Proteger
áreas em risco ou fontes de renda?
Pescadores capturando barracudas, um peixe de
crescimento relativamente rápido. Foto: Mark Chipps/WWF.
Apenas 9% dos ecossistemas costeiros estão bem
protegidos. A maioria, na realidade, goza de um cuidado moderado, o que destaca
o fato de muitas áreas marinhas protegidas não estarem bem cuidadas em relação
aos efeitos da pesca.
Por Munyaradzi Makoni, da IPS –
Cidade do Cabo, África do Sul, 6/4/2016 – No ano
passado, quando as autoridades da África do Sul permitiram uma
experiência-piloto de pesca na área marinha protegida e mais antiga da África,
Tsitsikamma, houve grande indignação porque é a maior do mundo, com 80
quilômetros de uma rochosa faixa costeira e abundante variedade de espécies em
perigo. Além disso, atribui-se a essa área protegida a recuperação das
superexploradas reservas pesqueiras do país.
A Associação de Amigos de Tsitsikamma queixou-se de
que não foi consultada, como deveria. Os cientistas marinhos sentem que a
decisão do Departamento de Assuntos Ambientais “abrirá o coração” de uma área
protegida à exploração. Os pescadores artesanais ameaçarão a segurança dos
turistas se não tiverem direitos de pesca garantidos, com a finalidade de que
esse órgão destine cotas de pesca em algumas partes de Tsitsikamma.
Em novembro de 2015, a ministra de Assuntos
Ambientais, Edna Molewa, divulgou normas sobre as mudanças na Área Marinha
Protegida de Tsitsikamma, como a que levanta a proibição de pesca para quem
reside no raio de oito quilômetros do lugar. A decisão foi revogada em janeiro
deste ano pela justiça. Os protestos e a decisão judicial destacaram a
necessidade de realizar consultas adequadas sobre um assunto que frequentemente
é controvertido, como o é o equilíbrio.
Mas as duas partes buscam uma solução amigável.
Molewa publicou,no dia 9 de fevereiro no diário oficial, rascunhos de novas
normas para declarar uma rede de 22 novas áreas marinhas protegidas. As áreas
integram a Iniciativa Operação Phakisa, um programa lançado em outubro de 2014
para maximizar o enorme potencial econômico dos oceanos, e ao mesmo tempo
protegê-los. Ficou muito difícil conseguir um equilíbrio entre as necessidades
econômicas e sociais.
Molewa apontou que a iniciativa procura criar cerca
de 70 mil quilômetros quadrados de áreas marinhas protegidas, aumentando para
mais de 5% a superfície sob proteção dentro da Zona Econômica Exclusiva da
África do Sul. Menos de 0,5% dos ecossistemas oceânicos estão protegidos
formalmente, em comparação com os 8% em terra firme, como o Parque Nacional
Kruger e o Parque Nacional Montanha da Mesa, acrescentou.
Segundo a ministra, “a rede cobrirá todo o espectro
da biodiversidade, garantirá a obtenção de benefícios dos oceanos e oferecerá
importantes áreas de referência para compreender e administrar a mudança em
nossos oceanos”.As novas áreas protegidas assegurarão o cuidado de ecossistemas
marinhos como arrecifes, mangues e terras úmidas costeiras, que ajudam a
proteger as comunidades costeiras das tempestades mais fortes, do aumento do
nível do mar e de outros eventos climáticos extremos, destacou.
“Mar adentro, as áreas protegidas resguardarão
ecossistemas vulneráveis e garantirão zonas de criação para várias espécies,
contribuindo para manter a pesca e assegurando os benefícios de longo prazo,
que são importantes para a alimentação e a segurança trabalhista”, explicou
Molewa. As autoridades deram à população 90 dias para comentar a proposta de
áreas protegidas.
Um informe do Instituto Nacional de Biodiversidade
da África do Sul indica que 64 dos 136 ecossistemas marinhos e costeiros estão
ameaçados, ou cerca de 47%, e, além disso, 17% do total estão, de fato, em
grave perigo. Segundo o documento, 54 áreas, 40% do total, nem mesmo estão
representadas na rede de áreas protegidas. A maioria dos ecossistemas não
protegidos está mar adentro. Isto significa que quase todas as áreas protegidas
estão a pouca distância da costa.
Apenas 9% dos ecossistemas costeiros estão bem
protegidos. A maioria, na realidade, goza de um cuidado moderado, o que destaca
o fato de muitas áreas marinhas protegidas não estarem bem cuidadas em relação
aos efeitos da pesca.“Não há muita consciência sobre o papel que cumprem as
áreas marinhas protegidas na conservação da biodiversidade, na gestão da pesca,
na adaptação à mudança climática e na obtenção de benefícios socioeconômicos”,
destaca o informe.
A pesca é um motor de mudança crucial para os
ecossistemas marinhos e costeiros. “Os principais desafios são a
superexploração de recursos, a substancial captura acessória não administrada
em alguns setores, a acidental mortalidade de aves marinhas, o dano ambiental,
a preocupação pela oferta alimentar para outras espécies e o impacto da pesca
em outros ecossistemas”, acrescenta o documento. A pesca ilegal continua pondo
em risco a biodiversidade, a sustentabilidade dos recursos e o sustento dos
pescadores habilitados.
A diretora de programas ambientais do Fundo Mundial
para a Natureza da África do Sul, Theresa Frantz, aprova a criação de novas
áreas marinhas protegidas porque são uma ferramenta importante para conservar
as zonas de pesca. “Há uma razão para a proteção de cada área, pode ser que ali
os peixes sejam únicos ou que o fundo marinho tenha características únicas que
não são encontradas em outro lugar, por isso é necessário preservar a
biodiversidade”, explicou.
Ao mencionar o caso de Tsitsikamma, onde os
pescadores podem sofrer o impacto da nova norma, Frantz pontuou que o assunto
ficou delicado porque a área resultou ser útil para recuperar algumas reservas
pesqueiras da África do Sul. A especialista recordou que, quando se declarou
Tsitsikamma como área protegida,“não houve um processo de consulta prévio, e
sua publicação no Diário Oficial permitirá a proteção pública”.
A África do Sul consome 312 milhões de toneladas de
produtos marinhos por ano, informou Samantha Petersen, responsável pelos
programas de pesca do WWF desde seu início, em fevereiro de 2007. A indústria
pesqueira emprega centenas de pessoas, mas, na medida em que aumenta a
população, a capacidade dos oceanos não pode mudar para atender a demanda de
nossa sociedade, ressaltou Petersen à IPS. “Uma vez que desapareçam as espécies
especiais dos oceanos, não poderemos recriá-las”, enfatizou.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário