Chile
deve descarbonizar modelo econômico.
Área de fundição da mina El Teniente, da estatal Corporação Nacional do Cobre
(Codelco), localizada a 1.880 metros de altitude, nas proximidades de Rancagua,
ao sul de Santiago do Chile. O modelo de exploração de recursos naturais com
intensivo uso de hidrocarbonos está em crise no país.
Foto: Marianela
Jarroud/IPS
O Chile está perto de esgotar seu modelo econômico
baseado na exploração de recursos naturais com uma base energética centrada em
hidrocarbonos, e deverá tomar medidas urgentes para alcançar sua meta de
reduzir suas emissões contaminantes em 30% até 2030, segundo uma nova avaliação
ambiental.
Por Orlando Milesi, da IPS –
Santiago, Chile, 1/8/2016 – Mauricio Pereira,
pesquisador da Divisão de Desenvolvimento Sustentável e Assentamentos Humanos
da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), acredita que o
“Chile fez grandes progressos em termos de institucionalidade ambiental”.
“Foram criados o Ministério do Meio Ambiente, o
serviço de avaliação de impacto ambiental e o Conselho de Ministros para a
Sustentabilidade”, integrado por dez ministérios, contou Pereira à IPS. Mas,
acrescentou, “falta a criação dessas instituições se refletir na implantação de
medidas mais rigorosas, a fim de mitigar todos os efeitos que atingem o
ambiente”.
Pereira é um dos participantes da elaboração da
segunda Avaliação de Desempenho Ambiental (EDA) do Chile, apresentado no mês
passado na sede da Cepal, em Santiago, que recomenda ao país que aproveite seu
alto potencial de energias renováveis não convencionais para descarbonizar seu
modelo econômico.Segundo o especialista, o crescimento chileno “está focado
principalmente em função da extração, exploração e exportação de recursos
naturais, e isso gera diversas pressões sobre o ambiente, o ar e a água”.
O informe, realizado pela Cepal e pela Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), contém 54
recomendações para fomentar uma economia mais verde e melhorar a governança
ambiental, com ênfase nas políticas relativas a mudança climática, diversidade
biológica e recursos hídricos, entre outros.“O Chile é uma potência econômica
da América Latina, e a pergunta dos próximos 25 anos é se poderá manter esse
crescimento protegendo, ao mesmo tempo, sua base de ativos ambientais”,
afirmou, durante a apresentação do documento, o diretor de Meio Ambiente da
OCDE, Simon Upton.
Dentro do Acordo de Paris para conter o aumento da
temperatura do planeta, alcançado em dezembro de 2015, o Chile se comprometeu a
reduzir, até 2030, suas emissões de gases-estufa em 30% em relação ao nível de
2007, como parte de sua contribuição nacional determinada para o objetivo
mundial. Essa meta poderia aumentar para 35% a 45% no caso de obter
aportes monetários internacionais para sua concretização.
“Há quem considere que nosso compromisso é
insuficiente, mas é com o que podemos nos comprometer hoje, entendendo a
situação econômica em que se encontra o país e o mundo. Trata-se de um
compromisso sério e responsável. E, obviamente, se a situação econômica
melhorar estabeleceremos metas mais ambiciosas”, declarou a presidente chilena,
Michelle Bachelet, à IPS, em uma entrevista concedida em dezembro do ano
passado.
A contribuição chilena possui um plano de adaptação
que inclui, entre outras coisas, o reflorestamento de mais de cem mil hectares
de floresta nativa e um programa de eficiência energética. Para avançar em seu
objetivo, Bachelet estabeleceu, em dezembro de 2015, uma Política Energética,
onde estima viável que, em 2050, 70% da geração de energia no Chile provenha de
fontes renováveis.
