Reflorestamentos
que produzem alimentos.
Uma propriedade de San Luis, na Guatemala. Foto:
FAO Guatemala.
Por Jorge Rodríguez, da IPS –
Projeto tem finalidade de apoiar a diversificação
dos cultivos graças à árvore de moju (Brosimumalicastrum), espécie nativa de
Petén, bem como proporcionar assessoria técnica no cultivo, na colheita e no
consumo da mesma.
Cidade da Guatemala, Guatemala, 25/8/2016 – A
incerteza de embarcar em práticas totalmente desconhecidas é um risco que quase
ninguém na área rural guatemalteca está disposto a assumir. As atividades
agrícolas realizadas nas diferentes comunidades costumam utilizar as mesmas
técnicas, e plantar os mesmos cultivos, que os avós. Mas essa tradição não necessariamente
se traduz em benefícios para as gerações seguintes.
No sul do departamento de Petén, nas comunidades de
San Luis, formadas por 40 a 50 famílias, a maioria se dedica ao plantio de
feijão e milho. As monoculturas, bem como o avanço da fronteira pecuária,
criaram uma paisagem que contrasta com as frondosas florestas que se vê mais ao
sul do departamento. Com o objetivo de reflorestar a área, o Ministério de
Agricultura e Pecuária (Maga) idealizou um programa de incentivos florestais
para as famílias, sem afetar os cultivos tradicionais.
Pedro May Mez é um camponês e agricultor
pertencente à etnia maia q’eqchi’. Quando criança migrou com sua família da
comunidade de Alta Verapaz para Aguapaque, em busca de oportunidade de terra.
Quando chegou junto com sua mãe, seu pai e o avô, sua tarefa era cortar todas
as árvores para poderem semear milho e feijão. “Quando chegamos, fui
encarregado de matar a floresta e desde há muito tempo não há nada aqui. Só
milho e feijão”, contou.
Há dois anos, o Maga, com apoio da Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), iniciou a tarefa de
gerar desenvolvimento para as comunidades e incentivar o reflorestamento da
região. Com essas ideias em mente, foi iniciada a implantação, em 2014, do projeto
de desenho e estabelecimento de Sistemas Agroflorestais, com fundos da
TeleFood, impulsionada pelo Maga e pela FAO.
A finalidade do projeto é apoiar a diversificação
dos cultivos graças à árvore de moju (Brosimumalicastrum), espécie
nativa de Petén, bem como proporcionar assessoria técnica no cultivo, na
colheita e no consumo da mesma.Além disso, o pessoal do Ministério realiza um
acompanhamento dos participantes durante seis anos, para que suas propriedades
sejam certificadas pelo Instituto Nacional de Florestas como terrenos de
reflorestamento, e assim estarem em condições de receber um incentivo que chega
a cerca de US$ 2,3 mil, por esse mesmo período de tempo.
“Os incentivos florestais funcionam como geradores
de desenvolvimento para as famílias, sem tirar produtividade de suas terras”,
apontou Aldo Rosales, diretor de Recursos Naturais e Agroturismo do Maga. Esse
órgão governamental conta com um viveiro próprio, em Poptún, com inventário de
300 mil plantas de espécies de moju, mogno e cedro, e distribui as mudas entre
as famílias participantes do programa.
O primeiro passo do programa é a escolha das
famílias, que passam por uma série de capacitações técnicas para poderem
integrar os novos cultivos às suas terras. Em seguida recebem 160 mudas que
plantam no terreno. A partir daí são dadas palestras e capacitações para
mantertodas as árvores em bom estado.Depois de seis anos, a árvore de moju já
produz sementes e é nesse momento que pode ser aproveitada pelas famílias
participantes, já que é utilizada tanto para consumo humano como de animais
como vacas, cavalos e outros.
O Ministério também proporciona capacitação às
famílias para aprenderem como incorporar omoju à dieta familiar.Além disso,
incentiva-se a plantação de outros cultivos como moringas, com uma carga
proteica de 24%, que são aproveitados como suplementos alimentareseficazespara
essas famílias com recursos limitados. “As ramas têm até 23% de valor proteico.
Isso é mais de 20% que o pasto normal.
As famílias podem fazer acordos com os
pecuaristas locais para realizar atividades de colheita das folhas de moju”,
explicou Rosales.
Após anos cortando árvores para dar lugar ao milho
e ao feijão, dom Pedro vê esse projeto como uma nova oportunidade para ele e
sua família de recuperar algo que todos necessitamos: árvores. “É um projeto
muito bom. Faz muito calor, não temos sombra e não há água. Agora em minhas
terras teremos de tudo, até madeira. Antes existia a tentação de ir roubar
madeira. Mas agora contaremos com nossas próprias árvores e não faremos coisas
ruins”, ressaltou.
Rosales assegurou que um dos objetivos, que se
contrapõe ao conceito tradicional de reflorestamento, é recuperar uma espécie
nativa, como o moju, que gere sustento para as 13 famílias que atualmente
integram o programa. “Estamos implantando um programa de reflorestamento que
gera alimentos. A ideia é aproveitar o solo ao máximo”, indicou o especialista.
No terreno de dom Pedro pode-se ver milho, feijão, moringa e cacau ao lado das
árvores de moju com um ano de crescimento.
Durante os seis anos pelos quais se estende o
programa, será dividido o valor deaproximadamente US$ 2,4 mil,em pagamentos
anuais proporcionais. No final de 2015, os participantes receberam seu primeiro
incentivo florestal, de US$ 1 mil. A quantia vai diminuindo paulatinamente até
completar a totalidade do incentivo.
Ricardo May Ché, filho de dom Pedro, também faz
parte do programa. Tem uma área ao lado da de seu pai e já investiu o dinheiro
em objetos de benefícios para sua família. “Compramos sapatos para meus filhos,
um painel solar, que nos ajuda a carregar os telefones e dar um pouco de
eletricidade às nossas casas, e uma vaca, que em caso de necessidade podemos
vender no mercado”, contou. Seu pai comprou um touro para poder ter sua própria
criação de gado e assim aumentar a produção de seu trabalho cotidiano.
Outro fator a ser considerado é que são os próprios
camponeses que cuidam da fertilização e do solo com seus próprios meios. Em
geral, utilizam mato como fertilizante e um sistema de irrigação natural.
*Este artigo foi publicado originalmente pelo
escritório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO) na Guatemala. A IPS o distribui por acordo especial de difusão com a FAO
Guatemala.
Fonte: ENVOLVERDE
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