta no ambientalismo como uma “agenda
vencedora”. Waack tem formação ampla. Vai das artes à biotecnologia. É biólogo,
empresário do setor florestal e um dos criadores da Coalizão Brasil Clima,
Florestas e Agricultura – que agrega associações, empresas, sociedade civil e
indivíduos. Nesta entrevista, ele indica como o WWF-Brasil se enxerga nesse
contexto de rápidas mudanças e quais são as oportunidades para seguir à frente
da nova onda global.
Que sinais são estes de que o senhor está falando?
O mundo está mudando. E rápido. A importância dos
recursos naturais e o equilíbrio social são parte da expectativa da sociedade
contemporânea. Um acidente ambiental como o de Mariana, com seus impactos e
repercussão, o caso da Volkswagen que, devido a uma fraude no dispositivo de
emissões de poluentes perdeu metade do seu valor de mercado, e o acordo de
clima obtido em Paris são algumas dessas sinalizações. Há outras, mais próximas
de nós. Vemos diariamente no Facebook movimentos se aglutinando em torno de
formas mais compartilhadas de existir. Nas ruas, os ciclistas apontam para
isso, ao buscar um jeito novo de se relacionar com a cidade, como os bike
angels. No mundo institucional, esses valores ambientais e sociais estão cada
vez mais presentes. No consumo também. As pessoas querem saber de onde vêm os
produtos que compram, qual sua pegada ecológica. É preciso interpretar esses
sinais.
E onde entra o WWF-Brasil nisso?
A nova atitude da sociedade só é possível hoje
porque diversas organizações ambientalistas trabalharam para essa
conscientização nas últimas décadas. E o WWF foi uma delas, junto com o
Greenpeace e tantas outras, em escala global. No Brasil também temos tido uma
posição de destaque.
Neste sentido, o movimento ambientalista pode se
considerar vencedor. A agenda ambiental vai prevalecer, apesar das perdas que
sofremos. Isso nos faz olhar para frente e pensar qual o próximo passo.
E qual é?
É apontar como faremos a transição para a sociedade
de baixo carbono. O papel das organizações ambientalistas mudou. O
ambientalismo “as usual” não cabe mais. O WWF-Brasil passa a se pautar a partir
de agora à luz do que a sociedade está indicando, ou seja, de modo mais
interconectado.
Seguiremos mais abertos ao relacionamento com outros atores da
sociedade. O setor ligado ao uso da terra, os governos, as organizações com
interesses afins, os doadores. Temos de nos conectar, pois ninguém conseguirá
fazer essa transição sozinho.
No caso do Brasil, o senhor acha que ainda há
resistências a serem vencidas, setores menos atentos a essa tendência?
Até os setores mais conservadores já entenderam que
há boas oportunidades na mudança que vem aí. Ninguém vai conseguir dizer que é
contra uma economia de baixas emissões, como alguns chegavam a dizer, no
passado, que eram contra a globalização. Hoje vemos o tamanho desse absurdo.
Ainda há muita polarização na sociedade na hora de
debater os temas ambientais?
Não gosto de dividir o mundo em lados distintos,
mas vamos lá. Mesmo entre os que estão nesse outro campo, digamos, há
importantes lideranças extremamente atentas às questões de competitividade.
Isso vale para o biocomércio, o setor financeiro, os governos. No caso do
agronegócio, há uma enorme oportunidade de trabalhar de modo integrado ao
capital natural, à produção de baixo carbono. E se o mundo vai nessa direção,
como tudo indica, o Brasil é o país com maior vantagem comparativa. E isso deve
se transformar em vantagem competitiva. E mais uma vez, é na integração com a
sociedade civil, com as ONGs ambientalistas particularmente, que os demais
setores da sociedade vão encontrar meios de seguir o fluxo.
Por quê?
