Política
e democracia na escola.
Foto: Shutterstock
Veja dicas de vídeos e materiais que podem ser
usados para discutir temas como democracia, impeachment e direitos humanos com
alunos.
Por Marina Lopes e Maria Victória Oliveira, do
Porvir –
Nas últimas semanas, a crise política brasileira
monopolizou noticiários, virou tema de conversas – e até brigas – entre amigos
e familiares e repercutiu nas redes sociais. Diante de tantas discussões e
incertezas, também entrou nas salas de aula, mesmo quando os professores não
planejaram abordar o tema. Mas a política deve ser tema de sala de aula?
Especialistas consultados pelo Porvir dizem que sim e defendem a importância de
tratar, no contexto atual, de questões relacionadas ao funcionamento das
instituições políticas, princípios da democracia e cidadania.
Pedro Markun, um dos autores do livro Quem Manda
aqui?, que discute alguns mecanismos políticos de forma leve, colorida e
própria para crianças, é um dos que defende tratar do assunto desde cedo . “Eu
acredito que quando a gente conversa com a criança sobre qualquer coisa, ela se
instrumentaliza para entender melhor esse assunto”, afirma Markun, que faz
parte do Laboratório Hacker.
Ele conta que, quando sua primeira filha nasceu,
pensou como iria conversar sobre política com ela. Em contraponto, defende que
“é uma burrice pensar que crianças não conseguem conversar sobre assuntos
complexos. Você fala de política com seu filho, só não percebe”. A ideia do
livro Quem Manda Aqui?, portanto, é ser um instrumento para que as famílias
consigam iniciar o debate com seus filhos. “Criar mecanismos que facilitam um
primeiro ponto de contato com a política é extremamente saudável”.
Além disso, Markun ressalta que é preciso mostrar
aos pequenos que, apesar de ser um campo complexo, onde existem divergências de
pensamento, a educação política é o melhor caminho para formar adultos
conscientes. “É muito importante que a gente comece a educar as crianças
politicamente desde cedo, senão a gente vai ter uma classe adulta política igual
a de hoje, de adultos despreparados para falar sobre política, raivosos e que
não conseguem discutir amigavelmente com o coleguinha”.
E como aproximar crianças e adolescentes desse
debate? Para Bruno Bissoli, cofundador e educador do Pé
na Escola, um negócio social voltado para educação em direitos e
democracia, os alunos já demonstram naturalmente interesse em temas como
direitos humanos e política. No entanto, a escola precisa abrir espaço para que
eles possam se expressar. “Isso é essencial para o exercício da nossa
cidadania, mas desde sempre acabamos tendo que aprender como autodidatas. A
escola se mantém muito distante disso, sendo que é uma matéria essencial para
que a gente atue como um cidadão pleno”, reflete.
Antes de inciar um diálogo sobre o tema, a também
cofundadora Vanessa Pinheiro afirma que os educadores devem sair da posição de
quem tem a verdade, para ouvir o que os estudantes têm a dizer.
“O professor
também tem um papel de trabalhar dentro de si os seus próprios preconceitos e
discursos que ele está reproduzindo”, afirma. Segundo ela, uma estratégia
interessante é incentivar que os alunos possam criar suas próprias regras
internas para que o debate possa dar espaço a todos.
Ao dar voz para os alunos, os educadores devem se
colocar em uma posição de mediador. De acordo com Mariana Vilella, cofundadora
e educadora do Pé na Escola, eles precisam analisar se a conversa está fluindo
de forma democrática e se todos estão conseguindo colocar o seu posicionamento.
“O educador tem um papel bastante importante de mediar o diálogo, uma coisa que
está faltando tanto na política e na educação”, explica.
Em tempos de discussões acirradas, Mariana menciona
que é importante tornar o debate mais complexo, saindo de uma divisão
polarizada entre bem e mal, para tentar entender como existem outras leituras
da realidade. “Temos que colocar o estudante em uma posição que não é
confortável para ele e forçar que ele também se coloque no lugar do outro”,
afirma. Ela também defende que a escola não fique apenas no diálogo sobre
política, mas também proponha a criação de projetos e pesquisas que possam
refletir essa lógica de participação democrática. “Mais do que passar
conceitos, a nossa preocupação principal é passar uma mensagem sobre o que é o
pensar e o agir politicamente.”