Moinhos de vento em Calama, no deserto de Atacama,
norte do Chile. O país possui alto potencial em energias renováveis não
convencionais, mas os projetos para seu desenvolvimento podem ser afetados pela
queda dos preços do cobre, fonte de seu financiamento. Foto: Marianela
Jarroud/IPS
Atualmente, dos 19.725,72 megawatts (MW) de
potência instalada no Chile, 58,4% provém de geração a diesel, carvão e gás
natural, enquanto o restante corresponde a energias renováveis que incluem, em
sua grande maioria, a mega-hidroeletricidade.Apenas 13,5% do total corresponde
a energias renováveis não convencionais, como eólica (4,57%) solar fotovoltaica
(3,79%), mini-hidrelétricas (2,8%) e biomassa (2,34%).
“No campo da energia elétrica, há uma mudança
causada pela sociedade civil, que queria provocar um giro às energias
renováveis não convencionais”, explicou à IPS o ecologista Juan Pablo Orrego.
“Estão florescendo no Chile, finalmente, as energias solar e eólica. O problema
é que se continuarmos perseguindo a fase de produtividade primária, as
renováveis não convencionais poderão passar a ser nosso próximo pesadelo.
Deve-se administrar o lado da demanda da energia elétrica, como reduzir a
demanda e o consumo”, acrescentou.
Nessa linha, o ministro de Meio Ambiente, Pablo
Badenier, recordou à IPS há alguns meses que “70% das emissões de gases-estufa
no Chile provêm do setor energético. Portanto, são os compromissos em energia
que nos permitirão chegar ao compromisso de redução de 30% das emissões até
2030”.O Chile é um responsável menor pelas emissões globais de gases-estufa,
com apenas 0,2%. Mas, entre 2000 e 2010, essas emissões aumentaram 23%, cifra
que supera a média dos membros da OCDE, que agrupa 34 países com grandes
economias, entre eles Chile e México pela América Latina.
Além disso, o Chile continua registrando altos
níveis de contaminação atmosférica, especialmente em Santiago, com impactos
negativos para a saúde da população. Devido a isto, o segundo EDA recomenda ao
Chile aumentar as taxas tributárias sobre o diesel e a gasolina, ou aumentar o
imposto das emissões de carbono que sejam produzidas por estabelecimentos cujas
fontes fixas somem uma potência térmica maior ou igual a 50 MW, explicou
Pereira.Adicionalmente, os veículos automotores novos, leves e médios, deveriam
pagar um imposto relacionado com as emissões de óxidos de nitrogênio.
O informe também sugere “aumentar o grau de
fiscalização e a se ter mais informação à disposição da comunidade, isto é,
implantar a democracia ambiental”, apontou o especialista.
Para Orrego, ganhador do Prêmio Nobel Alternativo
(1998), concedido pela Fundação Right Livelihooden, “o Chile parece uma vitrine
de quase todos os problemas socioambientais que estão afetando toda a
humanidade. Pode ser visto como um país de sacrifício, com as pessoas
respirando ar carregado de metais pesados e com grande contaminação, por
exemplo. Há um problema estrutural para um desenvolvimento genuinamente
sustentável no social e no ecológico”.
A seu ver, “esse problema é um modelo baseado em
uma fase destrutiva primária, com megamineração, pesca industrial e de arrasto,
e plantações de pinheiros e eucaliptos, que são espécies de crescimento rápido
que provocam um desastre social e ambiental”.Contudo, um grande desafio para o
Chile agora se centra na queda do preço do cobre, a principal riqueza do país,
que impulsionou, por exemplo, a maior parte do investimento em energias limpas
na última década.
Neste cenário, como uma forma de acelerar o
investimento privado no contexto econômico adverso, a Comissão Assessora
Presidencial para a reforma do Sistema de Avaliação de Impacto Ambiental
entregou, no dia 25 de julho, um documento contendo 25 propostas para modificar
esse questionado sistema.A ideia do governo é revisar e otimizar instrumentos,
normas e instituições para facilitar o investimento e também emitir um sinal de
maior transparência e participação da sociedade.
Fonte: ENVOLVERDE
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