Aquecimento
ameaça esportes no Brasil.
Atleta salta em pista no Tocantins, um dos Estados
que poderão ter restrições à prática de esportes num cenário de altas emissões.
Foto: Roberto Castro/Ministério do Esporte.
Calor excessivo previsto para o país nas próximas
décadas aumentará risco à saúde de atletas e dificultará quebra de recordes; 12
capitais poderão ter restrição à prática esportiva no fim do século.
Por Redação do Observatório do Clima –
A mudança climática já está afetando e afetará
ainda mais nos próximos anos a prática de esportes no Brasil. Como ficou
evidente ainda nos eventos-teste para a Olimpíada do Rio, o calor excessivo
tende a prejudicar o desempenho dos atletas, impedindo a quebra de recordes. Em
casos extremos, colocará suas vidas em risco.
Essa é a principal conclusão do relatório Mais Longe do Pódio – Como as Mudanças
Climáticas Afetarão o Esporte no Brasil, lançado pelo Observatório
do Clima, que coletou dados de pesquisas sobre o tema ao redor do mundo e ouviu
médicos do esporte, preparadores físicos e atletas.
Além da maior atenção e tecnologia voltada à saúde
e à adaptação térmica dos atletas antes, durante e depois das competições, as
mudanças climáticas estão impondo alterações nos calendários e horários das
provas. Nesta Olimpíada, por exemplo, os seis jogos de futebol da Arena da
Amazônia, em Manaus, foram remanejados para as 18h devido ao forte calor das
13h, horário previsto inicialmente. Na Copa de 2014, duas partidas precisaram
de tempo técnico quando a chamada temperatura de bulbo úmido nos estádios de
Fortaleza e Manaus atingiu 32°C.
No caso da Rio2016, os eventos-teste já mostraram o
impacto do aquecimento global. Em pleno inverno, triatletas da prova masculina
largaram sob um calor de 35°C e uma umidade relativa do ar de 70%. Na prova de
marcha atlética, realizada em um final de semana de fevereiro com 41% de
umidade do ar e temperatura de 38°C, 11 dos 18 participantes sucumbiram. Em
2015, um jogo de futebol feminino no Piauí precisou ser interrompido depois que
nove jogadoras passaram mal por excesso de calor.
No futuro, caso não se cumpram as metas do Acordo
de Paris, essas cenas deverão se tornar mais comuns. O relatório usou dados de
modelos globais de clima para montar um mapa do risco à prática esportiva nas
capitais brasileiras no final do século. A conclusão é que, no pior cenário de
emissões estabelecido pelo IPCC (o painel do clima da ONU), 12 delas terão
períodos do ano impróprios à prática de qualquer atividade física ao ar livre –
em Manaus, caso extremo, a restrição ocorrerá no ano inteiro.
“O que esses dados mostram é que o risco de atletas
literalmente morrerem de calor, algo que já acontece hoje, será multiplicado no
Brasil nas próximas décadas caso não se reduzam dramaticamente as emissões
globais”, disse Claudio Angelo, do Observatório do Clima, coordenador do
relatório. “É claro, estamos falando de esportes aqui, mas na verdade qualquer
trabalho ao ar livre poderá ser impactado, o que demandará um esforço brutal de
adaptação do setor de esportes e de outras atividades econômicas.”
“Os atletas já estão sentindo os efeitos das
mudanças climáticas na prática. Daí a importância da campanha ‘1,5° C: o
recorde que não devemos quebrar’, a qual chama a atenção para o limite máximo
de aquecimento global que podemos suportar. Acima disso, o risco é grande
demais”, alerta Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Associada à saúde, a prática de esportes pode se
tornar exatamente o oposto por conta da poluição atmosférica, problema que tem
a mesma origem do aquecimento global: a queima dos combustíveis fósseis. Como o
volume respiratório aumenta durante os exercícios, o atleta – profissional ou
amador – pode tragar mais dióxido de enxofre, particulados finos e outros
compostos que provocam danos imediatos aos pulmões. Especializado em atividade
física adaptada, Luzimar Teixeira, da Escola de Educação Física e Esporte da
USP, prevê uma geração relativamente jovem de ex-atletas com problemas
respiratórios graves, como se fossem doenças laborais. E, sarcástico, avisa que
em dias quentes e locais poluídos, é mais saudável sair para beber cerveja (à
sombra) do que fazer esportes ao ar livre. Ou seja, não são só os atletas de
elite que participam das grandes competições que precisam se cuidar:
esportistas amadores e de final de semana precisam igualmente rever onde e
quando praticam atividades físicas.
Fonte: Observatório do Clima
Nenhum comentário:
Postar um comentário