Um passo
para o futuro.
Instalação de placas solares na Terra Indígena
Sawré Muybu, do povo Munduruku, mostra o caminho da energia verdadeiramente
limpa. Foto: © Otávio Almeida/Greenpeace.
A não construção da hidrelétrica no Tapajós aponta
um caminho para o setor elétrico brasileiro, que vai em direção ao futuro e
passa muito longe da energia suja das termelétricas.
Por Redação do Greenpeace Brasil –
Os entusiastas da energia hidrelétrica estão
tentando mostrar o cancelamento de São Luiz do Tapajós, no Pará, como algo
extremamente prejudicial ao país, que poderá “sujar” nossa matriz, levando ao
aumento do uso das termelétricas. Isso não é verdade. Pelo contrário, o
cancelamento de São Luiz do Tapajós representa a oportunidade para o Brasil
colocar de vez um pé no futuro e investir nas energias renováveis
verdadeiramente limpas, como a solar e a eólica.
Energia hidrelétrica que custa o desmatamento da
floresta, a morte de milhares de animais que vivem nesses locais, o
deslocamento forçado de pessoas que dependem dos rios para sobreviver, roubando
seu presente, seu futuro e desrespeitando a Constituição, não pode ser
considerada energia limpa.
Nas últimas décadas, devido à abundância de nossos
rios, o país optou por gerar eletricidade a partir de usinas hidrelétricas,
criando assim um modelo “hidro dependente”. Por volta dos anos 2000, quando a
energia das hidrelétricas não foi suficiente e tivemos a crise do “apagão”,
apostou-se na construção de um grande número de usinas térmicas. Em 2014 e
2015, por conta da grave seca que comprometeu a geração das hidrelétricas, as
térmicas ficaram ligadas o tempo todo, o que encareceu – e muito – a conta de luz
do consumidor, sem falar no custo ambiental.
Construir novas hidrelétricas, como São Luiz do
Tapajós, ou as outras previstas para a Amazônia, é justamente perpetuar esse
antigo modelo, que já se mostrou poluente e caro para o consumidor, e que
sempre vai precisar de mais térmicas quando não conseguir atender a demanda.
Por conta desse “vício” nas hidrelétricas, que custa a destruição das nossas
florestas e dos povos que vivem nelas, outras fontes de geração foram
desconsideradas por muito tempo e mesmo hoje são pouco aproveitadas. Para
piorar, atualmente, dados revelam que os efeitos das mudanças climáticas nas
próximas décadas podem levar a reduções nas vazões dos rios amazônicos da ordem
de 20% a 30%, indicando que são grandes as chances dessas usinas não
conseguirem entregar a energia prometida.
Enquanto isso, o mundo caminha em outra direção. Em
2015, a China alcançou dois novos recordes mundiais de energia limpa,
instalando 30,8 gigawatts (GW) em usinas eólicas e 15,2 GW em usinas solares.
Estados Unidos e Alemanha também não ficam muito atrás. Aqui no Brasil, o preço
médio da fonte eólica já caiu cerca de 40% entre 2009 e 2012 e hoje ela já é
uma das mais baratas. Não há mais justificativas para continuarmos protelando o
uso dessas fontes.
Dizer que sem São Luiz do Tapajós precisaremos usar
as termelétricas por mais tempo é o equivalente a dizer que o planejamento
energético do país está paralisado. Ora, se um projeto foi cancelado, é
necessário contratar alternativas que já existem e são verdadeiramente limpas
para substituí-lo, e não usar as térmicas, que foram concebidas apenas para
situações de emergência.
Sabemos que não falta sol e nem vento no país, então
por que não contamos com essas fontes para suprir nossa demanda?
Hoje é possível fazer a substituição do projeto de
São Luiz do Tapajós com uma combinação de usinas eólicas, fotovoltaicas e a
biomassa, que poderiam fornecer toda a energia que era prevista para São Luiz
do Tapajós no mesmo período de tempo e com patamar similar de investimentos.
Para isso basta aumentar em 50% o nível médio de contratação atual dessas
fontes.
Além de possível, apostar nessas novas fontes é
ainda mais vantajoso e torna o sistema mais seguro, pois usinas eólicas,
fotovoltaicas e a biomassa podem trazer energia firme para o sistema e ainda
são descentralizadas, ou seja, produzem energia em muitos lugares e mais perto
dos centros de consumo, diminuindo o alto custo com novas linhas de
transmissão. Como resultado, teríamos um suprimento diverso, deixando de
depender apenas de hidrelétricas ou de combustíveis fósseis. Mas, claro, é
preciso vontade política para investir nessas fontes, em vez de continuar
olhando para o passado. O cancelamento de Tapajós nos deu a oportunidade de
darmos um passo à frente no setor energético, impulsionando o uso de novas e
modernas fontes de energia, e não um passo atrás, como propõe o discurso falso
e ultrapassado das térmicas. Chegou o momento de mudar de vez essa história.
Fonte: Greenpeace Brasil
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