Para os educadores que desejam abordar assuntos
relacionados a política e democracia, o Porvir também separou alguns materiais
que podem subsidiar a discussão. Confira a lista:
Da cédula de papel ao sensor biométrico, o
infográfico interativo mostra a evolução do voto ao longo da história história.
A linha do tempo começa em 1889, no período da República Velha, e passa por
diferentes momentos, como a criação do envelope oficial para cédula (1930) ou a
informatização do sistema (1985).
Em uma série de cinco games, são apresentadas
movimentações políticas nacionais e elementos da democracia de forma divertida.
Com uma linguagem de histórias em quadrinhos, o jogo Agentes do Destino analisa
causas e consequências de períodos históricos desde a Revolução de 30 até os
dias atuais.
Desenvolvido pelo Ministério Público Federal, o
site Turminha do MPF traz diversos conteúdos que explicam temas como eleições,
para que servem as leis e direitos das crianças. O site ainda conta com uma
série de jogos e atividades, além de uma seção que explica o significado de
termos como administração pública e corrupção.
O portal Plenarinho é um canal da Câmara dos
Deputados voltado para o universo infantil. O site traz notícias, jogos,
indicações de leitura e animações que explicam sobre o funcionamento da Câmara
dos Deputados, o que é um projeto de lei, entre outros temas.
A série “E eu c/ isso?” explica, de forma simples e
rápida, como funciona o sistema político brasileiro. Ao todo, são quatro vídeos
curtinhos (o maior deles tem três minutos) que, com a ajuda de desenhos, explica
as esferas de poder (executivo, legislativo, judiciário), quem faz parte de
cada um deles e quais são seus papéis. O personagem principal é o João que, ao
longo da série, vai entendendo seu papel político.
Para os fãs de vídeos, o canal Política sem
mistérios também explica o assunto de forma bem didática. A maioria dos 25
vídeos traz ilustrações coloridas, com direito a bonequinhos de políticos, que
ajudam a abordar temas desde os mais simples até os mais complexos. O que é
política, a diferença entre Câmara, Senado e Congresso, o que é o marco civil,
lei antiterrorismo e a diferença entre referendo e plebiscito estão na lista.
Acompanhando temas que estão em discussão na agenda
política nacional, o Politize traz explicações sobre termos e acontecimentos de
Brasília. Com o objetivo de levar educação política, o site produz conteúdos em
uma linguagem acessível e descomplica assuntos como corrupção, política externa
e funcionamento dos três poderes.
O vídeo produzido pela Agência Pública apresenta o
passo a passo de um processo de impeachment, tema que tem aparecido com
frequência nos noticiários ou até mesmo em discussões. Por meio de animações,
ele também mostra qual seria uma eventual linha de sucessão do governo em caso
de impeachment.
Se você quer fazer uma votação de forma mais
parecida com uma eleição, precisa conhecer o Apertaquem. Trata-se de uma urna
eletrônica para Windows que pode ser usada em enquetes ou até mesmo em eleição
de grêmios estudantis. No site, estão disponíveis as versões gratuita e premium
que, para escolas públicas, sai por R$ 24,00.
Criado a partir de seis oficinas realizadas com
crianças de São Paulo e Ouro Preto, em Minas Gerais, o livro Quem Manda aqui? é
o primeiro de uma série de livros infantis sobre política, especialmente para
os pequenos. Disponível gratuitamente online e nas livrarias, o livro,
iniciativa do Laboratório Hacker, foi inicialmente financiado por uma campanha
de financiamento coletivo.
Apesar de ter sido proclamada em 1948, muita gente
ainda não conhece todos os 30 direitos e liberdades listados na Declaração dos
Direitos Humanos. Entretanto, o estudo desse documento é importante para que as
crianças conheçam seus deveres, responsabilidades e saibam o que espera-se de
um cidadão consciente.
Fonte: Porvir
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