O sumiço
das abelhas.
Cerca de 90% das plantas também dependem de animais
polinizadoresTânia Rêgo/Agência Brasil.
Especialistas alertam para o risco de extinção de
animais polinizadores no mundo.
Por Andreia Verdélio, da Agência Brasil
A preservação de espécies de animais polinizadores
é importante não apenas para a biodiversidade do planeta, mas para garantir a
oferta de alimentos para a população. Mais de três quartos das principais
lavouras de alimentos no mundo dependem, em algum grau, dos serviços de polinização
animal, seja para garantir o volume ou a qualidade da produção e cerca de 90%
das plantas também dependem dessas espécies.
Essas informações e os problemas que cercam os
polinizadores foram estudadas pelos especialistas da Plataforma Intergovernamental de
Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), criada no âmbito das
Nações Unidas. O grupo divulgou um estudo alertando que um número crescente de
espécies de animais polinizadores está ameaçado de extinção em todo o mundo.
O relatório “Polinização, polinizadores e produção
de alimentos”, divulgado durante sessão plenária da IPBES, no último dia 26 de
fevereiro, em Kuala Lumpur, na Malásia, aponta que fatores como a mudança no
uso da terra, a agricultura intensiva, o uso indiscriminado de pesticidas e
alterações climáticas estão colocando em risco a biodiversidade dos
polinizadores e, em consequência, a produção de alimentos, o equilíbrio dos
ecossistemas, a saúde e bem-estar das pessoas e a economia global.
Os polinizadores mais conhecidos são as abelhas,
mas há também outras espécies, como moscas, borboletas, besouros, pássaros,
morcegos e alguns vertebrados, como lagartos e pequenos mamíferos.
Além de borboletas e abelhas, outras espécies como
moscas,besouros, pássaros, morcegos e alguns vertebrados também são
polinizadoresTânia Rêgo/Agência Brasil.
Insuficiência de dados
A professora sênior do Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo, Vera Fonseca, uma das coordenadoras do relatório,
explica que, apesar de não haver uma avaliação em nível global, por
insuficiência de dados, os estudos disponíveis mostram que 16,5% dos
polinizadores são ameaçados com algum nível de extinção, e cerca de 30% deles
estão em ilhas.
“No Brasil, temos cinco espécies de abelhas que são
consideradas ameaçadas em nível nacional. Temos também listas regionais como no
Rio Grande do Sul, por exemplo, e temos vários lugares onde não há
absolutamente dado algum sobre monitoramento e avaliação de polinizadores. Nós
temos muitas falhas no conhecimento nesse caso”, disse Vera, explicando que é
preciso estudar melhor essas populações para fazer políticas específicas de
tirar essas abelhas da lista vermelha de extinção.
O incentivo às coleções biológicas, o trabalho de
museus e a formação de taxonomistas é importante, segundo a professora, para
montar uma base de dados de estudo, avaliação e proposição de políticas
públicas e ações futuras.
“Nem sabemos direito quais são os polinizadores
silvestres de cada cultura, então cada vez que se tem um uso inadequado de
pesticidas, por exemplo, isso prejudica também a fauna local. Isso precisa ser
estudado e avaliado para unirmos não só o controle de pragas, que a agricultura
precisa, mas também as boas práticas de uso e conservação de polinizadores e
medidas de mitigação se necessário”, explicou a professora.
Aumento da produtividade agrícola
Vera diz que entre as espécies cultivadas no Brasil
que dependem ou são beneficiadas pela polinização animal estão o açaí,
maracujá, abacate, tomate, mamão, dendê, a maçã, manga, acerola, e muitas
outras frutas, além da castanha-do-pará, do cacau e do café. Soja, algodão e
canola também produzem mais quando suas lavouras são visitadas por
polinizadores.
“Muitas vezes esses vários polinizadores vêm de uma
área preservada perto de uma cultura agrícola. Temos muitos polinizadores
importantes para serem usados na agricultura e eles têm um valor grande para a
nossa produção”, disse, contando que a riqueza gerada com auxílio dos
polinizadores no Brasil foi estimada em torno de US$ 12 bilhões.
Soja, algodão e canola produzem mais quando suas
lavouras são visitadas por polinizadores. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil.
Plantação de soja
O desenvolvimento de uma agricultura mais
sustentável é uma das medidas necessárias para reverter esse quadro, com a
diversificação das paisagens agrícolas e a redução do uso de pesticidas. É
possível ainda manejar espécies de abelhas próximo às lavouras, para aumentar a
diversidade e a combinação com espécies silvestres. “No Brasil temos cerca de
1,8 mil espécies de abelha, além das outras espécies de polinizadores
manejáveis”, disse Vera.
A professora explicou ainda que, à medida que a
população vai crescendo e necessitando de mais alimentos, a expansão agrícola
vai colocando a conservação sob pressão. “Uma produção maior em menor área é
tudo que os conservacionistas também querem. E nossa grande ferramenta para
isso é o uso dos polinizadores”, explicou.
O relatório sobre os polinizadores é o primeiro de
uma série de diagnósticos sobre a situação da biodiversidade no planeta,
previstos para serem divulgados pelo IPBES até 2019. O grupo de especialistas
divulgou ainda um sumário direcionado aos formuladores de políticas públicas, a
ser enviado aos países.
“Nesse sumário estão estratégias que poderiam ser
usadas para políticas de conservação, informações sobre como promover as
condições para a vida dos polinizadores, como transformar as paisagens
agrícolas e como fazer a aproximação entre a sociedade, a natureza e os polinizadores”,
disse a professora.
* Edição: Fábio Massalli.
** Publicado originalmente no site Agência Brasil.
Animais polinizadores, abelhas, borboletas,
espécies em risco de extinção, pesticidas, alterações climáticas.
Fonte: ENVOLVERDE
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