Porque são organizações como a nossa que detêm o
conhecimento sobre a interação mais adequada entre capital natural e
conservação. Boa parte do saber sobre as boas práticas nesse campo está com a
sociedade aberta. As universidades são fundamentais, mas é nas ONGs que está a
chave. E isso é oportunidade para nós também. Temos de seguir indicando como
fazer as coisas.
Por exemplo?
No caso do setor madeireiro, que eu conheço bem, há
uma enorme ilegalidade. A economia florestal pode ajudar o Brasil a sair da
crise, mas precisamos de uma economia com sólida base legal para poder expandir
e espalhar benefícios econômicos e sociais. Organizações como o WWF-Brasil têm
mostrar, de forma cirúrgica, quais os ajustes críticos que precisam ser feitos
para melhorar o sistema.
Por exemplo, é preciso garantir a origem legal da
documentação da madeira que circula por aí. Tem também a concessão das licenças
para o manejo das florestas, que hoje está na mão dos estados. Só que não há
transparência nestes dois casos. Então, aprimorar o monitoramento da madeira,
melhorar a medição da qualidade das operações florestais e a rastreabilidade
têm de ser uma pauta das organizações como a nossa. Temos uma experiência muito
proveitosa com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) na moratória
da soja, com ajuda das imagens dos satélites. Interagir com esses atores da
tecnologia, nos unirmos a outras ONGs, como Imazon, para monitorar o que está
acontecendo na floresta poderá induzir à legalidade no setor florestal. Não é
só pressionar os governos. Mas apontar saídas.
Quais são outros desafios urgentes para as ONGs
ambientalistas no Brasil?
O país tem uma meta assumida diante das demais
nações do mundo. Foi apresentada no âmbito da Convenção do Clima da ONU. São
nossas contribuições voluntárias para enfrentar as mudanças climáticas – INDC
–, que preveem, entre outras medidas, recuperar pelo menos 12 milhões de
hectares de florestas. A meta é ambiciosa, mas falta definir como isso vai
acontecer. De onde virão as mudas? Como implementar os plantios? Não basta
enterrar a árvore no mato e deixar lá. Conduzir essa agenda não é nada trivial.
Por outro lado, é uma oportunidade enorme para o Brasil no fornecimento de
fibras no instante em que o mundo usa cada vez mais árvores para substituir
plásticos, combustíveis, têxteis. Uma das maiores empresas do mundo tem dito
que o que se faz hoje com derivados de petróleo, poderemos obter de uma árvore
amanhã. Estamos falando essencialmente de fontes de carbono, de organização de
moléculas de carbono. E a oportunidade que vem dos novos biomateriais e
biocombustíveis vai se refletir na agenda da restauração. Isso não quer dizer
que toda floresta terá finalidade produtiva. Tem espaço para a regeneração
natural, para a conservação. E todo o conhecimento associado a isso está
ancorado em organizações como o WWF-Brasil. É uma onda em que devemos surfar.
Qual é a missão do WWF-Brasil agora?
Nossa tarefa agora é olhar para os eixos ligados a
florestas, alimentos, oceanos, vida selvagem, clima e energia e água doce. É
ver onde vamos focalizar nossa ação. É o que estamos fazendo neste momento. O
WWF é uma rede mundial, e cada país dará ênfase em algum destes aspectos.
Certamente as questões de uso do solo, água e floresta estarão no nosso radar
aqui no Brasil. O que não quer dizer, de maneira alguma, que vamos abrir mão
das outras agendas que julgamos importantes. Só temos que ver como e com quem
iremos continuar a tocar tais temas. Não dá para fazer tudo sozinho. A
diferença é que estamos passando por um processo decisório interno que requer
amadurecimento, desenhando uma estrutura mais eficiente, melhorando gestão em
nossos processos e definindo quem vai poder entregar conosco aquilo que nos
propomos a fazer. É o que os doadores querem de nós. É o que a sociedade espera
de nós. E esses sinais também já estão no ar.
Fonte: WWF Brasil
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