ONU quer
proteger os recursos marinhos.
Uma tartaruga nada em uma área protegida. Foto:
Ministério das Relações Exteriores e da Comunidade Britânica de Nações.
O novo tratado levará à criação de reservas
marinhas, o que permitirá proteger definitivamente significativas zonas com
valor ambiental.
Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 31/3/2016 – A Organização das Nações
Unidas (ONU) começou as primeiras negociações para a redação de um novo tratado
vinculante para a conservação e o uso sustentável dos recursos biológicos dos
oceanos, quase 64% dos quais estão fora de toda jurisdição nacional.
Elizabeth Wilson, diretora de política
internacional de oceanos da organização The Pew Charitable Trusts, disse à IPS
que as negociações versarão sobre quatro questões: recursos genéticos marinhos
(incluindo o compartilhamento dos benefícios), medidas como ferramentas de
gestão (incluindo áreas marinhas protegidas), avaliação de impacto ambiental e
construção de capacidade, e transferência de tecnologia marinha.
O comitê preparatório da ONU, criado pela
Assembleia Geral, iniciou sua primeira sessão no dia 28 deste mês, a qual
terminará no dia 8. É o começo do processo, explicou Wilson, que continuará com
mais reuniões em 2017. Em 2018, a Assembleia Geral decidirá a organização de
uma conferência intergovernamental para concretizar o tratado. Dessa forma, se
iniciará um processo que levará vários anos e permitirá estabelecer novas
formas significativas de proteger as águas internacionais.
“Essa série de reuniões pode derivar na criação de
algumas novas disposições significativas para proteger os oceanos em uma
geração. Os países têm a possibilidade de se unirem para cobrir os vazios em
matéria de gestão de alto mar e demonstrar seu compromisso com a conservação
marinha além das fronteiras”, afirmou Wilson.
O embaixador Palitha Kohona, um dos presidentes do
comitê especial da ONU sobre Diversidade Biológica para além da Jurisdição
Nacional, explicou à IPS que é necessário o comitê preparatório para fazer
recomendações sobre um instrumento de implantação no contexto da Convenção
sobre o Direito do Mar. Além disso, se prevê que a Assembleia Geral convoque
uma conferência intergovernamental em seu 72º período de sessões.
Devido à urgência da maioria dos países, em
especial do Grupo dos 77 (G-77), a maior coalizão de Estados em desenvolvimento
além de China e União Europeia (UE), o comitê preparatório estará sob uma
considerável pressão para concretizar as recomendações no prazo previsto. “Mas
também é preciso ser realista”, alertou Kohona, que encabeçou a Seção de
Tratados da ONU.
“Algumas potências, como Estados Unidos, Rússia,
Japão, Noruega e Coreia do Sul, se mostraram reticentes em se unirem à maioria
dos países durante as negociações do grupo de trabalho. Além disso, eles são os
poucos com capacidade tecnológica para explorar os recursos das profundezas
marinhas”, apontouKohona.Um dos acontecimentos interessantes após os debates
dos últimos dez anos, especialmente depois da cúpula Rio+20, como é conhecida a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável realizada no
Rio de Janeiro, foi a aliança que surgiu entre o G-77, China e UE, disse.
Segundo o embaixador, “a importância para a
humanidade desse processo único da ONU, que criará um órgão normativo transparente
para garantir o progresso econômico e tecnológico com igualdade, fica clara
pelo fato de 90% da biomassa poder ser encontrada nos oceanos”. E“também se tem
a ideia de que alguns ambientes oceânicos devem ser áreas protegidas para
garantir a conservação dos recursos. Acredita-se que a vida teve origem nos
primeiros oceanos. Nosso futuro também pode depender deles”,acrescentou.
Kohona explicou à IPS que, no tocante à duração das
negociaçõese ao prazo para concretizar o tratado final, as negociações sobre o
direito do mar levaram muito tempo. A Convenção do Direito do Mar demorou mais
de dez anos, primeiro sob a liderança do embaixador do Sri Lanka, Hamilton
Shirley Amerasinghe, e depois com a do embaixador de Cingapura, Tommy Koh.
“Membros importantes da comunidade internacional,
entre eles, Estados Unidos, Turquia e Venezuela, não integram a Convenção do
Direito do Mar, embora se considere que a maioria de suas disposições fazem
parte do direito internacional consuetudinário”, pontuouKohona.
Por sua vez, a organização PewCharitableTrusts
afirmou em um comunicado à imprensa que, no momento, um conjunto de mecanismos
de gestão responde pela regulamentação da navegação, pesca e extração em áreas
comuns, apesar de não existir uma estrutura coesa que garanta que certas áreas
de alto mar estejam protegidas e a salvo das atividades humanas.O comitê
preparatório trabalhará para cobrir os vazios legais no que diz respeito à
gestão das águas internacionais.
O novo tratado também levará à criação de reservas
marinhas, o que permitirá proteger definitivamente significativas zonas com
valor ambiental. “Sem reservas nem áreas protegidas, será virtualmente
impossível concretizar a recomendação do Congresso Mundial de Parques no
sentido de proteger 30% do ambiente marinho, ou ao menos cobrir 10% (das zonas
costeiras marinhas), com o que se comprometeram os países no contexto dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, destacou a organização.
Uma das metas dos 17 ODS se propõe a,“até 2020,
conservar pelo menos 10% das zonas costeiras e marinhas, em conformidade com as
leis nacionais e o direito internacional e com base na melhor informação científica
disponível”.
Fonte: ENVOLVERDE
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